quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Contra tempestades e tormentos

Junji: união contra tempestades e tormentos

Final dos anos 80, início da década de 90. Presidia o Sindicato Rural de Mogi das Cruzes e já acumulava vários anos na presidência da Comissão Técnica de Hortigranjeiros da Faesp – Federação da Agricultura do Estado de São Paulo, assim como era um dos vice-presidentes da entidade, ao lado de Fábio de Salles Meirelles, líder de grande expressão nacional. 

Enquanto fervilhavam greves de trabalhadores dos mais variados setores, no Brasil inteiro, o agronegócio mogiano tentava superar a evasão de descendentes de japoneses no fenômeno dekassegui e a queda da da atividade agrícola, assim como resgatar o equilíbrio longe das paralisações. Eis mais uma conquista capitaneada pelo Sindicato Rural de Mogi das Cruzes. 

O bom relacionamento da entidade com o Sindicato dos Trabalhadores Rurais, comandado pelo batalhador Antonio Duarte, serviu como exemplo nacional de que patrões e empregados podem e devem caminhar juntos em benefício de objetivos comuns. A Cidade fez valer o slogan que criamos: “Capital e trabalho unidos pela agricultura”. 

Nem naqueles momentos caóticos de crise econômica decorrente da serpente inflacionária, nem nunca, Mogi das Cruzes viveu uma greve de trabalhadores rurais. O entrosamento da categoria prossegue até os dias atuais. É um mérito do trabalho abnegado da presidência e da diretoria do Sindicato Rural, que dedicam seu tempo e talento ao fortalecimento do setor sem receber um único centavo. Não são agraciados, sequer, com verba de representação. 

Dez dos meus 20 anos à frente da presidência do Sindicato Rural de Mogi das Cruzes coincidiram com o período em que exerci o cargo de deputado estadual, de 1991 a 2000. Na Assembleia Legislativa de São Paulo, presidi a Comissão de Agricultura e Pecuária durante todo o tempo em que lá atuei. Em meu primeiro mandato, início da década de 90, desencadeamos mais uma etapa da incessante luta em favor dos produtores de olerícolas, ameaçados de falência. 

Já se prenunciava a liquidação das cooperativas agrícolas. Foi quando fundei a Associação Nacional Pró-Horti. Contudo, apesar de todo esse esforço classista, como protagonista e impotente diante do caos do cenário nacional, assisti ao fim das cooperativas de hortifrutigranjeiros, como a gigante CAC – Cooperativa Agrícola de Cotia, Sul Brasil, Bandeirante e Itapeti, entre outras. 

Pinçando um evento positivo, vale lembrar a reforma agrária realizada a pedido do Sindicato Rural de Mogi das Cruzes, nos anos 80. O Ministério da Agricultura comandou a operação numa área de aproximadamente 2 mil hectares nos bairros do Itapeti, Taboão e Parateí, beneficiando mais de 600 pequenos produtores rurais com a legitimidade de suas propriedades. 

Outro fato marcante foi o esforço descomunal do Sindicato Rural de Mogi frente às desapropriações de vastas áreas da Cidade e de Biritiba Mirim para a implantação das barragens destinadas ao controle de enchentes e ao abastecimento de água na Região Metropolitana. Diante das indenizações de glebas e produções, que eram ínfimas e injustas, a entidade apresentou à Justiça local metodologia adequada para o pagamento justo e atualizado pelas terras e plantas dos expropriados. O processo foi absorvido como cálculo meritório e se tornou jurisprudência nacional para as indenizações seguintes pagas aqueles que perdem áreas e plantações em função de desapropriações. 

A inundação de áreas férteis foi catastrófica para o setor produtivo. Em especial porque, em 1976, décadas antes do projeto de execução das barragens, o governo do Estado havia promulgado a Lei de Proteção aos Mananciais, que proibia a abertura de novos espaços agrícolas, assim como a expansão de propriedades rurais no Alto Tietê. O achatamento da atividade rural está expresso em números. Se, até 1980, a Associação e, posteriormente, o Sindicato Rural representava cerca de 5 mil produtores – entre sindicalizados ou não – em Mogi das Cruzes e Biritiba Mirim, hoje, este número caiu para menos de 1,5 mil, como saldo da insensibilidade de governos e órgãos públicos. 

Em que pesem todas as adversidades, os produtores do Alto Tietê, coordenados pelo Sindicato Rural de Mogi das Cruzes, são responsáveis pela classificação da Região como referência nacional em tecnologia na produção de olerícolas, frutas e flores. Este crescimento deu origem ao novo termo, largamente difundido por nós: hortifrutiflorigranjeiros. Os males que atingem a agricultura regional, somados à diminuição quantitativa de produtores, tornam cada vez mais árdua a tarefa da instituição classista. 

O desempenho dos produtores da Região deve-se, em boa parte, ao trabalho diuturno do Sindicato Rural de Mogi das Cruzes que, em parceria com Senar – Serviço Nacional de Aprendizagem Rural, Sebrae – Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas e Cati – Coordenadoria de Assistência Técnica Integral, entre outras instituições, oferece cursos especializados nas mais diferentes áreas agrícolas, transformando lavradores do passado em competentes empresários rurais, capazes de dominar todo o processo produtivo. Porém, enfrentando um problema antigo, de décadas atrás: a comercialização e seus gargalos. Trata-se do ponto frágil para os esperados avanços do setor. 

Na tentativa de substituir a lacuna deixada pelo sistema cooperativista, tempos atrás, constituíram-se entidades como a Aprodesp – Associação dos Produtores Rurais e Distribuidores do Estado de São Paulo. 

Em sintonia com as exigências do mercado consumidor, o Sindicato Rural ingressou no SAI – Sistema Agroindustrial Integrado e, em parceria com o Sebrae, idealizou o selo AgroAlt. Trata-se de um sistema de garantia de qualidade e procedência dos produtos, com base no treinamento, monitoramento e certificação dos cultivares. Foi um importante avanço no processo de rastreamento da origem dos itens, assim como um incremento às ações para segurança alimentar. 

Igualmente, o Sindicato Rural impulsionou a formação e dá integral respaldo às associações que visam defender interesses de segmentos agrícolas específicos, como a de produtores de cogumelos e de fruticultores. É de vital importância para o fortalecimento do agronegócio que os dirigentes rurais reconheçam as especificidades de cada área, fomentando o surgimento de instituições capazes de abranger as necessidades peculiares a essas cadeias produtivas. 

A força rural do Alto Tietê também se reflete na grandiosidade de exposições agrícolas que despontam entre as mais concorridas do País. Mogi das Cruzes sedia duas delas: a Festa de Outono – Akimatsuri, realizada no Bairro de Porteira Preta, e o Festival Agrícola – Furusato Matsuri, no Cocuera. Em Arujá, os floricultores mogianos do Itapeti garantem o sucesso da ExpoAflord, promovida pela Associação dos Floricultores da Região da Dutra. 

Por maior que seja a dedicação dos diretores de um Sindicato Rural atuante, que fez história e continua na vanguarda dos avanços registrados na representação da classe rural, mais do que nunca, o grande trabalho da entidade é conscientizar os produtores para rechaçarem sentimentos individualistas e se unirem sob o guarda-chuva desta entidade contra as tempestades e tormentos. O segredo ainda é a participação. Diga-se, participação consciente e antenada com a força do sistema sindical. 

Junji Abe, deputado federal pelo PSD-SP, presidiu o Sindicato Rural de Mogi das Cruzes de 1980 a 2000.

Leia mais sobre o tema em “Memórias de um líder rural”

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