quinta-feira, 24 de março de 2016

Tempo de superação

Vivemos um momento de desesperança. Economia em queda livre, preços em disparada, desemprego instalado na rotina de 9 milhões de brasileiros, tudo sob suspeição e uma crise política que se tornou insustentável, destilando o ódio entre os apoiadores do governo e os contrários a ele. É com este clima que se aproxima o Domingo de Páscoa. 

O Brasil já enfrentou situações bem ruins, caóticas mesmo. Superou. Com as potencialidades naturais da Nação e a força do povo, havemos de suplantar este período terrível. Não se pode perder a fé. Por mais sombrios que sejam os dias, o sol não deixa de existir. É providencial olhar um pouco para trás e resgatar uma dose extra de fé. 

Como cristão, rememoro o dantesco sacrifício de Jesus para derramar o perdão divino sobre nosso mundo de mortais pecadores. Sua tortura, mutilação e aniquilamento não podem continuar passando ao largo da ambição desmedida e sede de poder da humanidade. A Semana Santa também estimula a reflexão. Precisamos ter coragem de mudar posturas. 

Se as barbáries multiplicam vítimas no planeta, também existem pessoas de bem, capazes de atitudes inomináveis de bondade. De doação e gratidão. Falo de pequenos gestos de amor. De ceder o lugar no ônibus, dividir o lanche com um necessitado, adotar um animalzinho abandonado, oferecer uma palavra de conforto, ser gentil com os outros, ter mais tolerância com quem pensa diferente, dar um abraço apertado em quem precisa e outras tantas atitudes quase invisíveis a olho nu, em meio ao conturbado palco de grandes feitos e malfeitos.

Ao louvar a ressurreição de Jesus, podemos nos esforçar para rever comportamentos, renascendo como fez Ele e, apesar das nossas falhas e limitações, buscar meios de concretizar mais pequenos gestos de amor. A soma das minúsculas ações de bem pode gerar um movimento forte de bondade. 

Lembro-me de Judas, o traidor que vendeu o Mestre. A criançada faz a farra no Sábado de Aleluia, faturando balas com um boneco de pano – surrado aos montes e, às vezes, com a identidade de alguém visto como vilão. Brincadeira à parte, porque a vingança jamais seria um ensinamento de Jesus, vamos, nós também, malhar os ‘judas’ das nossas almas. Vamos expulsar a pauladas todo e qualquer sentimento ruim que habite em nossos corações. Façamos uma faxina interior para tirar de nós tudo o que seja contrário à bondade, humildade, paz, solidariedade e ao amor.

Se você é pai, mãe, avô, avó, tio, tia ou convive com crianças e adolescentes, pode fazer mais. Pode tentar repassar-lhes a lição dos pequenos gestos de bondade. Não de vez em quando. Mas, o tempo todo. E agindo com a consciência de inspirá-los a condutas melhores. 

Antes de saborear o almoço desta Sexta-Feira Santa, vamos refletir um pouco sobre o sofrimento de Jesus. Visto como ameaça pelos poderosos, Ele foi crucificado por ser diferente. Por ser um líder imbatível, porque pregava o amor incondicional. Amor a Deus, aos pais, aos filhos, aos amigos, aos companheiros, aos desconhecidos, aos inimigos.

"Assim, de alma lavada, celebremos
de verdade a ressurreição de Jesus."
Sejamos pessoas melhores, capazes de reconciliação com aqueles a quem magoamos e com aqueles que nos magoaram. É tempo de perdão. Na cruz, à beira da morte física, Jesus elevou o pensamento ao Pai e pediu que Deus perdoasse seus algozes. Quem somos nós para negar ou para não pedir perdão? 

Assim, de alma lavada, celebremos de verdade a ressurreição de Jesus. Com ou sem ovos de chocolate, não importa. Jesus está vivo entre nós. Façamos a nossa parte para que Ele renasça, a cada dia, em nossos corações. Acreditemos que podemos praticar as lições que ensinou. Superemos, nós também, o nosso calvário, com pequenos gestos de bondade, foco e muita fé. Feliz Páscoa!

Junji Abe é líder rural, foi deputado federal pelo PSD-SP (fev/2011-jan/2015) e prefeito de Mogi das Cruzes (2001-2008)

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