sexta-feira, 20 de novembro de 2015

Natal da recessão

O brasileiro pretende gastar quase 15% menos do que no ano passado em suas compras de Natal. O gasto médio por presente deve ser de R$ 106,94 contra os R$ 125,22 desembolsados em 2014. A quantia cai para R$ 97,85, se considerados os compradores das classes C, D e E. Os números foram calculados com base em 93% dos entrevistados que mostraram intenção de presentear alguém. Em média, cada consumidor planeja contemplar não mais que cinco pessoas.

Esses dados constam da pesquisa SPC Brasil (Serviço de Proteção ao Crédito) e da CNDL (Confederação Nacional dos Dirigentes Lojistas), realizada em todas as capitais com 601 entrevistas. O movimento natalino de 2014, que já havia registrado vendas cerca de 1% abaixo das do ano anterior, será ainda mais modesto em 2015.

Até aqui, sem novidade. Afinal, a economia nacional cambaleia com índices crescentes de inflação e desemprego, associados a quedas históricas dos níveis de atividade econômica. Para ilustrar, basta dizer que o volume de serviços prestados no País desabou 4,8% em setembro em relação ao mesmo mês do ano passado, segundo pesquisa do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). 

As projeções nada animadoras vêm junto com o temor justificado do sumiço da fonte de renda. Trabalhadores vivem a tensão cotidiana de perder o emprego. Pequenos empresários, às voltas com a queda do movimento, enfrentam a ameaça de encerramento das atividades. Nem só os microempresários nadam contra a maré. Há grandes lojas que nem contratarão temporários para o fim de ano, ao contrário de temporadas anteriores.

O Natal de vacas magras chega com alerta máximo para que se evite dívidas. Sem dinheiro na mão, não compre. Se tem, pague à vista. É a intenção de 42,3% dos ouvidos na pesquisa do SPC. Parcelar em cinco vezes no cartão de crédito foi a alternativa apontada por 27,7%. Mesmo sem juros, está longe de ser boa opção. Afinal, o consumidor estará pagando a compra até maio, ao lado do bolo de gastos do início do ano – IPTU, IPVA, material escolar etc. Pior, apostando num otimismo que a recessão oficial não inspira.

É tempo de prudência. Quem tem criança em casa, sabe o quanto faz falta um presente para dar no Natal. Isso me faz lembrar da minha infância. Não existia a magia dos brinquedos sofisticados, videogames e tablets. Ainda que houvesse, meus pais – imigrantes japoneses, agricultores – não poderiam comprar. 

Meninos ganhavam carrinhos de madeira de caixote de verduras e as meninas recebiam bonecas de pano. Tudo feito em casa mesmo. E sem papel de presente. O mais aguardado, contudo, era o que tinha na mesa. Uma vez por ano, no Natal, a gente bebia refrigerante (sem gelo, porque não tinha geladeira). Como era bom! Até hoje, recordo-me da alegria que era ouvir o barulhinho da garrafa sendo aberta. 

As dificuldades são grandes mestras. Crescer longe de farturas e do acesso desmedido às coisas que só dinheiro compra pode tornar alguém melhor preparado para enfrentar adversidades, muito mais solidário e totalmente avesso a desperdícios. Ser privado de presentes caros não traumatiza ninguém. Na verdade, ajuda a ensinar o valor das pequenas dádivas. Grande mesmo tem de ser o amor em família. 
"Neste Natal da recessão, não faça dívidas.
Faça as boas lembranças de amanhã." 

As crianças podem ser bem mais compreensivas e generosas do que se pensa. Quase tudo que, de fato, interessa na vida, não vem em pacotes coloridos, com laços e pompas. Surge da simplicidade. Vem do coração. Neste Natal da recessão, não faça dívidas. Faça as boas lembranças de amanhã. #ficaadica 

Junji Abe é líder rural, foi deputado federal pelo PSD-SP (fev/2011-jan/2015) e prefeito de Mogi das Cruzes (2001-2008)

Nenhum comentário:

Postar um comentário