quinta-feira, 17 de novembro de 2016

Tite, Temer e o Brasil

Nem todos gostam de esportes. E é muito legal que seja assim, porque a diversidade é obra divina. Mesmo no futebol, as reações dos torcedores vão de indiferentes, discretas, moderadas e fanáticas até radicais, impulsionadas pela paixão. Assim agem as torcidas de corinthianos, sãopaulinos, palmeirenses, santistas, flamenguistas, vascaínos, gremistas, colorados, cearenses, galistas, cruzeirenses e baianos, entre centenas de times gloriosos de norte a sul do Brasil. Quando se trata de seleção brasileira, mesmo as pessoas sem afinidade, costumam torcer, contagiadas pelo amor à Pátria.
Somos um país com fonte inigualável de atletas que nascem predestinados ao sucesso. Como esquecer os saudosos Leônidas, Zizinho, Baltazar, Julinho, Oberdan, Nilton Santos, Sócrates e Carlos Alberto (Capita), entre outros? Há também os admiráveis Bellini, Zito, Gerson, Zico, Jairzinho, Ronaldo, Ronaldinho, Kaká e o monstro sagrado Pelé que simboliza a riqueza futebolística brasileira. Faz sentido sermos pentacampeões do mundo e continuarmos essa vitoriosa caminhada. Temos o principal produto, a riqueza inesgotável de jogadores que só precisam de aprimoramento e comando. Porém, ciclicamente, entramos em parafuso. A última conquista, o penta, se deu em 2002. De lá para cá, só decepções até chegar ao ápice de sermos desclassificados na Copa do Mundo de 2014, em pleno Estádio do Maracanã, na nossa casa. E pior, humilhados com uma derrota fragorosa de 7 a 1 para Alemanha. É uma ferida que cicatrizará, mas jamais será esquecida.  
Creio mesmo que Deus seja brasileiro. Somos uma potência incomparável em dimensão territorial, clima, recursos hídricos, minerais, vegetais e animais. Estamos livres de terremotos, maremotos, tsunamis, tufões e vulcões. Há gente ordeira, fraterna e obreira que superou inimagináveis dificuldades da era escravagista. E, orgulhosamente, constituiu uma sociedade multirracial e multicultural. Apesar da desigualdade social, isso é maravilhoso! Ocorre que vivemos o mesmo parafuso enfrentado pela seleção canarinho de futebol. A crise econômica já resulta em 12 milhões de desempregados, associada a um mar de corrupção sem precedentes.
A história nos ensina que, enquanto sociedade, vivemos tempos de prosperidade e de colapso em todos os setores. Seja no futebol, seja na Nação. Porém, dadas as potencialidades nacionais, as crises deveriam ser breves e suaves. Jamais, duradouras e dramáticas. Cristalinamente, nos dois casos, as crises originam-se da péssima gestão: sem renovação, ineficiente, irresponsável, insensível, manipulada, antiética e imoral, somente visando os interesses individuais, grupais, políticos, partidários e ainda, por incrível que pareça, com grande dose de vaidade e populismo. Em grande parte, o problema se agiganta pela ausência do povo no acompanhamento da gestão.
Infelizmente, no Brasil, a mudança para superar crises só começa em última instância, diante da absoluta necessidade, que leva o povo às ruas. Mas, segundo os ditados, “antes tarde do que nunca” e “água mole em pedra dura tanto bate até que fura”, estamos no limiar de transformações extremamente reais e positivas.
Vejamos o futebol. Há cartolas corruptos presos ou prestes a ajustar contas com a Justiça, como o ex-presidente e atual comandante da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), José Maria Marin (ex-governador paulista), e Marco Polo Del Nero. Após a desastrosa era Felipão e o ineficiente comando técnico de Dunga, com a seleção ameaçada de exclusão da Copa 2018, na Rússia, eis que, finalmente, vem a luz: Adenor Leonardo Bacchia, o conhecidíssimo Tite, chega para dirigir a seleção.
Líder carismático, determinado, dedicado, humilde e profundo conhecedor do assunto, Tite revoluciona a imagem e o rumo do futebol nacional. Emérito esportista, professor de educação física, transformou-se com justiça em unanimidade nacional. Desde que assumiu, em 20 de junho último, foram seis jogos e seis vitórias. O Brasil saiu da lanterna e foi para o 1º lugar. Faltando ainda quatro jogos, só precisa de um empate para a classificação na Copa do Mundo 2018.
Esse gaúcho de 55 anos, nascido em Caxias do Sul, ralou muito para chegar à posição de técnico vencedor. Lutou, trabalhou, estudou e continua, conforme suas palavras, aprendendo e aprimorando a difícil atividade de técnico de futebol. Além de extraordinário conhecimento técnico, determinação e humildade, Tite domina a tarefa mais complexa que é o relacionamento humano. Sincero e transparente, sabe se colocar diante dos cartolas e, principalmente, junto aos jogadores. Conduz o processo com maestria. É sensível à diversidade e individualidade de cada ser humano. Motiva a equipe para ser a representante máxima da população e da Pátria, por meio do futebol.
"Não à toa, o povo diz que 'o campeão voltou' e,
como nunca, ovaciona: 'Tite, Tite, Tite!'"
Embora tenhamos gênios da bola, como o excepcional Neymar, Tite constrói uma seleção não dependente de um guerreiro.  Aplica o simples “Um por todos e todos por um”, cultivando verdadeiros mosqueteiros que primam pelo jogo coletivo e solidário em todos os sentidos. O técnico enaltece o desempenho e a importância de cada membro da sua comissão técnica. Sem vaidade, com sincera e espontânea demonstração de senso coletivo, divide os louros das vitórias. Essa tem sido sua postura nas seis incontestáveis vitórias. Resgatou a alegria, a paixão, o amor e orgulho de sermos novamente os magos da bola. Não à toa, o povo diz que “o campeão voltou” e, como nunca, ovaciona: “Tite, Tite, Tite!”
Guardadas as proporções, pode-se comparar a situação do quadro futebolístico com os campos público e privado da Nação. Embora tênue, vislumbra-se uma luz no fundo do túnel.  Com a Operação Lava Jato, dezenas de governantes, políticos, empresários e doleiros são presos. Entre outros, José Dirceu, Eduardo Cunha, Garotinho, Sergio Cabral, Marcelo Odebrecht e Léo Pinheiro. Numa ação destemida do juiz federal Sérgio Moro e apoio total do Ministério Público Federal e da Polícia Federal efetiva-se uma limpeza das atividades ilegais. As pedaladas fiscais levam ao impeachment da presidente Dilma Rousseff e a consequente posse de Michel Temer. Apesar de incontáveis dificuldades advindas do carcomido e arcaico sistema político-partidário e administrativo, ele trabalha pela superação da grave crise.

É profundamente difícil o momento em que vivemos. Mas, creio que com  compreensão, solidariedade, união e efetiva participação do povo, haveremos de resgatar a esperança e o bem-estar a que temos direito. Oremos para que personalidades responsáveis e eficientes, como o nosso Tite, sejam implacáveis na aplicação de políticas públicas pautadas pela austeridade, responsabilidade, civismo e amor ao Brasil e a nossa gente. Que trabalhem intensamente para recolocar o País nos eixos da prosperidade. Sem vaidades nem idolatria. Apenas com competência, sensibilidade e dedicação. Assim, quem sabe, como no futebol, voltemos a ovacionar não alguém, mas o nosso Brasil.
Junji Abe é líder rural, foi deputado federal pelo PSD-SP (fev/2011-jan/2015) e prefeito de Mogi das Cruzes (2001-2008)
                  
Crédito da foto: Jovino Souza 

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