Nem
todos gostam de esportes. E é muito legal que seja assim, porque a diversidade
é obra divina. Mesmo no futebol, as reações dos torcedores vão de indiferentes,
discretas, moderadas e fanáticas até radicais, impulsionadas pela paixão. Assim
agem as torcidas de corinthianos, sãopaulinos, palmeirenses, santistas,
flamenguistas, vascaínos, gremistas, colorados, cearenses, galistas,
cruzeirenses e baianos, entre centenas de times gloriosos de norte a sul do
Brasil. Quando se trata de seleção brasileira, mesmo as pessoas sem afinidade, costumam
torcer, contagiadas pelo amor à Pátria.
Somos
um país com fonte inigualável de atletas que nascem predestinados ao sucesso. Como
esquecer os saudosos Leônidas, Zizinho, Baltazar, Julinho, Oberdan, Nilton
Santos, Sócrates e Carlos Alberto (Capita), entre outros? Há também os
admiráveis Bellini, Zito, Gerson, Zico, Jairzinho, Ronaldo, Ronaldinho, Kaká e
o monstro sagrado Pelé que simboliza a riqueza futebolística brasileira. Faz
sentido sermos pentacampeões do mundo e continuarmos essa vitoriosa caminhada.
Temos o principal produto, a riqueza inesgotável de jogadores que só precisam
de aprimoramento e comando. Porém, ciclicamente, entramos em parafuso. A última
conquista, o penta, se deu em 2002. De lá para cá, só decepções até chegar ao
ápice de sermos desclassificados na Copa do Mundo de 2014, em pleno Estádio do
Maracanã, na nossa casa. E pior, humilhados com uma derrota fragorosa de 7 a 1 para
Alemanha. É uma ferida que cicatrizará, mas jamais será esquecida.
Creio
mesmo que Deus seja brasileiro. Somos uma potência incomparável em dimensão
territorial, clima, recursos hídricos, minerais, vegetais e animais. Estamos
livres de terremotos, maremotos, tsunamis, tufões e vulcões. Há gente ordeira,
fraterna e obreira que superou inimagináveis dificuldades da era escravagista.
E, orgulhosamente, constituiu uma sociedade multirracial e multicultural.
Apesar da desigualdade social, isso é maravilhoso! Ocorre que vivemos o mesmo
parafuso enfrentado pela seleção canarinho de futebol. A crise econômica já
resulta em 12 milhões de desempregados, associada a um mar de corrupção sem
precedentes.
A
história nos ensina que, enquanto sociedade, vivemos tempos de prosperidade e
de colapso em todos os setores. Seja no futebol, seja na Nação. Porém, dadas as
potencialidades nacionais, as crises deveriam ser breves e suaves. Jamais,
duradouras e dramáticas. Cristalinamente, nos dois casos, as crises originam-se
da péssima gestão: sem renovação, ineficiente, irresponsável, insensível,
manipulada, antiética e imoral, somente visando os interesses individuais,
grupais, políticos, partidários e ainda, por incrível que pareça, com grande
dose de vaidade e populismo. Em grande parte, o problema se agiganta pela
ausência do povo no acompanhamento da gestão.
Infelizmente,
no Brasil, a mudança para superar crises só começa em última instância, diante
da absoluta necessidade, que leva o povo às ruas. Mas, segundo os ditados, “antes
tarde do que nunca” e “água mole em pedra dura tanto bate até que fura”,
estamos no limiar de transformações extremamente reais e positivas.
Vejamos
o futebol. Há cartolas corruptos presos ou prestes a ajustar contas com a
Justiça, como o ex-presidente e atual comandante da Confederação Brasileira de
Futebol (CBF), José Maria Marin (ex-governador paulista), e Marco Polo Del
Nero. Após a desastrosa era Felipão e o ineficiente comando técnico de Dunga,
com a seleção ameaçada de exclusão da Copa 2018, na Rússia, eis que,
finalmente, vem a luz: Adenor
Leonardo Bacchia, o conhecidíssimo
Tite, chega para dirigir a seleção.
Líder
carismático, determinado, dedicado, humilde e profundo conhecedor do assunto, Tite
revoluciona a imagem e o rumo do futebol nacional. Emérito esportista,
professor de educação física, transformou-se com justiça em unanimidade
nacional. Desde que assumiu, em 20 de junho último, foram seis jogos e seis
vitórias. O Brasil saiu da lanterna e foi para o 1º lugar. Faltando ainda
quatro jogos, só precisa de um empate para a classificação na Copa do Mundo
2018.
Esse
gaúcho de 55 anos, nascido em Caxias do Sul, ralou muito para chegar à posição
de técnico vencedor. Lutou, trabalhou, estudou e continua, conforme suas
palavras, aprendendo e aprimorando a difícil atividade de técnico de futebol.
Além de extraordinário conhecimento técnico, determinação e humildade, Tite
domina a tarefa mais complexa que é o relacionamento humano. Sincero e
transparente, sabe se colocar diante dos cartolas e, principalmente, junto aos
jogadores. Conduz o processo com maestria. É sensível à diversidade e
individualidade de cada ser humano. Motiva a equipe para ser a representante
máxima da população e da Pátria, por meio do futebol.
"Não à toa, o povo diz que 'o campeão voltou' e, como nunca, ovaciona: 'Tite, Tite, Tite!'" |
Embora
tenhamos gênios da bola, como o excepcional Neymar, Tite constrói uma seleção
não dependente de um guerreiro. Aplica o simples “Um por todos e todos
por um”, cultivando verdadeiros mosqueteiros que primam pelo jogo coletivo e
solidário em todos os sentidos. O técnico enaltece o desempenho e a importância
de cada membro da sua comissão técnica. Sem vaidade, com sincera e espontânea
demonstração de senso coletivo, divide os louros das vitórias. Essa tem sido sua
postura nas seis incontestáveis vitórias. Resgatou a alegria, a paixão, o amor
e orgulho de sermos novamente os magos da bola. Não à toa, o povo diz que “o
campeão voltou” e, como nunca, ovaciona: “Tite, Tite, Tite!”
Guardadas
as proporções, pode-se comparar a situação do quadro futebolístico com os
campos público e privado da Nação. Embora tênue, vislumbra-se uma luz no fundo
do túnel. Com a Operação Lava Jato, dezenas de governantes, políticos,
empresários e doleiros são presos. Entre outros, José Dirceu, Eduardo Cunha,
Garotinho, Sergio Cabral, Marcelo Odebrecht e Léo Pinheiro. Numa ação destemida
do juiz federal Sérgio Moro e apoio total do Ministério Público Federal e da Polícia
Federal efetiva-se uma limpeza das atividades ilegais. As pedaladas fiscais
levam ao impeachment da presidente Dilma Rousseff e a consequente posse de
Michel Temer. Apesar de incontáveis dificuldades advindas do carcomido e
arcaico sistema político-partidário e administrativo, ele trabalha pela
superação da grave crise.
É
profundamente difícil o momento em que vivemos. Mas, creio que com compreensão, solidariedade, união e efetiva
participação do povo, haveremos de resgatar a esperança e o bem-estar a que
temos direito. Oremos para que personalidades responsáveis e eficientes, como o
nosso Tite, sejam implacáveis na aplicação de políticas públicas pautadas pela
austeridade, responsabilidade, civismo e amor ao Brasil e a nossa gente. Que
trabalhem intensamente para recolocar o País nos eixos da prosperidade. Sem
vaidades nem idolatria. Apenas com competência, sensibilidade e dedicação.
Assim, quem sabe, como no futebol, voltemos a ovacionar não alguém, mas o nosso
Brasil.
Junji Abe é líder rural, foi deputado federal pelo PSD-SP (fev/2011-jan/2015) e prefeito de Mogi das Cruzes (2001-2008)
Crédito da foto:
Jovino Souza
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