sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

Costumes admiráveis

A primeira vez em que estive no Japão, um dos fatos que me chamou a atenção, já no aeroporto, foi o uso de máscaras hospitalares por várias pessoas. Não se trata de lei, norma nem nada do gênero. É costume de japoneses colocar o equipamento por causa de alergias, viroses ou simples resfriados. Parece estranho, mas contribui muito para evitar a propagação de doenças contagiosas. 

No Brasil, os japoneses deixaram o público boquiaberto ao recolherem o lixo do chão do estádio, logo após a partida de futebol, durante a Copa de 2014. Não havia obrigação. Era apenas o senso de responsabilidade baseado no conceito simples de que, se sujou, deve limpar. Também é com essa naturalidade extrema que tiram os sapatos para entrar em casa, na sua e na dos outros. Ou, incentivam os restaurantes a oferecerem pano quente e úmido para que os clientes limpem as mãos antes das refeições. Questões de higiene e de respeito. Consigo mesmo e com o próximo. 

Por falar em limpeza, desde crianças, os japoneses aprendem que devem limpar aquilo que sujam. Tanto que a faxina das escolas, inclusive dos banheiros, é feita pelos próprios alunos como parte da grade curricular. Particularmente, acho extremamente válido e útil o ensinamento. É a semente da cultura que, mais tarde, conduzirá a práticas como a de recolher o lixo do estádio de futebol. Ou garantir que as ruas do País do Sol Nascente estejam livres da sujeira que se entulha nas nossas.

Entretanto, soube de mães brasileiras que, no Japão, transferiram os filhos de escolas nipônicas para outras mantidas com costumes do Brasil. Achavam humilhante suas crianças limparem banheiro ou lavarem a louça que usaram para a merenda. Além disso, ficavam assombradas com o fato de os pequenos aprenderem a lavar as próprias meias, encardidas propositalmente depois de caminharem sem calçados dentro e fora do estabelecimento.

Outra curiosidade é a inexistência do ato de dar gorjeta no Japão. Nem em restaurante, táxi ou qualquer tipo de serviço. Oferecer dinheiro a mais é interpretado como insulto, porque há o entendimento de que o cliente já está pagando devidamente pelo serviço que recebeu. 

Para completar a lista de situações que ilustram o tamanho das diferenças culturais, vale reparar que, no Japão, é comum ver as mulheres pagando a conta em restaurantes. São exploradas? Não. São as donas do dinheiro. O marido entrega o salário à esposa e ela controla os gastos do mês. Podem me acusar de feminista, mas acho a prática excelente. As damas costumam ser bem mais criteriosas na gestão financeira doméstica. 

"Como se vê, toda sociedade tem seus erros e acertos"
Apesar da importância desses costumes para chancelar a disciplina e rigidez dos orientais como alicerces de uma sociedade mais justa, organizada e respeitosa, o Japão detém uma das maiores taxas de suicídio entre países desenvolvidos: são 18,5 para cada 100 mil habitantes. O paradoxo é que o senso de responsabilidade, tão cultivado entre os japoneses, é também um dos fatores que tornam o povo nipônico mais propenso a tirar a própria vida. 

Muitos idosos com problemas financeiros se matam para aliviar suas famílias do que entendem ser um peso extra. E ainda garantir que recebam o dinheiro do seguro de vida, porque as companhias japonesas costumam pagar a indenização, mesmo em casos de morte por suicídio. Como se vê, toda sociedade tem seus erros e acertos. Aí, reside a beleza e o mistério da humanidade. E é bom que seja assim. Acima de tudo, vale aprender costumes admiráveis e absorver o que é útil.

Junji Abe é líder rural, foi deputado federal pelo PSD-SP (fev/2011-jan/2015) e prefeito de Mogi das Cruzes (2001-2008)

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