quarta-feira, 27 de julho de 2016

Saudades do Masaro Nakasato, meu ídolo

"Amigo Masaro Nakasato, até logo! Muito obrigado, obrigado e
obrigado pelo tanto que fez e por tudo que foi como gente!"
Na segunda-feira (25) o guerreiro de tantas cruzadas, líder inconteste e meu amigão do peito, Masaro Nakasato, foi chamado por Deus e viajou para o paraíso celestial. Deixou um imenso vazio, porém, povoado com muita saudade e dor. Uns dez dias antes, ao saber da sua saúde debilitada, visitei-o. Foi um encontro providencial! Não sabia que seria o último neste plano físico. 

Filho de destemidos imigrantes japoneses, Nakasato nasceu na cidade paulista de Promissão, em 8 de novembro de 1931. Deus escreveu o seu destino e o predestinou para servir à sociedade, com integral desprendimento, solidariedade e amor. E assim ele cumpriu a sua nobre missão, com devoção e paixão.

Depois de passar pela rica região noroeste do estado do Paraná, chegou em Mogi das Cruzes. Era 1961, quando ele se instalou no Bairro do Pindorama, onde viveu até o crepúsculo da sua vida. Sorte da Cidade. E sorte minha. Ano de 1961: o presidente Jânio Quadros renunciou. O Brasil entrou em conflito de ordem político-ideológica, marcado pela luta contra o comunismo, insuflado pelo presidente interino João Goulart que acabou deposto pelos militares e forças conservadoras, por meio da Revolução de 31 de março de 1964. Foi exatamente nesse período difícil que conheci o Nakasato. Eu tinha 21 anos e fazia parte da Associação Rural de Mogi das Cruzes, presidida pelo também saudoso Minor Harada. 

Nakasato despertou em mim uma simpatia imediata, dessas que a gente não sabe bem de onde vem, mas tem certeza do que sente. Nove anos mais velho, ele foi um irmão, parceiro, companheiro e amigo em todos os momentos da minha existência. Como agricultores, sempre inseparáveis, lutamos o bom combate de forma intransigente em prol dos míni, pequenos e médios produtores rurais, verdadeiramente sustentáculos na produção de alimentos. Em especial, os do segmento mais difícil da lide agrícola. Ou seja, verduras, legumes, tubérculos e bulbos. 

Perecíveis e sazonais, são produtos de alto risco para quem cultiva, em função dos efeitos das variações climáticas, da alta incidência de doenças e pragas, de preços regulados pela oferta e procura – sem valores mínimos de garantia como ocorre com grandes culturas –, de perdas acentuadas no transporte, de severos gargalos na comercialização e, acima de tudo, da insensibilidade governamental na adoção de políticas públicas específicas. Com certeza, a teia de obstáculos e a sucessão de dramas nas lavouras nos uniram na batalha de despertar, nos ouvidos moucos da sociedade, a riqueza da policultura de hortifrútis para a saúde da população e para o desenvolvimento da economia nacional.

Ao lado de outros bravos companheiros, eu e Nakasato fomos para as mesmas trincheiras. Lutamos contra a feroz política tributária, pela manutenção de estradas vicinais rurais, por financiamentos acessíveis, por seguro rural em benefício do produtor e não do sistema financeiro, por eletrificação e telefonia rurais. Também nos erguemos contra o aviltante e injusto valor pago como indenização pelas terras e plantações desapropriadas pelo Estado para construção de barragens, e pelo fortalecimento do associativismo, cooperativismo e sindicalismo, entre outras incontáveis ações que devem ser registradas, relembradas e destacadas. 

Cito a intensa participação na Associação Rural de Pindorama, no Sindicato Rural de Mogi das Cruzes, na Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de São Paulo (Faesp), no Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar), nas cooperativas agrícolas de Cotia, Sul Brasil, Itapeti e Agromogi. Aponto ainda a atuação fundamental nas Cooperativas de Eletrificação Rural e de Telecomunicação Rural de Mogi e Região. Ambas eram administradas pelos próprios agricultores, de forma gratuita, para beneficiar o campo com luz elétrica e telefone. Tudo foi feito de modo inédito e pioneiro, nos tempos em que o poder público e as empresas privadas não tinham interesse em empreender por não vislumbrarem retorno nos investimentos. Na conjuntura atual, com os imensos avanços tecnológicos, os mais jovens não devem ter ideia dos gigantescos avanços e benefícios que essas conquistas representaram naquela época.

É desse leal companheiro e amigão do peito, Masaro Nakasato, que faço questão de lembrar. Era o insubstituível parceiro, devotado em desfraldar nossas bandeiras de seriedade, competência e dedicação para servir o povo, cada vez que participávamos de campanhas eleitorais. Foi assim, graças ao fecundo trabalho de samurais como o Nakasato, que tive a honra de edificar minha bagagem com a história de cooperativista, sindicalista, vereador, deputado estadual, prefeito e deputado federal.

Com mérito, justiça e legitimidade, os poderes constituídos agraciaram Nakasato com diplomas e títulos honoríficos, incluindo o de Cidadão Mogiano. Do Congresso Nacional, enquanto deputado federal e presidente do Grupo Parlamentar Brasil-Japão, tive o privilégio de outorgar-lhe o Diploma de Honra ao Mérito pelos inquestionáveis e relevantes serviços prestados às comunidades agrícola e nipo-brasileira, assim como à sociedade em geral. Em que pese o incontestável significado das homenagens outorgadas, sinto que ficamos devendo à figura maiúscula e exponencial do grande cidadão brasileiro Masaro Nakasato.

Mesmo com o vazio, a saudade e a profunda dor da ausência física do Nakasato, agradeço a Deus por haver-me concedido a dádiva de tê-lo como meu grande amigo, meu irmão, meu confidente, meu ídolo. Encontro consolo na certeza de que ele não nos deixou. Apenas mudou de endereço. Suas lições, sua alegria de menino, sua energia revigorante, sua devoção ao bem, todo seu legado de ser humano excepcional permanecem em nossas almas. Da Morada do Senhor, ele zela por nós. Quando, no dia da partida, o filho primogênito Yutaka Nakasato me chamou para deixar uma mensagem ao seu pai, eu disse: “Amigo Masaro Nakasato, até logo! Deus o convidou para outras missões importantes. Só nos resta registrar uma imensa gratidão. Muito obrigado, obrigado e obrigado pelo tanto que fez e por tudo que foi como gente! Parafraseando o grande escritor e historiador Berthold Brecht, ‘há homens que lutam um dia e são bons, há outros que lutam um ano e são melhores, há os que lutam muitos anos e são muito bons. Mas há os que lutam toda a vida e estes são imprescindíveis.’ Você, guerreiro, é imprescindível!”

Junji Abe é líder rural, foi deputado federal pelo PSD-SP (fev/2011-jan/2015) e prefeito de Mogi das Cruzes (2001-2008)

quinta-feira, 21 de julho de 2016

Gente de verdade

O avanço da tecnologia é importante e, claro, irreversível. Porém, há tempos, constato e sinto o desconforto de falar com gravações ao telefone. Igualmente, a imposição de digitar números para fazer manifestações e ter como resposta a frieza de áudios prontos aumenta a carência de tratamento personalizado em todas as atividades, que incluem os serviços públicos e privados. O mesmo sentimento cresce quando o retorno para uma mensagem eletrônica se limita à resposta automática de que o assunto será avaliado e haverá contato em breve. Isto não ocorre, na maioria das vezes. É a prova cabal de que nossa opinião e nós mesmos não temos a menor importância para o prestador dos serviços. 

Pinço o exemplo das empresas de call center. Quando chegaram, receberam aplausos. Parecia que, finalmente, seríamos ouvidos e teríamos solução para os problemas apresentados. Ledo engano. A novidade e a satisfação foram dando lugar ao distanciamento, à impaciência e, de alguns anos para cá, até à revolta. Descobrimos que não queriam nos ouvir. Muito menos resolver as pendências que levávamos. 

As empresas de call center perseguiam a meta de vender os produtos e serviços dos empreendimentos contratantes. Assim, ninguém para cuidar dos nossos pedidos e reclamações. Cada ligação continuou tratada com desleixo e respostas prontas, além de forçar o reclamante a esperar na linha por tempo indeterminado, ser transferido indefinidamente para sucessivos atendentes, anotar dezenas de protocolos de atendimento e, enfim, ouvir o sinal de queda da chamada. O recado é cristalino: Quer reclamar? Faça tudo de novo. 

Desde 2014, existem regras que, por exemplo, obrigam operadoras de telefonia, internet e televisão por assinatura a ligarem de volta para o cliente se a ligação cair durante o atendimento. Na prática, apenas mais motivos de reclamação por descumprimento em órgãos de defesa do consumidor. Permanece a postura de dificultar ao máximo nossas manifestações. Por outro lado, a insistência em nos procurar para tentar vender algo é brutal. Ligam em casa, no trabalho, no celular, mandam e-mails, mensagens nas redes sociais, fazem de tudo. 

O contexto só amplia nossa indignação. Sentimos a violação de privacidade. Além de sermos acionados enquanto estamos ocupados ou indispostos, tratam de assuntos que não nos interessam. Nunca das pendências que levamos. A contrariedade com o telemarketing e suas ramificações, processados por pessoa ou máquina, é maior junto ao público com mais de 50 anos. E cresce à medida que a idade aumenta. Sim. Ficamos menos tolerantes com banalidades. 

217 bilhões de dólares é o quanto custou, no ano passado, o mau atendimento de empresas brasileiras. O Brasil é um dos líderes mundiais no ranking de prejuízos causados pelo desleixo com a clientela. A pesquisa é da consultoria Accenture e considera clientes frustrados com o serviço ruim. Significa que quase 9 em cada dez migraram para a concorrência em áreas como telefonia, bancária e planos de saúde. 

A pesquisa também traz dados interessantes sobre o que quer o consumidor brasileiro. Em primeiro lugar, deseja tratamento personalizado: 68% preferem contato com um ser humano para solucionar uma demanda. Não por menos muitos enfrentam filas para pagar conta na boca do caixa em vez de usar o terminal eletrônico. 

Embora 34% digam que a via digital é sua primeira opção para chegar a uma empresa, o ambiente impessoal das telas de celulares e teclados de computadores tornou-se uma ameaça para boa parte das empresas. Em especial, para aquelas que só se preocupam em oferecer ferramenta digital a consumidores sem esse perfil. 

O empresariado tem na pesquisa uma lição elementar: é vital ser eficaz na solução de problemas. A competência para lidar com as demandas da clientela garante não apenas a satisfação (e manutenção) do cliente, mas também a grande possibilidade de conquistar outros. Isso porque o boca a boca é de longe o melhor canal para propagar informações. 

No Brasil, o boca a boca funciona mais que redes sociais, propaganda na TV ou sites institucionais. Significa que o comentário de amigos e conhecidos tem influência decisiva sobre os consumidores. Assim, podem aderir a um produto ou abominá-lo para todo sempre. A eficácia do canal vale tanto para disseminar novidades como para demonizar serviços. 

Cabe lembrar que 79% dos entrevistados na pesquisa dizem ser frustrante lidar com companhia que não facilita o diálogo. E ainda que 62% não voltam para a antiga prestadora depois de migrar para a concorrência. Perdeu, perdeu. Talvez os dados deem ao empresariado brasileiro bons motivos para rever conceitos e oferecer ao consumidor um item sucessivamente negligenciado: atenção. 
"Num mundo cada vez mais automatizado e menos
autêntico, as pessoas se ressentem do bom e velho papo."

Num mundo cada vez mais automatizado e menos autêntico, as pessoas se ressentem do bom e velho papo. Querem falar com gente de verdade, capaz de entender, de ter empatia, de tratar do problema. Como ser sociável, o humano busca a boa conversa, o diálogo, o respeito. Já ensinava Charles Chaplin, na década de 1940: “Mais do que máquinas, precisamos de humanidade. Mais do que inteligência, precisamos de afeição e doçura.” #ficadica

Junji Abe é líder rural, foi deputado federal pelo PSD-SP (fev/2011-jan/2015) e prefeito de Mogi das Cruzes (2001-2008)

quinta-feira, 14 de julho de 2016

Dias melhores

Mogi das Cruzes ostenta um título nada honroso. Levantamento da Telefônica/Vivo coloca a Cidade na quinta posição do ranking estadual de furto de cabos telefônicos. Significa que os bandidos levaram 30,5 quilômetros de cabos telefônicos da operadora, de janeiro a junho deste ano. No mês passado, o volume furtado dobrou em relação ao registrado em maio. 

Os usuários de telefone são as principais vítimas do processo. Ficam sem o serviço até que as operadoras façam a reposição do material. Pode levar dias e até semanas. Se o problema já é grande na área urbana, torna-se gigantesco na zona rural. Distantes dos centros urbanos e, na maior parte, desprovidos de sinal de celular, os moradores de bairros rurais ficam isolados do mundo até a conclusão dos reparos. 

A situação é muito pior para os produtores que dependem do telefone para para tocarem seus negócios. Vale frisar que os hortifrutiflorigranjeiros cultivados em solo mogiano respondem por expressiva parcela do abastecimento nacional. A Cidade lidera a produção brasileira de diversos itens, além de exportar uma série de outros. Sem telefonia, as atividades ficam irremediavelmente comprometidas. 

Sou de um tempo em que não havia, sequer, energia elétrica na zona rural. Vencida essa fase, o passo seguinte era garantir a telefonia nas propriedades rurais. Em 1973, quando tomei posse como vereador, fundei e passei a presidir a Cooperativa Rural de Telecomunicações de Mogi das Cruzes. Dois anos depois, conseguimos um avanço extraordinário, com a implantação de mil terminais telefônicos na Cidade e também em Suzano, Biritiba Mirim e Guararema. No ato inaugural, conversei, por telefone, com o então presidente da República, General Ernesto Geisel. Nos anos seguintes, o modelo deu origem a outras 15 cooperativas no interior do Estado.

Em que pese a revolução tecnológica, aliada à expansão da internet, na zona rural, o telefone ainda é a mola-mestra para a comunicação. São raros os pontos onde é possível, por exemplo, fazer conexões por banda larga móvel ou rede wi-fi. Igualmente, ainda é utopia imaginar que, a curto prazo, as operadoras investirão em cabeamento subterrâneo nos bairros rurais. Se o processo já tarda demais na área central, as localidades mais distantes aguardarão muito mais.

Ao mesmo tempo, a ousadia dos ladrões é tanta que o cabeamento subterrâneo inibe, mas não acaba com os furtos. No ano passado, 1,2 mil assinantes da Telefônica/Vivo em São Pedro (SP) ficaram sem telefone e internet depois que os criminosos, uniformizados e agindo como trabalhadores em obras, estacionaram um caminhão e levaram o cabo metálico que estava debaixo da terra. Isto ocorreu perto da delegacia de Polícia, na região central. 

Já a substituição dos cabos de cobre por outro tipo bimetálico, sem valor comercial, também ajuda, mas não é garantia contra novos incidentes. Os bandidos costumam furtar para checar se não terão lucro, de verdade. Da mesma forma, a instalação de mais câmeras do sistema de videomonitoramento que implantamos em Mogi, enquanto prefeito, dificulta os crimes, assim como o aumento do efetivo e dos recursos da Polícia, considerando que a impunidade ainda é um dos grandes combustíveis da marginalidade. É verdade também que o fim da grave recessão econômica instalada no País deve criar oportunidades de emprego para muitos que se desviaram do caminho do bem para tentar sustentar a família. 

"Precisamos reverter o conceito de correr atrás das
consequências, priorizando medidas preventivas."
Contudo, penso que as ações repressivas, embora imprescindíveis, sempre serão como enxugar gelo. Precisamos reverter o conceito de correr atrás das consequências, priorizando medidas preventivas. Como exemplo, cito o trabalho desenvolvido ao longo dos oito anos em que exerci o cargo de prefeito de Mogi. Investimos pesado na educação de qualidade e no desenvolvimento social, focando ocupação saudável para crianças e adolescentes e o incentivo à cidadania. 

Visando preencher o tempo ocioso dos alunos, estruturamos a rede municipal para que nosso sucessor iniciasse o período integral nas escolas. Além do conteúdo curricular, os estudantes permanecem na escola aprendendo artes, praticando esportes e desenvolvendo outras atividades importantes para sua formação pessoal. Ou seja, deixam de ficar à mercê da criminalidade. Este programa também completa a lacuna gerada pela proibição legal do trabalho antes dos 16 anos de idade. Inserido na Constituição para incentivar os menores a estudar, o dispositivo não teve o devido respaldo em investimentos públicos na educação e acabou por instituir-lhes o ócio no horário livre das aulas. 

Mas, não é só. A derrocada do império da violência exige o empenho de cada indivíduo, partindo do resgate da unidade familiar. Os pais têm de cumprir a missão de educar os filhos com valores elementares, como dignidade, solidariedade, respeito e amor ao próximo, além de religiosidade, qualquer que seja o credo. Com a presença de Deus na família, se aprende a ter fé. Evidente que os resultados não são imediatos. Porém, existe a certeza de dias melhores e de uma sociedade mais evoluída no futuro. 

Junji Abe é líder rural, foi deputado federal pelo PSD-SP (fev/2011-jan/2015) e prefeito de Mogi das Cruzes (2001-2008)

quinta-feira, 7 de julho de 2016

Atitude é tudo

Em tempos de violência desenfreada contra mulheres, negros, pobres, crianças, quem tem diferentes tipos de orientação sexual, aqueles que seguem credos diversos, contra animais, contra quem é ou pensa diferente, uma postagem incomum viralizou nas redes sociais. Não trazia ataques típicos de haters (pessoas que postam comentários de ódio) nem vítimas. Relatava apenas uma atitude. Simples, porém de profundo alcance, se absorvida pela sociedade. E capaz de guiar uma imprescindível mudança de comportamento nos adultos de amanhã.
Menino Diogo aprendendo como ser um 
adulto de caráter (foto: reprodução/Facebook)

"Depois de muita conversa, castigo ontem, hoje foi o dia de levar flores para a coleguinha que ele empurrou ontem na escola. #naosebateemmulher #sóflores #sócarinho #vaiserumprincipe #nãoéfácil". Esta postagem no Facebook veio acompanhada da foto de um menino que carrega um vaso de violetas. A autora é a mãe que mora em Porto Alegre (RS). Tavane Carvalho soube que o filho Diogo, de 4 anos de idade, havia empurrado uma coleguinha chamada Isabelle, ao invés de pedir licença para passar. 

Tavane poderia ter sido indiferente ou, no máximo, dado uma bronca no filho. Ou ainda, ter feito o que, lamentavelmente, tornou-se rotina na conduta de muitos pais: brigado com a professora por não ensinar bons modos ao garoto, sob a inadmissível alegação de que determinadas lições cabem ao educador. 

Ela foi diferente. Foi uma mãe preocupada com o adulto que o pequeno Diogo irá se tornar. Não se limitou a pensar na criança que tem em casa. Mas sim, no seu dever de educar. De tomar para si a responsabilidade pela construção do caráter daquele humaninho. E o fez com maestria, movendo famílias a contribuírem com a edificação de uma sociedade menos preconceituosa, livre do conceito espúrio de que homem bate em mulher, capaz de agradecer e de pedir perdão.

Não é fácil encontrar os melhores meios de educar uma criança. A punição vazia é inútil. Tavane teve de refletir para buscar o jeito adequado de sensibilizar o filho para a gravidade da conduta errada. De fazê-lo se arrepender e de convencê-lo a não repetir o erro, em nenhuma circunstância. Com certeza, os ensinamentos que moldam o caráter vêm de berço. Processam-se no lar. 

A mãe soube do incidente quando foi buscar o menino na escola. Pensou em como lidar com a situação no caminho de volta. Ao chegar em casa, colocou Diogo em sua frente e conversou com ele, olhando nos olhos. Disse que estava muito triste. Explicou que “não se bate em colegas, ainda mais em meninas”. 

Em seguida, Tavane deixou o filho de castigo no quarto por algumas horas, permitindo apenas que fosse ao banheiro. Na hora de dormir, Diogo rezou, pediu desculpas e garantiu que jamais faria de novo. Apesar de ser doloroso para o coração de mãe, ela se manteve firme na medida corretiva. 

No dia seguinte, rumo à escola, propôs que comprassem flores para a garotinha. "Parei no mercado. Falei para ele escolher uma flor para a Isabelle. Falei para ele pedir desculpas, prometer a ela que não iria mais fazer o que fez e entregar as flores para ela fica feliz com ele", relatou Tavane ao Portal da Rede TV!

"Fica a história como inspiração para que os pais se lembrem de criar
seus filhos para o bem, para um mundo melhor e menos desigual"
Observado pela professora, que depois narrou os fatos para Tavane, Diogo pediu desculpas e deu o vaso de violetas à coleguinha. Ela aceitou o presente e retribuiu o abraço oferecido pelo menino. No final do dia, quando a mãe foi buscar Diogo, perguntou se ele havia sido desculpado. “Ele disse que sim e que não iria mais repetir o erro”. Fica a história como prova de que atitude é tudo e como inspiração para que os pais se lembrem de criar seus filhos para o bem, para um mundo melhor e menos desigual. 

Junji Abe é líder rural, foi deputado federal pelo PSD-SP (fev/2011-jan/2015) e prefeito de Mogi das Cruzes (2001-2008)

sexta-feira, 1 de julho de 2016

Alerta na educação básica

É uma afronta que o Plano Nacional de Educação (PNE) tenha completado dois anos (25/06) com apenas um dos 21 objetivos de curto prazo atingidos – criação de um fórum para acompanhar a evolução salarial dos professores. Enquanto deputado federal, participei da discussão e aprovação da matéria. Reclamei bastante que as metas eram tímidas demais. Mesmo assim, não foram cumpridas. Fica a triste constatação de que a nossa “Pátria Educadora” não passa de um bordão publicitário. 

"Fica a triste constatação de que a nossa
'Pátria Educadora' não passa de um bordão publicitário"
O plano fixou as diretrizes das políticas de educação para o Brasil até 2024. Para se ter ideia do rombo social decorrente do descumprimento do PNE, vale dizer que 100% das crianças de 4 e 5 anos deveriam estar matriculadas na pré-escola até 2016. O ano deverá fechar com 700 mil pequenos fora da escola. Na prática, significa que o País avançou míseros 0,1% na oferta de vagas para esse nível da educação infantil desde 2013. O atendimento era de 87,9%. Passou a 88%.

Se esse quadro já é ruim, fica pior diante da incapacidade de resposta à demanda por vagas em creches. Segundo o PNE, até 2024, pelo menos 50% das crianças de 0 a 3 anos de idade têm de estar matriculadas. Hoje, nada menos que 2,5 milhões de brasileirinhos não têm acesso ao serviço. Nos últimos três anos, a ampliação de vagas foi seminula frente às necessidades. 

Se a nação está em débito absoluto em duas modalidades básicas de ensino, o tão festejado período integral nas escolas tende a ser utopia na maior parte do País. O PNE prevê que, até 2024, seja oferecido em 50% das escolas públicas, atendendo a pelo menos 25% dos alunos da educação básica. A média nacional de estabelecimentos funcionando em tempo integral gira em torno de 5%. Nas regiões Sul e Sudeste, o percentual também não ultrapassa 10%.

Mogi das Cruzes é uma feliz exceção no cenário nacional. Nossa Cidade cumpriu, com nove anos de antecedência, a meta do PNE que trata do período integral. Já em 2015, 51% dos estudantes em 68% da rede escolar municipal eram atendidos em tempo integral. É um fato que me deixa feliz, considerando que dei o pontapé inicial para este modelo de ensino implantando, em 2008, o primeiro Centro Municipal de Programas Educacionais (Cempre) Dra. Ruth Cardoso para que meu sucessor iniciasse o trabalho.

Da mesma forma, os mogianos podem se orgulhar dos avanços na educação infantil. O atendimento para alunos de 4 a 5 anos havia sido universalizado em 2015 e as vagas em creches já respondiam a 49,7% da demanda até o ano passado. O PNE estabelece o percentual de 50% até 2024. Aliás, vaga em creche é um problema crônico. Por mais unidades que se abra, parece nunca ser o bastante para garantir a acolhida do público, sempre crescente.

Quando cheguei à Prefeitura, em 2001, havia 32 instituições. A falta de vagas em creches era uma das reclamações mais comuns da população. Também não havia escolas em número suficiente nem para oferecer ensino fundamental, obrigando os pais a ficarem acampados na frente das unidades na expectativa de conseguir matricular os filhos. Resolvemos o problema com a construção de prédios e reforma dos existentes para aumentar em mais de 70% o número de vagas, além de modernizar a rede escolar com recursos multimídia e espaços poliesportivos. 

Já a implantação de creches exigia uma solução criativa. A Prefeitura sofre limitações impostas pela Lei de Responsabilidade Fiscal para investimentos, custeio e folha de pagamentos como meio de assegurar o equilíbrio fiscal, financeiro e orçamentário do Município. Buscamos parcerias com organizações da sociedade civil organizada. Deu certo. Assim, ampliamos em 134% a rede de creches, instalando 43 novas unidades. Meu sucessor deu continuidade ao processo, viabilizando o resultado atual. 

Esses e outros avanços, contudo, nada seriam sem um elemento fundamental que se chama ensino de qualidade. Atingir esse objetivo implica garantir o acesso do aluno à unidade escolar, motivar seu desenvolvimento em um ambiente seguro, atendido por profissionais valorizados, professores qualificados para uma ação pedagógica cada vez mais eficiente numa rede escolar perfeitamente integrada com a comunidade – com suas necessidades e anseios –, dotada de estrutura física e operacional apropriadas, em sintonia com os avanços tecnológicos, com recursos aplicados de forma racional.

Grandes obras são importantes. Mas, investir em educação de qualidade é fundamental. Não traz resultados imediatos, mas garante à criança as oportunidades de que precisa para ser um cidadão consciente, participativo e preparado para enfrentar o mundão aqui fora, incluindo a competição no mercado de trabalho.

Isso faz toda diferença num Brasil que, lamentavelmente, amarga o 83º lugar entre 130 países pesquisados na mais recente edição do "Relatório Sobre o Capital Humano", estudo do Fórum Econômico Mundial sobre o êxito das nações em preparar seu povo para criar valor econômico. Dono da 8ª maior economia do mundo, nosso País tem mais de 35% do capital humano subdesenvolvido. 

O Brasil aparece pior que os outros países da América Latina e Caribe de menor desenvolvimento relativo, como Uruguai (60º), Costa Rica (62º), Bolívia (77º) e Paraguai (82º). Cuba detém a 36ª posição e lidera na região. A Finlândia encabeça o ranking beneficiando-se de uma população jovem bem educada, da melhor educação primária e da maior taxa de ensino superior completo na faixa de 25 a 54 anos. Noruega e Suíça completam o trio de melhores.

O péssimo desempenho brasileiro no estudo reflete a má qualidade da educação básica. Aquilo que puxou a performance do País para baixo foi o preparo dos jovens de 0 a 14 anos, o 100º entre 130 países. Pesaram demais a capacidade de o aluno sair bem preparado do ciclo primário de ensino (98º lugar), e a qualidade da educação primária (118º lugar). Exatamente por isso, Mogi das Cruzes precisa manter a trajetória ascendente das melhorias no setor. Quem quer que sejam os próximos prefeitos, têm obrigação de dar sequência a um trabalho iniciado há mais de 15 anos. A sociedade mogiana não admitirá interrupções nem retrocesso.

Junji Abe é líder rural, foi deputado federal pelo PSD-SP (fev/2011-jan/2015) e prefeito de Mogi das Cruzes (2001-2008)