quarta-feira, 25 de março de 2015

Chega de imediatismo

Entre 1940 e 1960, o Brasil ancorou-se na indústria automobilística como propulsor da economia em todos os sentidos. Sem visão estadista, autoridades políticas fizeram questão de esquecer a gigantesca dimensão territorial deste País. E pior: daquele período até a década 90, fizeram tudo para abandonar o sistema ferroviário. Sucatearam até o aniquilarem integralmente. Aqui em São Paulo (para não citar outros estados), a interiorização do desenvolvimento se fez através de estradas de ferro. Sorocabana, Paulista, Rondon, Mogiana, Santos-Jundiaí, Central do Brasil e outras foram responsáveis por cidades, como Sorocaba, Presidente Prudente, Marília, Araraquara, Campinas, Ribeirão Preto, São José dos Campos, Taubaté, Cruzeiro, etc. 

Sofremos eternamente de imediatismo. A poderosa indústria automobilística multinacional cegou a visão de governantes despreparados e ávidos por simpatia popular e retorno político. Há anos, é a principal responsável pela geração de tributos, empregos, rendas e riquezas. Mas, precisavam ter acabado, por exemplo, com a histórica Ferrovia Central do Brasil, que transportava milhões de passageiros, com qualidade e preço acessível, entre São Paulo e Rio de Janeiro? Repolho, tomate, batata, abóbora e batata-doce de Mogi das Cruzes embarcavam, todo dia, em dezenas de vagões para alimentar os fluminenses. 

A soja americana transportada pelas ferrovias até os portos marítimos tem custo de U$ 17 por tonelada; a argentina sai por U$ 13/tonelada; e a brasileira – melhor do mundo, produzida no Centro-Oeste – chega aos portos custando U$ 100/tonelada, porque tudo aqui viaja em caminhões, desafiando estradas de terra, quebrando asfalto e congestionando cidades portuárias.

"Governantes com visão tacanha não têm tido a grandeza de acelerar o resgate
do transporte de qualidade sobre trilhos" - crédito da foto: Jovino Souza
E o deslocamento diário de milhões de passageiros? Literalmente, uma calamidade pública. Governantes com visão tacanha não têm tido a grandeza e coragem de acelerar o resgate do transporte de qualidade sobre trilhos – metrôs e trens. Continuam enriquecendo o bolso de megaempresários corporativistas. Preocupam-se só com a ampliação das linhas de ônibus e consequente aumento de frotas. A nefasta consequência é a repulsa legítima dos usuários, descontentamento dos condutores de automóveis e revolta total da população pela falta de mobilidade urbana, cada dia pior. 

Neste cenário, onde o poder público não tem mínimas condições de investimentos, sacrificamos, inclusive, importantes programas de ciclovias. Apesar de fundamentais, sofrem antipatia e desrespeito de uma parcela da população.

Temos solução? Evidente que sim. A sociedade está cansada, mas ela é a única que pode reverter a situação, mudando a visão de insensíveis homens públicos que mandam e desmandam. Ou trocando-os, porque ainda vivemos e respiramos a bendita democracia.

Junji Abe é líder rural, foi deputado federal pelo PSD-SP (fev/2011-jan/2015) e prefeito de Mogi das Cruzes (2001-2008)

quarta-feira, 18 de março de 2015

Desafio da superação

O lançamento do pacote anticorrupção, com foco na redução da impunidade – tão alardeado na campanha eleitoral –, é uma ferramenta importante (e tardia) para o governo começar a responder, com um mínimo de respeito, ao clamor das ruas, que ecoou por todo o País. É apenas um dos dispositivos. A Nação carece demais das reformas político-partidária, tributária, previdenciária e trabalhista, entre outras para melhorar a qualidade de vida do povo brasileiro. 

Reputo a reforma político-partidária como carro-chefe. Estamos na contramão da lógica, coerência e bom senso. Na maioria absoluta das nações democráticas, com eleições livres e soberanas, não existem mais do que três ou quatro partidos políticos. Aqui, são 32 e devemos chegar a 36 neste ano. Pior, todos vivendo com dinheiro do Fundo Partidário, que advém de impostos recolhidos do trabalho e suor da população. 

A inadiável reforma política precisa incluir a existência de cinco partidos, no máximo; a coincidência das eleições para evitar que o País pare a cada dois anos; mandatos de cinco anos; voto distrital misto; proibição de coligações partidárias nas disputas majoritárias e proporcionais; regulamentação rigorosa do financiamento público ou privado de campanha, direcionado só aos partidos políticos; e o fundamental: extinção imediata da reeleição para cargos majoritários (presidente, senador, governador e prefeito). 
"Uma profunda reforma político-partidária ajudará
a neutralizar o risco de políticas inadequadas"

O instituto da reeleição me parece o mais perverso. O gestor público que tenta a reeleição tem a seu favor o peso inequívoco da caneta. Fui beneficiado pela possibilidade da reeleição. Tanto, que fui reeleito prefeito de Mogi das Cruzes (Grande São Paulo), Cidade que tive a honra de administrar por oito anos seguidos, de 2001 a 2008. 

Posso afirmar que, por melhor intencionado e coerente que seja, o governante focado na reeleição pensa em agradar para vencer, adiando a adoção de medidas necessárias, se elas têm perfil impopular. 

Em qualquer atividade humana, pública ou privada, se deixarmos de tomar as devidas providências em tempo hábil, sejam de correção, mudança, planejamento, aprimoramento ou até de paralisação, mesmo que temporária, será necessário remédio em dose cavalar e muito mais amargo, visando à superação. 

Uma profunda reforma político-partidária ajudará a neutralizar o risco de políticas inadequadas, fruto da cobiça e luta obcecada por projeto tão somente pelo poder; não por projeto de estado. Ninguém mais confundiria cargos eletivos com profissão, pois desempenhar a função pública eletiva é essencialmente um sacerdócio. 

Vale frisar que nenhuma gestão pública avança com emoção, mas sim com criterioso planejamento de curto, médio e longo prazos. É preciso responder aos brasileiros com eficiência, agilidade e justiça. Só assim, poderemos vencer o desafio da superação dos problemas.

Junji Abe é líder rural, foi deputado federal pelo PSD-SP (fev/2011-jan/2015) e prefeito de Mogi das Cruzes (2001-2008)

sexta-feira, 6 de março de 2015

Mulheres guerreiras

"Faça um manifesto que é grátis. Dê um forte e caloroso abraço"
Sou um privilegiado. Sempre fui cercado por grandes mulheres. Delas, aprendi um pouco a cada dia, todo dia. Ainda no colo da minha avó Makie e da minha mãe Fumica, conheci outra mulher magnífica, a terra. Das sementes dadas a ela, nasciam generosos repolhos e outras hortaliças, assim como folhas de chá, que nos garantiam o sustento na roça.

Durante anos a fio, aprendi com mulheres guerreiras o doce sabor da abnegação, a energia vital proporcionada pelo trabalho, a esperança terna dos sonhos e a força incomensurável da fé. Tinha menos de 5 anos – e era menor que a enxada –, quando ia com minha mãe e irmãos arar a terra. Era uma tarefa árdua, porém, recompensadora.

Devo admitir que, sob influência das grandes mulheres da minha infância, me tornei um ser humano mais sensível e essencialmente grato. A Deus, à vida, ao mundo. A jornada de aprendizado ainda colocaria em meu caminho divindades femininas que muito me ensinariam a encarar melhor, com mais tenacidade e doçura, as dificuldades que se apresentariam.

Sou um eterno devedor de grandes mulheres. Falo de gente guerreira que jamais vi fugir da raia e, apesar da aparente fragilidade, sempre soube fazer emergir uma força sobrenatural capaz de superar os maiores obstáculos. Falo de gente como a minha Elza, esposa devotada e mãe irrepreensível. Sem ela, com certeza, não seria um milésimo do homem que sou.

Convivo com exemplares femininos que, por si, justificam a existência de um dia em homenagem à mulher. Aliás, penso que todos os dias deveriam ser especiais para elas. São guerreiras inatas, cada qual com suas habilidades, encantos e peculiaridades. Falo também das minhas filhas, Daniela e Mariana; da minha nora Renata; das minhas netas Isabelle e Sophia, de todas as figuras femininas do planeta.

Longe de estereótipos e padrões ocidentais de beleza, o fundamental é o que cada uma das mulheres carrega na alma. E como seres altruístas, dispõem-se a compartilhar estas dádivas com os exemplares do sexo masculino. Mesmo que, muitas vezes, eles não mereçam. 

Como um homem inspirado por grandes mulheres e arrebatado pela beleza da alma feminina, elevo minhas preces ao céu para que Deus proteja e ampare todas no planeta. Rogo a todos os homens que se esforcem um pouco mais para serem dignos da presença delas. E que aprendam com elas o indescritível significado de gerar vida. 

Domingo, 8 de Março, é uma data para refletir sobre a importância da mulher em nossas vidas. E de externar os sentimentos que elas nos inspiram. Sem acanhamento, sem receio de parecer ridículo. Mostremos que aprendemos um pouquinho com as infindáveis demonstrações delas. Não precisa se endividar para comprar presente. Faça um manifesto que é grátis. Dê um forte e caloroso abraço. Afinal, como já dizia a Banda Jota Quest, “o melhor lugar do mundo é dentro de um abraço”. 

Parabéns, grandes mulheres!


Junji Abe é líder rural, foi deputado federal pelo PSD-SP (fev/2011-jan/2015) e prefeito de Mogi das Cruzes (2001-2008)

terça-feira, 3 de março de 2015

Revolta dos caminhoneiros

Não fosse a demora do governo em neutralizar distorções na hedionda legislação dos caminhoneiros (12.619, de 30 de abril de 2012), finalmente revogada e substituída nesta segunda-feira (02/03/15) pelo texto aprovado na Câmara dos Deputados, talvez o Brasil escapasse do apagão do abastecimento. Longe de ser uma surpresa, o caos que impera no setor já se havia anunciado no segundo semestre de 2012, quando a categoria deflagrou uma greve de sete dias contra os absurdos da lei colocada em vigor, sem qualquer discussão com os envolvidos no processo.

Foi assim, ignorando a classe produtiva, os profissionais do setor e até os especialistas em abastecimento, que o governo cozinhou os justos reclamos dos caminhoneiros. Interferiu de maneira brutal para tentar mudar e retardar o texto em discussão na Câmara dos Deputados. Não conseguiu e teve de sancioná-lo às pressas neste início de ano, na expectativa de evitar o desabastecimento generalizado. Sei bem disso porque, como deputado federal, na época, fui sub-relator na comissão especial que analisou a matéria. 

Além de buscar encruar os avanços do texto que estabelece regras para a profissão de motorista, o governo iniciou o ano desferindo um duro golpe sobre a categoria: aumentou o preço do diesel, ao elevar as alíquotas do PIS (Programa de Integração Social), da Cofins (Contribuição para Financiamento da Seguridade Social) e da Cide (Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico) sobre os combustíveis. 

Evidente que as quedas nos valores do frete vêm de tempos. No entanto, o resultado financeiro para os profissionais do setor não seria tão negativo, caso a legislação recém-sancionada tivesse saído do papel com a devida celeridade. Cabe observar que cerca de 80% dos mais de 1,2 milhão de caminhoneiros responsáveis por abastecer o País são autônomos. Ou seja, míni, pequenos e médios empreendedores do ramo de transporte de carga que foram, sucessivamente, golpeados com descaso governamental.

A malfada ex-lei dos caminhoneiros entrou em vigor com o endosso simples de burocratas de gabinete que, sob o frescor do ar condicionado, não levaram em conta as deficiências estruturais nos percursos dos caminhões e nem o fato de a categoria incluir transportadores autônomos. O empregado assalariado deseja menos horas de trabalho, maior descanso e melhor remuneração com menor esforço – o que é direito legítimo deles. O autônomo, ao contrário, quer trabalhar mais, comer e dormir menos para poder crescer e melhorar de vida. Em resumo: tentou-se pasteurizar situações radicalmente diferentes.

 "Ignorando a classe produtiva e até especialistas em abastecimento,
governo cozinhou os justos reclamos dos caminhoneiros"
O tempo insano consumido entre a vigência de uma lei esdrúxula – que também ignorava os produtos perecíveis – e sua substituição pelo texto amplamente debatido com o setor só agravou a situação de penúria da categoria. Tanto é importante a prática de uma legislação coerente que a sanção presidencial das novas regras, sem vetos, foi um dos itens do acordo com os caminhoneiros para retomarem as atividades.

Para dar uma ideia da importância da nova Lei dos Caminhoneiros, vale destacar alguns pontos: isenção de pagamento de pedágio para cada eixo suspenso de caminhões vazios; perdão das multas por excesso de peso expedidas nos últimos dois anos; ampliação de pontos de parada para descanso e repouso; aumento da tolerância máxima na pesagem dos veículos; e que o caminhoneiro não seja responsável por prejuízos patrimoniais se uma ação for de terceiros.

Por tantos e tantos fatos, repito o que tenho dito sobre as leis. Cada uma delas precisa ser fruto de um grande debate com os setores envolvidos. No caso da nova Lei dos Caminhoneiros, participei diretamente dos trabalhos e asseguro que ela reflete com legitimidade a voz da categoria, porque resguarda a atividade e viabiliza o abastecimento sem encarecer os produtos aos consumidores. 

Junji Abe é líder rural, foi deputado federal pelo PSD-SP (fev/2011-jan/2015) e prefeito de Mogi das Cruzes (2001-2008)