quinta-feira, 22 de outubro de 2015

Combinação mortal

Uma mulher com sinais de embriaguez atropelou e matou dois em São Paulo. Uma das vítimas era gari. O outro pintava uma ciclovia na rua. Para completar, a motorista ainda tentou fugir. Os casos se multiplicam com voracidade. Dificilmente, uma semana termina sem ocorrências no trânsito, causadas por gente que insiste em dirigir alcoolizada. Já as punições tropeçam mais do que bêbado e, não raro, passam longe do esperado rigor sendo transformadas em prestação de serviços à comunidade. A sensação de impunidade vira combustível para novos registros de condutas lesivas.

Com a prática ilegal de dirigir alcoolizado ou drogado, os malucos do volante tiram milhares de vidas, inclusive as próprias, ou mutilam suas vítimas no País inteiro. Acidente? Ora, se o motorista resolve dirigir sob influência de álcool ou drogas, sabe que corre o risco de matar e ferir. Se acontece, ainda que sem intenção, não foi acidente. Não adianta dizer que tomou só um copinho de cerveja ou uma taça de vinho. Álcool no organismo afeta as condições normais do indivíduo. Seus efeitos variam para cada pessoa. Mas, a regra vale para todos: se beber, não dirija. Ponto final. 

Por mais que parte dos motoristas reclame das regras de trânsito, elas existem para serem cumpridas. Apesar da fiscalização, um sem-número de infratores sai impune dos abusos que comete. Nas saídas de bares e restaurantes, muitos frequentadores saem trançando as pernas e assumem o volante. Podem chegar em casa sem ter causado tragédia. Mas, nada fizeram para evitá-la. Se são flagrados por um radar em razão do excesso de velocidade, são os primeiros a acusarem o poder público de cultivar uma indústria de multas.

Abro parênteses para uma observação. Parte da população e da mídia, que combate as irregularidades, alimenta total aversão aos radares eletrônicos. Muitos se esquecem de dois fatores. De um lado, está a Lei de Responsabilidade Fiscal que, de 20 anos para cá, limita os custos com folha de pagamentos, restringido contratações. De outro, o aumento da criminalidade diminui o contingente de policiais para fiscalização do trânsito. Se o poder público não puder contar com a tecnologia dos radares para coibir irregularidades, haverá cada vez mais abusos e mortes. 

"Será que quem comete uma irregularidade não deve
ser punido e a culpa é de quem fiscalizou?"
Será que quem comete uma irregularidade não deve ser punido e a culpa é de quem fiscalizou? Recentemente, o Detran-SP (Departamento Estadual de Trânsito de São Paulo) organizou blitze em Mogi das Cruzes para flagrar motoristas embriagados. Dos 157 que fizeram o teste do bafômetro, oito foram autuados por embriaguez ao volante e multados no valor de R$ 1.915,40, cada um, além de responder a processo administrativo junto ao órgão pela suspensão do direito de dirigir por 12 meses. Metade deles também enfrenta a Justiça por crime de trânsito, devido à dosagem maior de álcool ingerido. Choveram reclamações nas redes sociais.

Penso que a fiscalização tem de ser ainda maior. Não é com hipocrisia que se combaterá a incidência de práticas criminosas como a de dirigir alcoolizado. Já passou da hora de parar de olhar só o próprio umbigo. Como parte da sociedade, cada um tem a obrigação de respeitar as regras. Pode haver blitze o tempo todo. Se um motorista anda na linha, não tem o que temer. Caso contrário, viveremos em eterna contradição. Será algo como a pichação que vi, feita contra a fachada de uma casa, com os dizeres: “Cumpra seus deveres!”. Ou seja, você deve cumprir; quem pichou está isento.

Para tentar reduzir a sanha dos condutores embriagados, a alternativa encontrada tem sido endurecer as punições do Código de Trânsito Brasileiro. Está em análise no Senado projeto aprovado pela Câmara dos Deputados que dobra a pena para o motorista alcoolizado responsável por acidente com morte. Passará a ser de 4 a 8 anos de reclusão. Quem pegar a pena máxima terá de cumprir a punição na cadeia, em regime fechado, porque acaba a possibilidade de conversão para prestação de serviços à comunidade.

Num País onde a educação não é levada a sério como deveria e boa parte dos pais se exime da responsabilidade de incutir valores morais e éticos nos filhos, resta o endurecimento das penalidades para tentar frear a incidência da combinação mortal de álcool e direção. E, com ela, as ações desastrosas dos malucos do volante. 

Junji Abe é líder rural, foi deputado federal pelo PSD-SP (fev/2011-jan/2015) e prefeito de Mogi das Cruzes (2001-2008)

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