quinta-feira, 21 de abril de 2016

Câncer chamado inflação

Quem quase perdeu as vísceras nas mais de duas décadas de inflação galopante que sepultaram empresas, exterminaram empregos e levaram milhões de pessoas à miséria absoluta sabe bem o que significa recessão. Gente jovem, com menos de 35 anos de idade, dificilmente, entenderá por que os mais velhos têm ojeriza à função de remarcador de preços. Havia um batalhão nos comércios para dar conta de aumentar os valores das mercadorias três, quatro, até cinco vezes por dia. Você comprava pãozinho de manhã. Horas depois, o produto já custava mais caro. Havia também total desabastecimento. Faltavam alimentos, remédios, roupas, artigos de higiene, uma série de itens essenciais. E, claro, pelo menos três em cada dez trabalhadores estavam desempregados. 

Para se ter ideia, em 1993, a inflação atingiu 2.477,15% ao ano, segundo o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo). Em junho de 1994, antes do Plano Real, o índice inflacionário foi de 47,43%. Significa que um carro popular de R$ 35 mil custaria cerca de R$ 500 a mais no dia seguinte. Um ano depois, chegaria a estrondosos R$ 3,74 milhões. Era uma insanidade!

A chegada do real começou a reordenar a economia. Estancou a maxidesvalorização da moeda brasileira e freou a escalada inflacionária. O País entraria na era das vacas gordas. Na última década, contudo, o tão promissor cenário econômico nacional começava a dar sinais de instabilidade. A coisa piorou nos últimos três anos quando o bicho de sete cabeças chamado inflação mostrou que ainda respirava. Pior é constatar que ele está bem vivo e cheio de energia hoje. Eis o motivo maior da apreensão nacional. Ninguém, absolutamente ninguém, quer reviver a pandemia do câncer chamado inflação.

Desde 1º de julho de 1994, quando o real começou a circular, até 31 de março de 2016, o poder de compra da moeda brasileira caiu 81,41%. Significa que uma nota de R$ 100, guardada naquela data, vale hoje, de fato, R$ 18,59. Já a de R$ 50 equivale, atualmente, a R$ 9,30. Os cálculos da desvalorização são do Instituto Assaf, entidade privada formada por professores e pesquisadores das áreas de economia e finanças.

São vários os fatores geradores de inflação. Transportando para o ambiente doméstico, num conceito simplista, seria a família gastar continuamente mais do que ganha. No setor governamental, a gastança irresponsável – associada à corrupção generalizada e à roubalheira contra os cofres públicos – desequilibram as contas engordando o déficit público. Ancorada na má gestão das finanças públicas, a inflação fica potente e vai corroendo o que encontra pela frente. 

Por mais que houvesse desgoverno, políticos atolados em sucessivas denúncias de corrupção, o vergonhoso balcão de negócios instalado no seio do poder, tudo de imoral no panorama político, o Brasil estaria forte, se a inflação estivesse enterrada. Não é o que acontece. O atual governo brasileiro imprimiu sua desastrosa patente no comportamento do câncer inflacionário. 

"Fica a lição de que vencemos aquela crise horrenda de
décadas passadas. Haveremos de superar também a atual."
 
Daí a verdade do recente comentário do humorista global Jô Soares sobre a falta de perspectivas de dias melhores no País de 9 milhões de desempregados. Ele disse que o problema não é a falta de luz no fim do túnel; é que não existe túnel.

Nunca fui pessimista. E não serei a partir de agora. Fica a lição de que vencemos aquela crise horrenda de décadas passadas. Haveremos de superar também a atual. Mais importante do que definir o presidente da República é que o governante – quem quer que seja – aplique o tratamento capaz de conter a malévola inflação. Caso contrário, o câncer avançará com metástase. Deus nos proteja!

Junji Abe é líder rural, foi deputado federal pelo PSD-SP (fev/2011-jan/2015) e prefeito de Mogi das Cruzes (2001-2008)

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