terça-feira, 29 de dezembro de 2015

Trio do bem

"Feliz 2016! Feliz todo dia!"
A gente fica tão envolto com os problemas cotidianos, tão focado nas urgências e emergências que a vida impõe que se esquece de valorizar o que, de fato, é fundamental. No balaio de múltiplas tarefas, acaba sobrando quase tempo nenhum para cuidados que nutrem a alma e fazem com que cada um justifique sua presença no mundo. 

É fato que 2015 não foi o ano de Alice no país das maravilhas, como alguns comerciais de TV tentam fazer crer. Tampouco, foi o retrato do apocalipse como é pintado em algumas retrospectivas. A exemplo de outras eras que passaram, teve bons e maus bocados. 

Entre inúmeras manifestações superimportantes, invoco perdão, gratidão e fé. São três palavrinhas simples de significado amplo e profundo. Praticadas com a merecida frequência e intensidade, compõem o trio perfeito para embalar a virada de ano e recepcionar bem 2016. Afinal, o que justifica um perdão não pedido nem concedido? Ou um “muito obrigado” não dito? Ou a ditadura do pessimismo de que tudo ficará pior?

Penso que nossos esforços precisam ser dirigidos à meta de sermos pessoas melhores. Não mais ricas e nem mais poderosas. Apenas – e isto é de nobreza ímpar – pessoas melhores.

Tanto os bens materiais quanto o poder são efêmeros. Passarão e se transformarão num piscar de olhos da eternidade. O que fica é a bagagem de conhecimentos. E o que cada um traz na alma. 

Sob a ótica do que é fundamental, a matemática de perdas e ganhos se desprende do sentido convencional. O balanço passa a ter outro contorno. Estar no verde ou no vermelho depende diretamente do bem que se faz ou se deixa de fazer a alguém. São ações que enriquecem ou empobrecem a alma humana. E isto independe do saldo na conta bancária e das posses.

A cada dia, reafirmo minha convicção de que o ser humano foi criado para ser bom. Nenhuma obra de Deus poderia ser ruim. Mas, com o privilégio do livre arbítrio, nem sempre a escolha é o caminho do bem. As opções erradas vão corroendo a alma até não restar sequer o pó. 

Da mesma forma, é possível fazer escolhas certas. E ficar do lado do bem. Não requer prática nem habilidade. Apenas o desejo sincero e o trabalho firme de cultivar as dádivas recebidas do Criador. O mundo precisa de pessoas melhores, cada vez melhores.

Para levar adiante essa revolução interior, vale começar pelos pequenos acertos. Agradecer sempre, todo o tempo, por tudo. Até as situações aparentemente adversas merecem gratidão. Elas trazem grandes lições e até o sofrimento necessário para despertar a força interior, passaporte para a superação. Sim, a capacidade de se erguer e seguir em frente, sem lamentar ou sucumbir à autopiedade.

Dentro dos pequenos acertos, está a necessidade do perdão. Em mão dupla. Ser indulgente e também pedir perdão. Nenhum mortal está imune aos erros. Portanto, a regra é a mútua compaixão. Se vai vestir branco na virada do ano, pular sete ondas ou fazer qualquer outra simpatia, ótimo. Mas, tome uma atitude de bem para 2016: limpe sua alma, derramando sobre todas as dores e sentimentos ruins o sagrado bálsamo do perdão. Perdoe quem lhe causou frustrações, reate os laços com familiares de quem você se afastou e restabeleça a harmonia no seu cotidiano. Você vai se sentir livre e leve. 

Por fim, mas não menos importante, está a fé. Fé em um novo dia, fé nas pessoas, fé no mundo, fé na vida. Não há perspectiva que se abra sem fé. Tudo pode ficar mais belo, menos doloroso e promissor quando se acredita em novas possibilidades. 

Falo de perdão, gratidão e fé em todos os sentidos. São palavras que precisam ser traduzidas em atos no dia a dia. Usemos direito o trio do bem: perdoar, agradecer e nutrir a fé. Tenhamos saúde, determinação, paz, coragem, sabedoria e bondade para fazer de nós mesmos pessoas sempre melhores. Feliz 2016! Feliz todo dia!

Junji Abe é líder rural, foi deputado federal pelo PSD-SP (fev/2011-jan/2015) e prefeito de Mogi das Cruzes (2001-2008)

terça-feira, 22 de dezembro de 2015

Quais as chances de Jesus?

Longe dos embrulhos de presente, das bolas coloridas na árvore e do clima natalino, penso no filho de Deus, que deu origem à sagrada comemoração do Natal. Há 2015 anos, ele foi incompreendido, tido como blasfemo, fraude e uma ameaça ao poder da época. Nada fez para merecer os rótulos que o levaram ao martírio extremo e à crucificação. Tudo fez para tornar o mundo melhor. Era humilde, bondoso, pregava a paz e o amor ao próximo. Exatamente por suas qualidades e dons divinos, foi assassinado pela humanidade.

E nós? A humanidade dos dias de hoje. O que faríamos ao filho de Deus? Começa pela fé. Acreditaríamos Nele? Ou acharíamos que se tratava de mais um charlatão – entre os tantos existentes, querendo se aproveitar da boa vontade do povo? Mais ainda. Num mundo atolado em mazelas, com cada um buscando a brasa só para a própria sardinha, como reagiríamos a alguém que pregasse o absoluto desapego não só ao dinheiro e a outros bens materiais, mas também à qualquer cobrança emocional? 

Como lidaríamos com um ser que desprezasse a riqueza, fosse incorruptível, despido de vaidades e não quisesse o famigerado poder? Ao contrário, que vivesse e dissesse que todos somos iguais, devendo nos amar uns aos outros? Pensaríamos tratar-se de um político demagogo? A mídia buscaria escarafunchar sua vida para tentar achar algo podre? Os denuncistas de plantão se apressariam em arrumar-lhe falhas de caráter, de conduta, de princípios? Seria tachado de esquerda radical ou de extrema direita? Cobraríamos que se posicionasse a favor ou contra o impeachment da presidente? Exigiríamos que entoasse um “fora Cunha”?

Até que ponto seríamos diferentes daqueles que o crucificaram? Teríamos nós a grandeza espiritual de ouvir o filho de Deus antes de sair acusando-o de algum falso malfeito ou de ser uma ameaça à ordem social? A humanidade se recusou a ouvi-lo há 2015 anos. Saberíamos fazê-lo hoje? Se Ele fosse empurrado para o banco dos réus, iríamos às ruas para atestar sua inocência e exigir sua liberdade? Ou, repetiríamos os erros do passado, preferindo poupar qualquer Barrabás em vez de Jesus?

Ao fazer essas questões, invoco uma reflexão sobre tudo o que o filho Deus representa, principalmente para os que, como eu, Nele acreditam. Apenas por um instante, removam da mente os presentes e as delícias da ceia. Pensemos no ser que veio para mudar o mundo. E mudou. Graças à nobreza da sua alma e à verdade das suas lições. Apesar das grotescas falhas humanas. Apesar das imensas fraquezas da civilização. Apesar de tudo... “Quais as chances de Jesus nos dias de hoje?”, pergunto. E respondo que Ele não precisa. Já nos mostrou o significado de amor, deu-nos a esperança do renascimento e a certeza de que o Pai olha por nós. Precisamos aproveitar a chance de aceitar – e praticar – o que Ele ensinou. Então, despidos de ambições, usemos a oportunidade de sermos melhores. De sermos mais fraternos. De sermos também filhos de Deus. E brindemos o aniversário do Mestre, trazendo para todos os dias o significado do seu nascimento e vida. Viva Jesus! Feliz Natal!

Junji Abe é líder rural, foi deputado federal pelo PSD-SP (fev/2011-jan/2015) e prefeito de Mogi das Cruzes (2001-2008)

quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

Juventude antenada

Muitas vezes, ouvi dizerem que adolescentes e jovens da atualidade costumam ser alienados e pouco se importam com os rumos da sua cidade, Estado e País. Estou feliz em afirmar que não é verdade. Dois fatos recentes provam que, se desafiada, a juventude responde com intensidade e competência. 

Um dos acontecimentos se deu no cenário doméstico para a elaboração do Plano Diretor Municipal da Juventude de Mogi das Cruzes, que traz o planejamento de políticas públicas específicas para os jovens nos próximos 10 anos. A comunidade com idades entre 15 e 29 anos respondeu ao chamado do Conselho Municipal da Juventude. Nada menos que 55 mil jovens participaram das audiências promovidas em 60 escolas estaduais de Ensino Médio da Cidade. Do movimento, surgiram centenas de propostas. Destas, 300 foram acolhidas no documento a ser submetido à aprovação da Câmara Municipal.

"Dois fatos recentes provam que, se desafiada, a juventude
responde com intensidade e competência."
Além de apontar demandas como incentivo a novas chances de primeiro emprego, mais vagas em cursos de ensino profissional e tecnológicos, passe livre ou parcial no transporte coletivo para permitir a frequência em iniciativas de aprimoramento educacional ou profissional e abertura de prédios públicos para atividades esportivo-culturais e de lazer nos finais de semana, os jovens provaram que desejam interferir com a política. Cobraram ferramentas para ampliar sua participação nas decisões do poder público.

Isso ocorre num momento de extrema fragilidade da classe política, inundada pela falta de credibilidade sob a sucessão de condenações judiciais e de denúncias de corrupção. É, portanto, meritório ver a juventude interessada em colaborar com a Cidade na expectativa de ajudar a reverter o quadro deplorável de desesperança na política brasileira. Ponto para os jovens que responderam “presente”. Ponto para o prefeito Marco Bertaiolli que incentivou a participação e acolheu as manifestações. Ponto para a sociedade que só tem a evoluir com a efetiva inserção da juventude na definição e condução das políticas públicas.

O outro acontecimento movimentou jovens do Estado inteiro. Tudo começou com uma iniciativa que deveria ser nobre, mas virou um fiasco por causa de como foi conduzida. Falo da proposta de reorganização escolar. O foco da Secretaria Estadual de Educação, proveniente de longa pesquisa, era ajustar a realidade do ensino no mundo atual. Visava preparar crianças e jovens para as jornadas futuras da vida profissional. A meta anunciada era aumentar o número de escolas, divididas por ciclos e por idades. Assim, aprende-se melhor, especializa-se mais, fiscaliza-se melhor, evitam-se conflitos, agressões e bullying. 

Ocorre que o, então, secretário estadual mandou bala na ideia, sem discutir o tema com a sociedade. Ignorou o que pensavam alunos, professores e pais. Pior, colocou no pacote o fechamento de escolas. Talvez, não esperasse tamanha mobilização popular que levou para as trincheiras os jovens que muitos diziam ser alienados. Eles ocuparam centenas de unidades escolares e enfrentaram, de peito aberto e cabeça erguida, a polícia mais poderosa do País, enviada pelo Estado para desocupar os prédios, numa tentativa de dissipar o imbróglio que ele mesmo criou. 

A bravura e determinação dos jovens paulistas fez o governo desistir da reorganização escolar. E mais: inspirou as pessoas. Tanto, que em Mogi das Cruzes foi constituída uma associação para combater eventuais novas tentativas de fechar estabelecimentos de ensino. O movimento chamado “Nossas Escolas, Nossos Direitos” é o pulso da sociedade tomando a defesa dos direitos adquiridos. Tornou-se a cereja do bolo da mobilização popular em torno do assunto. Àqueles de pouca fé, fica a lição de que, às vezes, coisas ruins despertam coisas muito boas. É o caso da juventude antenada. 

Junji Abe é líder rural, foi deputado federal pelo PSD-SP (fev/2011-jan/2015) e prefeito de Mogi das Cruzes (2001-2008)

sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

Costumes admiráveis

A primeira vez em que estive no Japão, um dos fatos que me chamou a atenção, já no aeroporto, foi o uso de máscaras hospitalares por várias pessoas. Não se trata de lei, norma nem nada do gênero. É costume de japoneses colocar o equipamento por causa de alergias, viroses ou simples resfriados. Parece estranho, mas contribui muito para evitar a propagação de doenças contagiosas. 

No Brasil, os japoneses deixaram o público boquiaberto ao recolherem o lixo do chão do estádio, logo após a partida de futebol, durante a Copa de 2014. Não havia obrigação. Era apenas o senso de responsabilidade baseado no conceito simples de que, se sujou, deve limpar. Também é com essa naturalidade extrema que tiram os sapatos para entrar em casa, na sua e na dos outros. Ou, incentivam os restaurantes a oferecerem pano quente e úmido para que os clientes limpem as mãos antes das refeições. Questões de higiene e de respeito. Consigo mesmo e com o próximo. 

Por falar em limpeza, desde crianças, os japoneses aprendem que devem limpar aquilo que sujam. Tanto que a faxina das escolas, inclusive dos banheiros, é feita pelos próprios alunos como parte da grade curricular. Particularmente, acho extremamente válido e útil o ensinamento. É a semente da cultura que, mais tarde, conduzirá a práticas como a de recolher o lixo do estádio de futebol. Ou garantir que as ruas do País do Sol Nascente estejam livres da sujeira que se entulha nas nossas.

Entretanto, soube de mães brasileiras que, no Japão, transferiram os filhos de escolas nipônicas para outras mantidas com costumes do Brasil. Achavam humilhante suas crianças limparem banheiro ou lavarem a louça que usaram para a merenda. Além disso, ficavam assombradas com o fato de os pequenos aprenderem a lavar as próprias meias, encardidas propositalmente depois de caminharem sem calçados dentro e fora do estabelecimento.

Outra curiosidade é a inexistência do ato de dar gorjeta no Japão. Nem em restaurante, táxi ou qualquer tipo de serviço. Oferecer dinheiro a mais é interpretado como insulto, porque há o entendimento de que o cliente já está pagando devidamente pelo serviço que recebeu. 

Para completar a lista de situações que ilustram o tamanho das diferenças culturais, vale reparar que, no Japão, é comum ver as mulheres pagando a conta em restaurantes. São exploradas? Não. São as donas do dinheiro. O marido entrega o salário à esposa e ela controla os gastos do mês. Podem me acusar de feminista, mas acho a prática excelente. As damas costumam ser bem mais criteriosas na gestão financeira doméstica. 

"Como se vê, toda sociedade tem seus erros e acertos"
Apesar da importância desses costumes para chancelar a disciplina e rigidez dos orientais como alicerces de uma sociedade mais justa, organizada e respeitosa, o Japão detém uma das maiores taxas de suicídio entre países desenvolvidos: são 18,5 para cada 100 mil habitantes. O paradoxo é que o senso de responsabilidade, tão cultivado entre os japoneses, é também um dos fatores que tornam o povo nipônico mais propenso a tirar a própria vida. 

Muitos idosos com problemas financeiros se matam para aliviar suas famílias do que entendem ser um peso extra. E ainda garantir que recebam o dinheiro do seguro de vida, porque as companhias japonesas costumam pagar a indenização, mesmo em casos de morte por suicídio. Como se vê, toda sociedade tem seus erros e acertos. Aí, reside a beleza e o mistério da humanidade. E é bom que seja assim. Acima de tudo, vale aprender costumes admiráveis e absorver o que é útil.

Junji Abe é líder rural, foi deputado federal pelo PSD-SP (fev/2011-jan/2015) e prefeito de Mogi das Cruzes (2001-2008)

quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

Mapeamento inédito

"No ano passado, o segmento movimentou mais de
R$ 10 bilhões e garantiu 190 mil empregos diretos"
É sabido que a informação é um dos bens mais preciosos da humanidade. Até agora, o Brasil não tinha uma radiografia da cadeia produtiva de flores e plantas ornamentais. Parece bobagem? Não é. Em especial, para a Nação que tem na agricultura o principal sustentáculo do seu PIB. O mapeamento inédito mostrou que, no ano passado, o segmento movimentou mais de R$ 10 bilhões e garantiu 190 mil empregos diretos, investindo R$ 2,8 bilhões em salários, além de gerar R$ 2,5 bilhões em impostos.

Os dados constam do estudo desenvolvido pela Fundace/USP (Fundação para Pesquisa e Desenvolvimento da Administração, Contabilidade e Economia da Universidade de São Paulo). Foi financiado por meio de emenda parlamentar ao Orçamento da União, no valor de R$ 200 mil – via Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento –, que apresentei, enquanto deputado federal, em atenção às solicitações da Ocesp (Organização das Cooperativas do Estado de São Paulo) e da Cooperativa Veiling Holambra. 

O levantamento tem o condão de subsidiar ações para dinamizar a estrutura produtiva, principalmente por meio de cooperativas, ampliar o consumo interno e incentivar as exportações que são o destino de apenas 1% do que é cultivado. Por incrível que pareça, a balança comercial é negativa: importamos R$ 83 milhões em 2014 e vendemos só R$ 55 milhões no exterior. As informações são preciosas para o planejamento e execução de ações voltadas a aprimorar a atuação de todos os elos da corrente e atender com eficácia quem compra os produtos.

Para nossa Cidade de Mogi das Cruzes, que é líder brasileira na produção de espécies como orquídeas, o estudo tem especial valor. Ajuda os produtores a responderem, com propriedade e eficiência, as demandas do consumidor, melhorando seus resultados. O PIB da cadeia de flores no Brasil foi de R$ 4,5 bilhões no ano passado. 

A escassez generalizada de informações sobre as cadeias produtivas é um dos principais entraves para o fortalecimento do setor. As correntes de olerícolas (verduras, legumes, tubérculos e bulbos), champignon, mel e derivados e de outros itens destinados ao abastecimento do mercado interno também terão de passar por mapeamento completo. Um dos maiores desafios a serem vencidos é a sistematização dos dados para apurar o diagnóstico e, então, trabalhar nas soluções.

A primeira radiografia da cadeia produtiva e do mercado consumidor de flores e plantas ornamentais provou que o setor tem potencial para se consolidar como um dos grandes segmentos nacionais e se tornar um forte exportador. Mais que isso. O mapeamento orienta a formulação de políticas públicas direcionadas ao segmento. Ocesp, Ibraflor (Instituto Brasileiro de Floricultura) e a Câmara Setorial já trabalham na implementação de uma agenda estratégica para combater os gargalos identificados.

Organizado pelo professor da Faculdade de Engenharia e Administração da USP Marcos Fava Neves, o estudo indiciou as dez principais necessidades. Destacam-se transporte e armazenagem mais adequados, com a modernização das Ceasas (Centrais de Abastecimento), a formação de profissionais especializados no segmento e a melhoria de fiscalização e controle para evitar a entrada de pragas e doenças no País, além do acesso a financiamentos e o imprescindível aumento do consumo interno.

Cada brasileiro gasta US$ 9 dólares por ano em flores e plantas ornamentais. Na Suíça, o gasto per capita anual é de US$ 174; na Noruega, US$ 164; na Áustria, US$ 109; na Holanda, US$ 80; nos Estados Unidos, US$ 58; Japão, US$ 45; e Inglaterra, US$ 30. Até o argentino compra mais que o brasileiro: US$ 25 por ano. O baixo do consumo desses itens não é de hoje, por causa da recessão econômica. É histórico. E é uma situação que se repete com as hortaliças e frutas. Constrói mais um indicador de que algo precisa ser azeitado nas cadeias produtivas. 

Todos os dados do Mapeamento e Quantificação da Cadeia Produtiva de Flores e Plantas Ornamentais do Brasil em 2014 estão no livro, disponível para acesso gratuito. Nele, recebo honrosas menções, como a do presidente da Ocesp, Edvaldo Del Grande: “Não podemos deixar de agradecer ao deputado federal Junji Abe, cooperativista da região de Mogi das Cruzes que, apoiado pela Ocesp, conseguiu recursos do Ministério da Agricultura para viabilizar tal estudo”. 

A significativa gratidão ao trabalho das organizações envolvidas virá da sociedade brasileira, quando brotarem os frutos dessa radiografia. Afinal, o crescimento do agronegócio tem impacto positivo direto sobre o bem-estar social. Com a expansão do setor, ganha toda cadeia produtiva, inclusive o consumidor que ganha em qualidade e preços. Ganha a economia brasileira em aumento de receita; ganha a população em empregos, renda e mais investimentos públicos em setores essenciais, como educação, saúde e transportes.

Junji Abe é líder rural, foi deputado federal pelo PSD-SP (fev/2011-jan/2015) e prefeito de Mogi das Cruzes (2001-2008)

quinta-feira, 26 de novembro de 2015

Lama da morte

É de chorar. Não há consolo para a hecatombe que já matou 13 pessoas, deixou 11 desaparecidas quase um mês depois, desabrigou centenas de outras, dizimou milhares de espécies animais e vegetais, condenou recursos naturais e comprometeu a biodiversidade de tal forma que não há previsão de recuperação nem para as gerações futuras. Pior. Os estragos ainda não foram contidos. Multiplicam-se com celeridade ampliando o rastro de destruição para a natureza e para a população. No meio urbano, o caos do desabastecimento – de água, de alimentos, de tudo –; na zona rural, o fim da subsistência de produtores que estão perdendo suas plantações e seu gado porque já não há água e nem pasto. 

O rompimento da barragem em Mariana (MG), catalogado como o maior desastre da indústria de mineração no País, desencadeou o tsunami de lama que matou o Rio Doce. E, junto, a fonte de vida de pessoas, animais e vegetais, ligados direta ou indiretamente a ele. Espalhou-se um volume estimado de 40 bilhões de litros de lama, o equivalente a 16 mil piscinas olímpicas (cada uma comporta 2,5 milhões de litros). O material está contaminado por alumínio, ferro, cobre, manganês, cádmio, chumbo e mercúrio. Devastou cidades mineiras, já atingiu o litoral do Espírito Santo e pode chegar à Bahia. 

"Assistimos, atônitos e agoniados, à jornada da lama da morte"
Assistimos, atônitos e agoniados, à jornada da lama da morte, sem ver os responsáveis pela tragédia – Samarco, mineradora da Vale e da empresa anglo-australiana BHP Biliton – adotando medidas para reverter a contaminação. E também para evitar novas ocorrências, considerando que outras duas barragens (Santarém e Germano) ainda têm risco de estourar. Igualmente, não há sinal de punições à altura da gravidade da tragédia. A multinha aplicada é risível. Cadeia? Nem pensar. Em outras nações, acidentes de menor proporção teriam desencadeado ordem imediata de ações saneadoras e prisões em série.

Aqui no Brasil, tudo que se sabe é que não se sabe o que causou a ruptura da barragem do Fundão. Embora caríssimos, existem tratamentos para minimizar os impactos da contaminação. Porém, não serão levados adiante por conta da pasmaceira do poder público frente à tragédia anunciada de Mariana. Sim, porque fiscalização e denúncias apontavam os riscos de rompimento do reservatório de rejeitos da exploração de minério de ferro. Porém, nada foi feito. Ficou tudo nas rédeas do destino. Aliás, assim tem sido, sucessivamente, ao longo da história nacional. Apesar das desgraças, perduram a imprevidência e a impunidade. 

Ou alguém duvida do quão conveniente é escolher o Brasil para lidar com atividades desse gênero – rejeitos (=lixo) da exploração de minério de ferro –, que apresentam altos riscos à saúde e ao meio ambiente? Primeiro, a fiscalização varia de nula à deficiente. Segundo, se algo dá errado, o prejuízo financeiro da empresa é ínfimo, comparado ao custo socioambiental dos danos. E fica nisso. 

Não por menos, há situações emblemáticas na Região do Alto Tietê, como a explosão do lixo depositado no aterro sanitário da Pajoan, em Itaquaquecetuba, quatro anos atrás, ou o rompimento, em 2010, do duto de combustíveis da Transpetro, na Volta Fria, em Mogi das Cruzes. Em ambos os casos, o passivo ambiental persiste, sem que a aplicação de multas tenha forçado sua eliminação. 

O que se faz é tentar apagar incêndio ou botar tranca depois da porta arrombada. Por exemplo, no caso mogiano, enquanto deputado federal, cobramos, seguidas vezes, providências da Transpetro para resgatar o bem-estar das famílias e acelerar a remediação dos danos ambientais. Nada funcionou. Até apresentamos projeto de Lei (5508/2013) para forçar a prevenção de rompimento de dutos de combustíveis. Quando deixei a Câmara, em janeiro último, a proposta foi arquivada. 

Enquanto o poder público no Brasil continuar cúmplice da política do descaso com a sociedade, praticada por empresas que mantêm atividades geradoras de risco socioambiental, estamos fadados a conviver com ameaças de reprises de tragédias. Até que o destino resolva consolidá-las. Se nada mudar, não tardará para que outras hordas de lama da morte cubram o território nacional, aumentando a conta do descalabro para as gerações futuras. 

Junji Abe é líder rural, foi deputado federal pelo PSD-SP (fev/2011-jan/2015) e prefeito de Mogi das Cruzes (2001-2008)

sexta-feira, 20 de novembro de 2015

Natal da recessão

O brasileiro pretende gastar quase 15% menos do que no ano passado em suas compras de Natal. O gasto médio por presente deve ser de R$ 106,94 contra os R$ 125,22 desembolsados em 2014. A quantia cai para R$ 97,85, se considerados os compradores das classes C, D e E. Os números foram calculados com base em 93% dos entrevistados que mostraram intenção de presentear alguém. Em média, cada consumidor planeja contemplar não mais que cinco pessoas.

Esses dados constam da pesquisa SPC Brasil (Serviço de Proteção ao Crédito) e da CNDL (Confederação Nacional dos Dirigentes Lojistas), realizada em todas as capitais com 601 entrevistas. O movimento natalino de 2014, que já havia registrado vendas cerca de 1% abaixo das do ano anterior, será ainda mais modesto em 2015.

Até aqui, sem novidade. Afinal, a economia nacional cambaleia com índices crescentes de inflação e desemprego, associados a quedas históricas dos níveis de atividade econômica. Para ilustrar, basta dizer que o volume de serviços prestados no País desabou 4,8% em setembro em relação ao mesmo mês do ano passado, segundo pesquisa do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). 

As projeções nada animadoras vêm junto com o temor justificado do sumiço da fonte de renda. Trabalhadores vivem a tensão cotidiana de perder o emprego. Pequenos empresários, às voltas com a queda do movimento, enfrentam a ameaça de encerramento das atividades. Nem só os microempresários nadam contra a maré. Há grandes lojas que nem contratarão temporários para o fim de ano, ao contrário de temporadas anteriores.

O Natal de vacas magras chega com alerta máximo para que se evite dívidas. Sem dinheiro na mão, não compre. Se tem, pague à vista. É a intenção de 42,3% dos ouvidos na pesquisa do SPC. Parcelar em cinco vezes no cartão de crédito foi a alternativa apontada por 27,7%. Mesmo sem juros, está longe de ser boa opção. Afinal, o consumidor estará pagando a compra até maio, ao lado do bolo de gastos do início do ano – IPTU, IPVA, material escolar etc. Pior, apostando num otimismo que a recessão oficial não inspira.

É tempo de prudência. Quem tem criança em casa, sabe o quanto faz falta um presente para dar no Natal. Isso me faz lembrar da minha infância. Não existia a magia dos brinquedos sofisticados, videogames e tablets. Ainda que houvesse, meus pais – imigrantes japoneses, agricultores – não poderiam comprar. 

Meninos ganhavam carrinhos de madeira de caixote de verduras e as meninas recebiam bonecas de pano. Tudo feito em casa mesmo. E sem papel de presente. O mais aguardado, contudo, era o que tinha na mesa. Uma vez por ano, no Natal, a gente bebia refrigerante (sem gelo, porque não tinha geladeira). Como era bom! Até hoje, recordo-me da alegria que era ouvir o barulhinho da garrafa sendo aberta. 

As dificuldades são grandes mestras. Crescer longe de farturas e do acesso desmedido às coisas que só dinheiro compra pode tornar alguém melhor preparado para enfrentar adversidades, muito mais solidário e totalmente avesso a desperdícios. Ser privado de presentes caros não traumatiza ninguém. Na verdade, ajuda a ensinar o valor das pequenas dádivas. Grande mesmo tem de ser o amor em família. 
"Neste Natal da recessão, não faça dívidas.
Faça as boas lembranças de amanhã." 

As crianças podem ser bem mais compreensivas e generosas do que se pensa. Quase tudo que, de fato, interessa na vida, não vem em pacotes coloridos, com laços e pompas. Surge da simplicidade. Vem do coração. Neste Natal da recessão, não faça dívidas. Faça as boas lembranças de amanhã. #ficaadica 

Junji Abe é líder rural, foi deputado federal pelo PSD-SP (fev/2011-jan/2015) e prefeito de Mogi das Cruzes (2001-2008)

sexta-feira, 13 de novembro de 2015

Efeito bumerangue

O Brasil é o quinto país mais violento para as mulheres num ranking de 83 avaliados pela Organização Mundial de Saúde. A taxa de homicídios contra a população feminina cresceu 8,8% entre 2003 e 2013. Significa que, no período, 11 foram assassinadas por dia. Pior é que mais da metade delas (50,3%) foi morta por um familiar. Em 33,2% dos casos, o feminicídio foi praticado pelo próprio parceiro ou ex-parceiro. 

Os dados constam do “Mapa da Violência 2015 – Homicídios de Mulheres no Brasil”, coordenado pelo sociólogo Julio Jacobo Waiselfisz e divulgado pela Flacso/RJ (Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais). A situação catastrófica não é peculiaridade de regiões distantes das capitais. Aqui no Alto Tietê, seis dos dez municípios estão entre os mil com mais casos registrados no País. Em nossa Mogi das Cruzes, foram 30 assassinatos femininos entre 2009 e 2013.

É bem verdade que o aumento da taxa de homicídios contra mulheres reflete o avanço generalizado da violência em todo o País. Isto não muda a urgência de aperfeiçoar medidas capazes de inibir os assassinatos femininos. Um dos pontos cruciais é conscientizar a mulher para que denuncie a agressão sofrida. Hoje, o crime foi bater; amanhã, pode ser matar. 

É dever do poder público garantir o acesso à rede de proteção feminina. O assunto sempre esteve entre minhas prioridades na vida pública. Enquanto deputado estadual, por exemplo, participei ativamente das ações para viabilizar a instalação da Delegacia de Polícia de Defesa da Mulher em Mogi das Cruzes, efetivada em 8 de julho de 1991. Como prefeito, acolhi as solicitações das autoridades de segurança pública do Estado para, com recursos do orçamento municipal, concretizar o novo prédio da unidade, inaugurado em 18 de abril de 2006 no Parque Monte Líbano, onde está até hoje. 

Ao mesmo tempo, é imprescindível combater a impunidade. Há legislação boa, com foco na proteção das mulheres, como a Lei Maria da Penha e a Lei do Feminicídio (assassinato de mulheres derivado de violência doméstica), sancionada em março último. Contudo, a velocidade do Judiciário não ajuda no processo de intimidar os criminosos. A demora só intensifica o entendimento de que o malfeitor acaba impune.

O coordenador do estudo apontou o machismo como o principal responsável pela maioria dos assassinatos cometidos contra as mulheres no Brasil, que tem uma sociedade extremamente patriarcal. Até pouco tempo atrás, havia justificativa legal para o homem matar uma mulher que o traísse. Concordo que é necessário vencer barreiras culturais para possibilitar a evolução equilibrada da sociedade. Mas, não compactuo com o conceito de que todo homem é um ser desprezível que, na primeira oportunidade, oprimirá a mulher. 

Tenho visto nas redes sociais uma onda crescente de propagação de ódio às diferenças de gênero. Começou com as pregações contra homossexuais, avançou contra a população trans e, há algum tempo, contra os homens. É preciso cautela para evitar a generalização indevida das pessoas. Antes de tudo, somos seres humanos, dotados de virtudes e defeitos. 

Sou um admirador declarado das mulheres e suas habilidades incríveis, como o sexto sentido – invariavelmente, certo, ainda que não saibamos bem por que –, a extrema sensibilidade e a capacidade multifuncional – fazem diversas coisas ao mesmo tempo, sem se perderem. Defendo que tenham os mesmos direitos, oportunidades e salários que os homens. Isto não faz de mim um feminista. Até porque, creio que o público masculino também tem seus méritos. 

"Sua intolerância de hoje pode ser a mesma
 de alguém contra vocês amanhã."
Podem me chamar de retrógrado ou até me acusar de machista. Mas, ainda acho que determinadas atitudes são deveres do homem. Por exemplo, abrir a porta do carro para uma dama entrar ou sair, carregar o saco de lixo pesado para fora, colocar as compras pesadas para dentro, consertar o chuveiro que pifou, abrir pote com tampa emperrada, matar o rato que entrou no motor da máquina de lavar, desentupir a tubulação de esgoto e outras. Não que a mulher esteja impedida de desempenhar essas tarefas. Mas, em princípio, elas são obrigações de homem. Pronto, comecem a arremessar os dardos! Mas, lembrem-se do efeito bumerangue: sua intolerância de hoje pode ser a mesma de alguém contra vocês amanhã.

Junji Abe é líder rural, foi deputado federal pelo PSD-SP (fev/2011-jan/2015) e prefeito de Mogi das Cruzes (2001-2008)

sexta-feira, 6 de novembro de 2015

Bendita concorrência

As duas maiores operadoras em número de clientes de celulares pré-pagos anteciparam o fim do chamado “efeito clube”. Tim e Oi deixaram de cobrar mais caro dos clientes nas chamadas para empresas concorrentes. Contudo, o acesso ao benefício está vinculado à migração para novos planos. Já é alguma coisa, considerando o péssimo – e caríssimo – serviço de telefonia vigente no País.

Desde a popularização da telefonia celular, as teles fazem os usuários pagarem valor maior por minuto nas ligações completadas para empresas concorrentes. A ideia sempre foi incentivar o cliente a chamar números da própria operadora, independentemente do local onde cada um esteja no País. Todas dão descontos nestas chamadas. Criaram, assim, o tal “efeito clube”. Tanto, que conheço gente que anda com quatro chips para trocá-los dependendo da operadora do destinatário. 

Essa prática acabou incorporada à rotina de quem usa celular pré-pago. Na modalidade pós-paga, sempre que um cliente liga para um número concorrente, também desembolsa mais por minuto para bancar os custos pela interconexão entre as redes das empresas. A Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) determinou a redução gradativa dos valores de interconexão entre as operadoras. Hoje, é de R$ 0,16 por minuto. Em fevereiro do ano que vem, passará a R$ 0,10, e desaparecerá em 2018. Ou seja, o “efeito clube” está com morte anunciada.

A revisão do valor, anunciado pela Anatel, chega com mais de 14 anos de atraso em relação ao que consta na Lei Geral de Telecomunicações. Os brasileiros arcam com as mais altas tarifas de interconexão do planeta. A distorção garante até 40% da receita das operadoras, prática ilegal, severamente punida em outros países e banida nas matrizes das respectivas empresas que aqui atuam. Esse foi um dos motivos que me levaram a insistir na constituição da CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) da Telefonia Móvel na Câmara dos Deputados. Infelizmente, isto não aconteceu até o fim do meu mandato, em janeiro último. 
"O 'efeito clube' está com morte anunciada."
A CPI investigaria as quatro maiores operadoras de telefonia móvel – Vivo, Oi, TIM e Claro – a fim de analisar alegações para elevadas tarifas, cobranças inadequadas, mau atendimento aos usuários que, sequer, recebem explicações, e falhas sistemáticas nas ligações, como quedas e falta de sinal. Também apuraria o que foi arrecadado desde 1997 e se houve investimentos compatíveis. Os péssimos serviços mostram que a conta não fecha.

Duas das quatro grandes operadoras só anteciparam o fim do ônus de interconexão. Não pensem que a medida surgiu da benevolência dos respectivos comandos empresariais. É o reflexo claro da concorrência com aplicativos que possibilitam chamadas de voz pela internet, como o WhatsApp. Por que o usuário pagará por uma ligação que pode fazer de graça, desde que tenha conexão com a rede mundial de computadores? Em especial, num momento em que virou ordem geral a disponibilização livre de redes Wi-Fi em comércios e locais públicos. 

Empresas como a Vivo se manifestam com furor contra o serviço do WhatsApp e aplicativos similares. Evidente que tiram receita das operadoras. Verdade é que as teles já ganharam e continuam abocanhando muito dinheiro dos usuários brasileiros. Ocupando a desonrosa liderança no ranking de reclamações, as operadoras de telefonia móvel agem como querem, sem que a Anatel tome providências. Para prestar um serviço menos eficiente que sinal de fumaça, cobram preço de ouro dos usuários. As tarifas são mais predatórias para quem tem plano pré-pago: os donos de 208 milhões das mais de 280 milhões de linhas de celulares em operação.

Ainda tramita na Câmara um projeto de Lei (4524/2012), de minha autoria, que proíbe valores diferenciados entre as duas modalidades de serviço – pré e pós-pagas. O objetivo é acabar com a lambança de cobrar mais de quem paga antes para usar o celular. Cerca de 74% da população, incluindo os menos favorecidos, brindam operadoras com pagamento antecipado e, mesmo assim, arcam com tarifa, no mínimo, 130% acima da cobrada do cliente de pós-pago. Enquanto faltam regras apropriadas, fiscalização e punições às teles, resta-nos a salutar concorrência. Bendita concorrência! 

Junji Abe é líder rural, foi deputado federal pelo PSD-SP (fev/2011-jan/2015) e prefeito de Mogi das Cruzes (2001-2008)

sexta-feira, 30 de outubro de 2015

Veterinária popular

Em meio a tantas más notícias no Brasil, pinço uma positiva para baratear o tratamento de animais no campo e nas cidades. A Comissão de Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento Rural da Câmara Federal aprovou o projeto de lei (4148/2012) que apresentei em conjunto com o deputado César Halum (PRB-TO). Trata-se da proposta que cria as farmácias veterinárias populares, aos moldes da rede já existente para comercialização de medicamentos humanos a preços subsidiados.

Para que a iniciativa vire lei, serão necessários os pareceres favoráveis das comissões de Finanças e Tributação; e de Constituição e Justiça e de Cidadania, assim como o aval do Plenário da Casa. De qualquer forma, o avanço da proposta já é algo bom, considerando que não estou no exercício do cargo de deputado federal.

Nosso projeto prevê que as farmácias veterinárias populares formalizem convênio com a União, Estados, Distrito Federal e Municípios para vender ao consumidor medicação veterinária a preços subsidiados. A iniciativa complementa e fortalece a legislação (lei 12.689/2012), que estabelece o medicamento genérico de uso veterinário no Brasil, para beneficiar tanto os míni e pequenos criadores quanto as pessoas que têm animais de estimação em casa, além de contribuir para resguardar a saúde pública. 

As farmácias veterinárias populares facilitarão o tratamento dos animais, por meio do acesso aos remédios com preços subsidiados. A introdução dos genéricos veterinários já tende a baratear a medicação em cerca de 30%. 

No campo, estão mais de 4,3 milhões de produtores de pequeno porte que atuam em 84% das propriedades rurais brasileiras e respondem por cerca de 10% do PIB (Produto Interno Bruto) nacional. A maior parte cria animais como peixes, aves, suínos e gado leiteiro, entre outros, para consumo e venda em pequena escala.

A medicação veterinária é fundamental para criadores de todos os tamanhos. Mas, nas pequenas propriedades, a preocupação é maior, porque o baixo resultado financeiro da atividade agrícola mal garante o sustento das famílias. E não sobra dinheiro para cuidar da saúde dos animais criados por esses pequenos produtores. A situação ameaça o desempenho da economia brasileira: os principais focos de doenças animais podem surgir em pequenos imóveis rurais e, depois, se alastrarem para outras áreas. 

No meio urbano, a legislação proposta também trará benefícios diretos ao controle de zoonoses. Como exemplo, está a leishmaniose visceral ou calazar, uma enfermidade transmitida pelo mosquito-palha. Ao picar, o inseto introduz na circulação do hospedeiro o protozoário responsável pela infecção que pode passar do animal para o ser humano.
"A introdução dos genéricos veterinários já tende
 a baratear a medicação em cerca de 30%."
Com medicamentos veterinários vendidos a preços mais acessíveis, as famílias com animais de estimação terão maiores condições de providenciar o tratamento de seus cães, gatos e pássaros, entre outros. Quem já passou pelo sofrimento de ter seu bichinho doente e não dispor de recursos para bancar os remédios sabe bem o que isso significa. 




Junji Abe é líder rural, foi deputado federal pelo PSD-SP (fev/2011-jan/2015) e prefeito de Mogi das Cruzes (2001-2008)

quinta-feira, 22 de outubro de 2015

Combinação mortal

Uma mulher com sinais de embriaguez atropelou e matou dois em São Paulo. Uma das vítimas era gari. O outro pintava uma ciclovia na rua. Para completar, a motorista ainda tentou fugir. Os casos se multiplicam com voracidade. Dificilmente, uma semana termina sem ocorrências no trânsito, causadas por gente que insiste em dirigir alcoolizada. Já as punições tropeçam mais do que bêbado e, não raro, passam longe do esperado rigor sendo transformadas em prestação de serviços à comunidade. A sensação de impunidade vira combustível para novos registros de condutas lesivas.

Com a prática ilegal de dirigir alcoolizado ou drogado, os malucos do volante tiram milhares de vidas, inclusive as próprias, ou mutilam suas vítimas no País inteiro. Acidente? Ora, se o motorista resolve dirigir sob influência de álcool ou drogas, sabe que corre o risco de matar e ferir. Se acontece, ainda que sem intenção, não foi acidente. Não adianta dizer que tomou só um copinho de cerveja ou uma taça de vinho. Álcool no organismo afeta as condições normais do indivíduo. Seus efeitos variam para cada pessoa. Mas, a regra vale para todos: se beber, não dirija. Ponto final. 

Por mais que parte dos motoristas reclame das regras de trânsito, elas existem para serem cumpridas. Apesar da fiscalização, um sem-número de infratores sai impune dos abusos que comete. Nas saídas de bares e restaurantes, muitos frequentadores saem trançando as pernas e assumem o volante. Podem chegar em casa sem ter causado tragédia. Mas, nada fizeram para evitá-la. Se são flagrados por um radar em razão do excesso de velocidade, são os primeiros a acusarem o poder público de cultivar uma indústria de multas.

Abro parênteses para uma observação. Parte da população e da mídia, que combate as irregularidades, alimenta total aversão aos radares eletrônicos. Muitos se esquecem de dois fatores. De um lado, está a Lei de Responsabilidade Fiscal que, de 20 anos para cá, limita os custos com folha de pagamentos, restringido contratações. De outro, o aumento da criminalidade diminui o contingente de policiais para fiscalização do trânsito. Se o poder público não puder contar com a tecnologia dos radares para coibir irregularidades, haverá cada vez mais abusos e mortes. 

"Será que quem comete uma irregularidade não deve
ser punido e a culpa é de quem fiscalizou?"
Será que quem comete uma irregularidade não deve ser punido e a culpa é de quem fiscalizou? Recentemente, o Detran-SP (Departamento Estadual de Trânsito de São Paulo) organizou blitze em Mogi das Cruzes para flagrar motoristas embriagados. Dos 157 que fizeram o teste do bafômetro, oito foram autuados por embriaguez ao volante e multados no valor de R$ 1.915,40, cada um, além de responder a processo administrativo junto ao órgão pela suspensão do direito de dirigir por 12 meses. Metade deles também enfrenta a Justiça por crime de trânsito, devido à dosagem maior de álcool ingerido. Choveram reclamações nas redes sociais.

Penso que a fiscalização tem de ser ainda maior. Não é com hipocrisia que se combaterá a incidência de práticas criminosas como a de dirigir alcoolizado. Já passou da hora de parar de olhar só o próprio umbigo. Como parte da sociedade, cada um tem a obrigação de respeitar as regras. Pode haver blitze o tempo todo. Se um motorista anda na linha, não tem o que temer. Caso contrário, viveremos em eterna contradição. Será algo como a pichação que vi, feita contra a fachada de uma casa, com os dizeres: “Cumpra seus deveres!”. Ou seja, você deve cumprir; quem pichou está isento.

Para tentar reduzir a sanha dos condutores embriagados, a alternativa encontrada tem sido endurecer as punições do Código de Trânsito Brasileiro. Está em análise no Senado projeto aprovado pela Câmara dos Deputados que dobra a pena para o motorista alcoolizado responsável por acidente com morte. Passará a ser de 4 a 8 anos de reclusão. Quem pegar a pena máxima terá de cumprir a punição na cadeia, em regime fechado, porque acaba a possibilidade de conversão para prestação de serviços à comunidade.

Num País onde a educação não é levada a sério como deveria e boa parte dos pais se exime da responsabilidade de incutir valores morais e éticos nos filhos, resta o endurecimento das penalidades para tentar frear a incidência da combinação mortal de álcool e direção. E, com ela, as ações desastrosas dos malucos do volante. 

Junji Abe é líder rural, foi deputado federal pelo PSD-SP (fev/2011-jan/2015) e prefeito de Mogi das Cruzes (2001-2008)

quinta-feira, 15 de outubro de 2015

Missão de ensinar e aprender

"Eleger a educação como prioridade é decisão
de governo. E isto deve ser feito nas três esferas"
A realidade mostra que o educador está longe de motivos para comemorar o Dia do Professor. Em nosso Estado, o setor está às voltas com a propalada reorganização escolar que, em tese, seria uma proposta promissora. Porém, arremessada de forma atabalhoada e sem prévia discussão com a comunidade, desencadeou rumores de fechamento de escolas e dispensas. Nada teve confirmação oficial, mas serve para aterrorizar mais um segmento extremamente fragilizado por sucessivas manifestações de descaso governamental.

A valorização do professor passa, obrigatoriamente, pelo aumento de salário. Mesmo que a correção venha de forma escalonada, tem de começar já. O governo tem falhado no reconhecimento e aprimoramento do profissional, assim como na oferta de condições para que o educador desenvolva suas funções. Parte da sociedade repete o malfeito, deixando de dar aos filhos educação no lar. E joga a responsabilidade nas costas do educador.

Eleger a educação como prioridade é decisão de governo. E isto deve ser feito nas três esferas – federal, estadual e municipal. Se cada um cumprir a sua parte, a médio prazo, os frutos virão. A prova está em Mogi das Cruzes, Cidade que comandei por oito anos seguidos. Chegamos em 2001, com um cenário de caos na educação, marcado por famílias que acampavam em frente às escolas para conseguir vagas. 

Era imprescindível garantir o acesso do aluno à unidade escolar, motivar seu desenvolvimento em um ambiente seguro, atendido por profissionais valorizados e professores qualificados para uma ação pedagógica cada vez mais eficiente numa rede escolar integrada com a comunidade, dotada de estrutura física e operacional apropriadas, em sintonia com os avanços tecnológicos.

Seria muita pretensão dizer que Mogi das Cruzes está à frente das demais cidades do País. Nas últimas décadas, contudo, os gestores municipais se dedicaram ao setor. Enquanto fui prefeito, por exemplo, tratamos de respeitar o magistério, com remuneração valorizada – e, comparativamente, bem melhor que de outros municípios – e plano de carreira para os profissionais da Educação. 

Também investimos pesado na capacitação, aperfeiçoamento e reciclagem dos docentes. Uma das realizações emblemáticas foi o Cemforpe (Centro Municipal de Formação Pedagógica) que possibilitou programas contínuos de qualificação para os professores. Não bastasse, redimensionamos o formato de escola convencional, com a construção de prédios modernos e amplos, todos com quadras poliesportivas, dotados de bibliotecas multimídias e laboratórios de informática, abertos à comunidade nos finais de semana. 

Visando a inclusão de alunos portadores de necessidades educacionais especiais, criamos o inédito Pró-Escolar. Representou um circuito específico para atender este público que, antes, exigia esforços sobre-humanos dos professores das classes regulares. Também implantada em nosso governo está a Escola Ambiental, conhecida mundialmente pela proposta de ser um centro de pesquisas e formação de educadores, além de orientação ambiental a estudantes. 

Ainda no terreno da inovação, concretizamos o Cempre (Centro Municipal de Programas Educacionais) Ruth Cardoso com o objetivo de estruturar a rede municipal para a implantação do período integral nas escolas. A medida foi efetivada pelo nosso sucessor, Marco Bertaiolli, que já contemplou aproximadamente 50% da rede escolar. 

Trago aqui o justo reconhecimento à professora Maria Geny Borges Ávila Horle, secretária municipal de Educação ao longo dos oito anos em que governamos Mogi. Ela constituiu uma fabulosa equipe que, até hoje, dá o diferencial positivo ao ensino municipal. 

É evidente que não se pode contentar a todos. E nem garantir remuneração à altura do valor de um professor. Mas, nos esforçamos para chegar ao limite do que os cofres municipais nos permitiram fazer. Tanto é que, em dois mandatos seguidos como prefeito, nunca sofremos movimentos de greve ou descontentamento coletivo por parte dos profissionais da Educação da rede municipal. Portanto, é possível ajudar a mudar a realidade do ensino público. Basta querer. Não apenas para honrar os professores, mas também para viabilizar a evolução da sociedade brasileira. 

Junji Abe é líder rural, foi deputado federal pelo PSD-SP (fev/2011-jan/2015) e prefeito de Mogi das Cruzes (2001-2008)

quarta-feira, 14 de outubro de 2015

Até logo, Tote!

A Imprensa do Alto Tietê amanheceu triste, menos brilhante, sem as cores e o pulso firme do seu principal patrono. Atendendo ao chamado divino, o jornalista Tirreno Da San Biagio – Tote, como era conhecido – deixou nosso convívio. Tinha 83 anos de idade, 57 deles dedicados a sua obra máxima, o jornal O Diário, seu filho que a sociedade aprendeu a amar e já não vive sem. 

O meio jornalístico perdeu um ícone. Perdi um grande amigo. Alguém com quem, por tantas vezes, fui me aconselhar. E, por muitas outras, pedir ajuda. Acho que o conhecia desde sempre. Era um jovem agricultor, de pouco mais de 20 anos, quando tive meu primeiro contato com ele. Por meio do jornal, deu voz ao setor agrícola. Encampou nossas lutas, empunhou nossas bandeiras, abraçou o homem do campo e defendeu a atividade em momentos quando ninguém queria falar de agricultura. 
"Tote era assim. Simples e sincero. Legítimo sempre,
depositava paixão em tudo que fazia."

Tote era assim. Simples e sincero. Legítimo sempre, depositava paixão em tudo que fazia. Diria Fernando Pessoa que era a lua toda brilhando em cada lago. Sua devoção inspirou profundas transformações na sociedade. Ele deu, verdadeiramente, genuínas contribuições para os avanços que se consolidaram em Mogi das Cruzes e Região, assim como para o próprio aperfeiçoamento da comunidade. 

O desenvolvimento sustentável do Alto Tietê deve muito ao Tote e sua abnegação no comando de O Diário. O jornal passou a influir, com intensidade contínua, em todos os aspectos do cotidiano regional – político, econômico, social, ambiental, cultural e histórico. O notório filho do grande jornalista tornou-se também um membro da família mogiana. Fez e faz história. É a principal dádiva oferecida por Tote ao povo, porque o ser humano melhor informado acelera a evolução social.

Sinto um enorme pesar em meu coração. Pouco antes de ele ser internado, estivemos juntos. Como sempre, falamos de tudo. Não imaginei que seria a última vez. O dia amanheceu sem ele. Rendo minhas homenagens ao eterno amigo e empreendedor que promoveu a revolução da comunicação em Mogi das Cruzes. 

Rendo todas as homenagens ao homem que nunca enxergou o impossível. Mas, que fez das dificuldades a força motriz para as conquistas. Ele elevou a qualidade do seu trabalho ao nível de excelência capaz de extrapolar fronteiras físicas e emocionais. E se tornou um símbolo nacional da sadia, eficiente e dinâmica informação diária à população. À sua parceira amada de toda hora, dona Neid, aos filhos Spartaco e Túlio, aos netos, toda sua família e colaboradores, meus sentimentos e muita luz! Ao meu amigo, que descansa na morada do Criador: Até logo, Tote!

Junji Abe é líder rural, foi deputado federal pelo PSD-SP (fev/2011-jan/2015) e prefeito de Mogi das Cruzes (2001-2008)

quinta-feira, 8 de outubro de 2015

Sede de vida

A semana começou com a notícia de que metade da população das grandes cidades brasileiras concorda com a afirmação de que “bandido bom é bandido morto”. O resultado foi extraído da pesquisa Datafolha, realizada no final de julho por encomenda do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, ONG que reúne especialistas em violência urbana do País.

Muito comentado nas redes sociais, o levantamento despertou reações das mais diversas. De um lado, manifestações de quem acredita que o instituto encontrou um número muito modesto de adeptos do tal olho por olho, diante da insegurança generalizada instalada no Brasil. De outro, gente que se espantou com a sede de matança porque não concorda com a pena capital. 

Por ser predominantemente um povo cristão e com grande miscigenação, o brasileiro sempre foi mais tolerante em comparação com outros de países mais distantes e até melhor posicionados sob o aspecto econômico. 

À medida em que os governos mostram-se ineficazes para cuidar da segurança pública, multiplicam-se as ocorrências criminais, impulsionadas pelo crime organizado e pelo crescente tráfico de drogas. E, com elas, a tendência de aflorar no cidadão comum seu instinto animal de proteger sua prole e território a qualquer custo. Mesmo que isto signifique amordaçar a civilidade para apregoar o extermínio de quem quer que lhe pareça uma ameaça.

Chega-se num ponto em que o ser humano deixa de rosnar e parte direto para a mordida voraz, disposto a estraçalhar. É o efeito da ausência ou ineficiência de políticas públicas de ordem social, educacional e cultural. Por mais que se aplauda o regime democrático – ou algo próximo vigente no País –, o fato é que a batalha contra a intolerância já começa perdida.

Para que se possa começar a combater o instinto animal de atacar continuamente, é necessário trazer os índices de violência a limites plausíveis. É preciso romper a sequência de crimes, que expõe a pessoa ao thriller ininterrupto de terror, porque o medo é o parente mais próximo da agressão. 

Ao longo do tempo e, em especial, nas últimas três décadas, o Brasil vem perdendo as referências e exemplos de conduta. Falo de grandes lideranças, de todas as áreas, com trajetória ilibada, convicção moral e ética insuspeita. Elas foram minguando até deixar de irradiar lições a serem seguidas. 

Ocorre que já se faz tarde a reconstrução moral da sociedade brasileira. Se a missão começar agora, é trabalho para uma geração inteirinha. Mas, precisa ter início. Requer, sim, ensino de qualidade, com difusão da prática da cidadania, e acesso gratuito às diversas modalidades culturais. Paralelamente, exige esforços permanentes no lar para o resgate de valores morais, assim como dos conceitos de certo e de errado. Família, religiosidade – qualquer que seja o credo –, educação e cidadania são a base para uma sociedade mais justa, solidária e fraterna.

Dentro do atual contexto, mais importante do que promover as reformas estruturais e reconduzir o Brasil para a trajetória de desenvolvimento econômico, é reconstruir a sociedade brasileira sob os pilares da civilidade e do respeito ao próximo. É fácil clamar por pena de morte e fazer ode aos justiceiros. Mas, é justo? 

Por um minuto, ponha-se no lugar das famílias que perderam seus parentes em chacinas. Enquanto houver um inocente morto por quem resolve fazer justiça com as próprias mãos – policial ou não –, é prova de que a matança está fadada ao fracasso. 

Não é só. Sou apoiador irrestrito do princípio constitucional de que todos são inocentes até prova em contrário, confirmada até o nível máximo do Judiciário. Quem cometeu um delito, qualquer que seja, precisa ser punido. Mas, não exterminado. Sou cristão e nunca vou concordar que se tire a vida de alguém. Em sã consciência, alguém acredita que não haverá – como tem havido – condenações equivocadas de gente inocente?

Ao apoiar a tese do olho por olho, dente por dente, a sociedade caminha por uma estrada sem volta, onde só restarão banhos de sangue. Vejam as catástrofes que já acontecem por intolerância, preconceito e ódio de todo tipo.

"Cultivemos a força da fé e a pureza da alma infantil
que vive em cada um para aprendermos a ter sede de vida." 
É imperioso cuidar do maior capital do ser humano que são suas próprias sensibilidade e capacidade de discernir o certo do errado. Assim como um animal, quando acuada, a pessoa perde a racionalidade. Como brasileiros, estamos acuados com tudo. Mas, precisamos reagir. E buscar em nós mesmos os meios de enfrentar as dificuldades. Com mais amor, mais fé e menos de vontade de morder.

Invoco o feriado da Padroeira do Brasil para uma reflexão sobre os rumos que traçamos para as gerações futuras. Que Nossa Senhora Aparecida nos mostre o caminho para ajudar a reconstruir a sociedade. Comecemos a nova semana de um jeito melhor: no dia 12 de outubro, que também é o da Criança, cultivemos a força da fé e a pureza da alma infantil que vive em cada um para aprendermos a ter sede de vida. Não de morte.

Junji Abe é líder rural, foi deputado federal pelo PSD-SP (fev/2011-jan/2015) e prefeito de Mogi das Cruzes (2001-2008)

quinta-feira, 1 de outubro de 2015

Gosto amargo do pão

Apesar de parecer distante do cotidiano do brasileiro que recebe em reais e não pretende viajar para o exterior, a escalada das cotações do dólar, que engordam a cada dia, influi muito mais do que se imagina na vida do cidadão comum. Na verdade, o gosto amargo da supervalorização da moeda americana frente ao real já será percebida no pão nosso de cada dia. 

O setor de panificação estima que os reajustes de pães e massas, decorrentes das altas do dólar, comecem a dar as caras nos próximos 30 dias, conforme novas encomendas de trigo forem chegando. Mais da metade da farinha de trigo consumida no Brasil é importada e, assim como o frete para trazê-la, tem preço cotado na moeda americana.

Cerca de 45% do preço do pão é referente ao custo da farinha de trigo e frete. Outros alimentos à base de trigo, como biscoitos e massas, têm aproximadamente 60% dos seus custos atrelados ao dólar. Aliás, com a alta nos preços dos combustíveis – diesel e gasolina, a partir deste mês –, todos os produtos que têm o item transportes significativamente representativo aumentarão o peso da carestia sobre o brasileiro, sem contar o gás que movimenta desde as cozinhas domésticas até milhares de indústrias.

"Setor de panificação estima que reajustes de pães e massas,
decorrentes das altas do dólar, comecem a
dar as caras nos próximos 30 dias"
Não é só. A maioria dos fertilizantes e outros insumos utilizados em lavouras, como a do tomate, também vem de fora, com valores na moeda americana. Para completar, há produtos daqui que têm seus preços amarrados com o dólar. É o caso das commodities. Soja, café, açúcar, milho e carne são alguns exemplos. Embora produzidos no Brasil, quando o dólar está mais caro, o produtor prefere exportar. E, claro, cobrará mais caro para manter estes alimentos no mercado interno.

Ao mesmo tempo, sem a concorrência com os itens importados, os similares nacionais também acabam sofrendo reajustes. Na prática, a alta do dólar contribui para puxar a inflação, já em franca trajetória ascendente. Em resumo, quem paga a conta pela economia enfraquecida é o consumidor, que já vem sofrendo com a perda do seu poder de compra por causa das altas de preços. 

Há outro setor extremamente sensível a flutuação do câmbio e que atinge consumidores de todos os perfis: o farmacêutico. Mais de 95% das matérias primas empregadas na produção de medicamentos são importadas de países como China, Índia e Irlanda. 
Projeção do Sindusfarma (Sindicato da Indústria de Produtos Farmacêuticos no Estado de São Paulo) indica que, ao longo do mês, já começarão a minguar os descontos concedidos hoje pelas farmácias na venda de medicamentos, em proporções que variam de acordo com os estoques de varejistas e atacadistas. 

Artigos de higiene e limpeza, além de cosméticos – todos produzidos com componentes químicos importados – estão bem mais caros para o consumidor e deverão subir ainda mais. Já os preços dos medicamentos são controlados pelo governo e reajustados uma vez por ano. Estimativas do setor dão conta de que a alta do dólar deverá encarecer os remédios em cerca de 9% no ano que vem. 

Até lá, as empresas do segmento farmacêutico terão de absorver os custos, podando descontos e demitindo pessoal. Ou seja, mais desemprego no País que já fechou 572.792 vagas formais de trabalho de janeiro a agosto deste ano, segundo o Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), do Ministério do Trabalho. 

O panorama reflete a situação de desequilíbrio fiscal vigente no Brasil, com um governo que gasta muito mais do que arrecada – insistindo em aumentar impostos para mandar a fatura aos brasileiros – e não consegue convencer os investidores de que tem uma solução sustentável para o problema num futuro próximo. Oremos pelo pão nosso de cada dia, com sabor que caiba no bolso!

Junji Abe é líder rural, foi deputado federal pelo PSD-SP (fev/2011-jan/2015) e prefeito de Mogi das Cruzes (2001-2008)