quinta-feira, 31 de janeiro de 2013


Três andares de eficiência e devoção


 “Se as cidades forem destruídas e os campos preservados, as cidades ressurgirão, mas se os campos forem destruídos e as cidades preservadas, estas sucumbirão.”
Benjamin Franklin


Por 20 anos seguidos, tive a honra de presidir o Sindicato Rural de Mogi das Cruzes. Ao lado da abnegada diretoria e de produtores rurais da Cidade e do município vizinho de Biritiba Mirim – área abrangida pela entidade –, encampamos lutas memoráveis em defesa do setor agrícola. Houve tensão, momentos de agonia, sofrimento, mas também vitórias, avanços, conquistas que, apesar de tantos dissabores e do descaso governamental, ainda garantem ao Alto Tietê hegemonia nacional na produção de cogumelos comestíveis, frutas, como caqui e nêsperas, e de flores como orquídeas, além do honroso título de referencial brasileiro em tecnologia na horticultura. 

Tive a oportunidade de rememorar, em artigos anteriores, algumas das grandes batalhas travadas sob o estandarte do quase septuagenário Sindicato Rural de Mogi das Cruzes, nascido em 14 de maio de 1950, como Associação Rural. Ao longo dos meus 72 anos de vida, registrei fatos inesquecíveis. As lembranças são como um bálsamo para a alma. E, principalmente, resgatam imprescindíveis lições na dura cruzada pela valorização e desenvolvimento do agronegócio brasileiro. 

As incontáveis variedades de verduras, legumes, tubérculos, bulbos, champignon, frutas, flores e outros itens saem das terras cultivadas de Mogi das Cruzes para abastecer o País. São presença cotidiana nos lares brasileiros. Tão incorporadas a sua rotina que poucos param para pensar sobre o gigantesco cordão humano existente por trás deles. Lamentavelmente, o produtor rural ainda amarga a falta de reconhecimento. Por parte da sociedade, por parte do governo. 

O Sindicato Rural de Mogi das Cruzes está às vésperas de ocupar um novo prédio, que deverá ser inaugurado no próximo mês de março. Quando surgiu, a entidade funcionava em duas modestas salas alugadas num imóvel da Rua José Bonifácio, número 35. 

As primeiras instalações próprias do Sindicato vieram por nossa iniciativa. Primeiro, a entidade foi locatária do atual endereço da Rua Ipiranga, 1.335, esquina com a Avenida Japão. Como o imóvel era de propriedade da nossa família Abe, não tardou para que a instituição ganhasse sede própria. 

Pouco antes da aquisição, sugeri ao então presidente da Cooperativa Rural de Telecomunicações de Mogi das Cruzes, Masaro Nakasato, meu sucessor naquela entidade, que transferisse a sede da cooperativa, do Centro, para parte do prédio onde já funcionava o Sindicato. 

Definitivamente, o Sindicato Rural adquiriu o imóvel em meados dos anos 80, após aprovação em assembleia geral. Lembro-me como se fosse hoje que, na inauguração da primeira sede própria, mandamos confeccionar uma placa com o célebre e sempre contemporâneo pensamento de Benjamin Franklin: “Se as cidades forem destruídas e os campos preservados, as cidades ressurgirão, mas se os campos forem destruídos e as cidades preservadas, estas sucumbirão”. 

A frase sintetiza um raciocínio lógico, certeiro para a trajetória da humanidade que precisa despertar, efetivamente, para a preservação do ambiente agrícola. A história do Sindicato Rural de Mogi das Cruzes exibe a prática do pensamento de Franklin. Quero aqui registrar os profundos agradecimentos a todos os dirigentes da entidade. Em especial, aqueles que me sucederam na presidência da instituição, zelando pelo desenvolvendo do agronegócio e pelos interesses da comunidade agrícola, com a garra e determinação de verdadeiros samurais. 

Deixei a presidência do Sindicato Rural de Mogi das Cruzes em dezembro do ano 2000 porque, em 1º de janeiro de 2001, assumiria a Prefeitura mogiana. Os produtores e todo o agronegócio regional tiveram a felicidade de contar com o talento, a dedicação e a força de trabalho voluntário dos meus sucessores: Jorge Ikuta, Minoru Mori e o atual presidente Fernando Ogawa. A eles, aos diretores, funcionários e colaboradores, muito obrigado por acreditarem na causa agrícola! 

Mais uma vez, a vida prova que fé e trabalho duro produzem resultados. O Sindicato Rural de Mogi das Cruzes dá mais um gigantesco passo para fortalecer suas ações e incentivar um entrosamento cada vez maior dos seus associados. O objetivo é instalar, a 100 metros da atual sede, três andares de pura eficiência, dedicação, envolvimento e participação de todos que trabalham dia e noite na sagrada missão de alimentar este País.

Junji Abe, deputado federal pelo PSD-SP, presidiu o Sindicato Rural de Mogi das Cruzes de 1980 a 2000.



quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Contra tempestades e tormentos

Junji: união contra tempestades e tormentos

Final dos anos 80, início da década de 90. Presidia o Sindicato Rural de Mogi das Cruzes e já acumulava vários anos na presidência da Comissão Técnica de Hortigranjeiros da Faesp – Federação da Agricultura do Estado de São Paulo, assim como era um dos vice-presidentes da entidade, ao lado de Fábio de Salles Meirelles, líder de grande expressão nacional. 

Enquanto fervilhavam greves de trabalhadores dos mais variados setores, no Brasil inteiro, o agronegócio mogiano tentava superar a evasão de descendentes de japoneses no fenômeno dekassegui e a queda da da atividade agrícola, assim como resgatar o equilíbrio longe das paralisações. Eis mais uma conquista capitaneada pelo Sindicato Rural de Mogi das Cruzes. 

O bom relacionamento da entidade com o Sindicato dos Trabalhadores Rurais, comandado pelo batalhador Antonio Duarte, serviu como exemplo nacional de que patrões e empregados podem e devem caminhar juntos em benefício de objetivos comuns. A Cidade fez valer o slogan que criamos: “Capital e trabalho unidos pela agricultura”. 

Nem naqueles momentos caóticos de crise econômica decorrente da serpente inflacionária, nem nunca, Mogi das Cruzes viveu uma greve de trabalhadores rurais. O entrosamento da categoria prossegue até os dias atuais. É um mérito do trabalho abnegado da presidência e da diretoria do Sindicato Rural, que dedicam seu tempo e talento ao fortalecimento do setor sem receber um único centavo. Não são agraciados, sequer, com verba de representação. 

Dez dos meus 20 anos à frente da presidência do Sindicato Rural de Mogi das Cruzes coincidiram com o período em que exerci o cargo de deputado estadual, de 1991 a 2000. Na Assembleia Legislativa de São Paulo, presidi a Comissão de Agricultura e Pecuária durante todo o tempo em que lá atuei. Em meu primeiro mandato, início da década de 90, desencadeamos mais uma etapa da incessante luta em favor dos produtores de olerícolas, ameaçados de falência. 

Já se prenunciava a liquidação das cooperativas agrícolas. Foi quando fundei a Associação Nacional Pró-Horti. Contudo, apesar de todo esse esforço classista, como protagonista e impotente diante do caos do cenário nacional, assisti ao fim das cooperativas de hortifrutigranjeiros, como a gigante CAC – Cooperativa Agrícola de Cotia, Sul Brasil, Bandeirante e Itapeti, entre outras. 

Pinçando um evento positivo, vale lembrar a reforma agrária realizada a pedido do Sindicato Rural de Mogi das Cruzes, nos anos 80. O Ministério da Agricultura comandou a operação numa área de aproximadamente 2 mil hectares nos bairros do Itapeti, Taboão e Parateí, beneficiando mais de 600 pequenos produtores rurais com a legitimidade de suas propriedades. 

Outro fato marcante foi o esforço descomunal do Sindicato Rural de Mogi frente às desapropriações de vastas áreas da Cidade e de Biritiba Mirim para a implantação das barragens destinadas ao controle de enchentes e ao abastecimento de água na Região Metropolitana. Diante das indenizações de glebas e produções, que eram ínfimas e injustas, a entidade apresentou à Justiça local metodologia adequada para o pagamento justo e atualizado pelas terras e plantas dos expropriados. O processo foi absorvido como cálculo meritório e se tornou jurisprudência nacional para as indenizações seguintes pagas aqueles que perdem áreas e plantações em função de desapropriações. 

A inundação de áreas férteis foi catastrófica para o setor produtivo. Em especial porque, em 1976, décadas antes do projeto de execução das barragens, o governo do Estado havia promulgado a Lei de Proteção aos Mananciais, que proibia a abertura de novos espaços agrícolas, assim como a expansão de propriedades rurais no Alto Tietê. O achatamento da atividade rural está expresso em números. Se, até 1980, a Associação e, posteriormente, o Sindicato Rural representava cerca de 5 mil produtores – entre sindicalizados ou não – em Mogi das Cruzes e Biritiba Mirim, hoje, este número caiu para menos de 1,5 mil, como saldo da insensibilidade de governos e órgãos públicos. 

Em que pesem todas as adversidades, os produtores do Alto Tietê, coordenados pelo Sindicato Rural de Mogi das Cruzes, são responsáveis pela classificação da Região como referência nacional em tecnologia na produção de olerícolas, frutas e flores. Este crescimento deu origem ao novo termo, largamente difundido por nós: hortifrutiflorigranjeiros. Os males que atingem a agricultura regional, somados à diminuição quantitativa de produtores, tornam cada vez mais árdua a tarefa da instituição classista. 

O desempenho dos produtores da Região deve-se, em boa parte, ao trabalho diuturno do Sindicato Rural de Mogi das Cruzes que, em parceria com Senar – Serviço Nacional de Aprendizagem Rural, Sebrae – Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas e Cati – Coordenadoria de Assistência Técnica Integral, entre outras instituições, oferece cursos especializados nas mais diferentes áreas agrícolas, transformando lavradores do passado em competentes empresários rurais, capazes de dominar todo o processo produtivo. Porém, enfrentando um problema antigo, de décadas atrás: a comercialização e seus gargalos. Trata-se do ponto frágil para os esperados avanços do setor. 

Na tentativa de substituir a lacuna deixada pelo sistema cooperativista, tempos atrás, constituíram-se entidades como a Aprodesp – Associação dos Produtores Rurais e Distribuidores do Estado de São Paulo. 

Em sintonia com as exigências do mercado consumidor, o Sindicato Rural ingressou no SAI – Sistema Agroindustrial Integrado e, em parceria com o Sebrae, idealizou o selo AgroAlt. Trata-se de um sistema de garantia de qualidade e procedência dos produtos, com base no treinamento, monitoramento e certificação dos cultivares. Foi um importante avanço no processo de rastreamento da origem dos itens, assim como um incremento às ações para segurança alimentar. 

Igualmente, o Sindicato Rural impulsionou a formação e dá integral respaldo às associações que visam defender interesses de segmentos agrícolas específicos, como a de produtores de cogumelos e de fruticultores. É de vital importância para o fortalecimento do agronegócio que os dirigentes rurais reconheçam as especificidades de cada área, fomentando o surgimento de instituições capazes de abranger as necessidades peculiares a essas cadeias produtivas. 

A força rural do Alto Tietê também se reflete na grandiosidade de exposições agrícolas que despontam entre as mais concorridas do País. Mogi das Cruzes sedia duas delas: a Festa de Outono – Akimatsuri, realizada no Bairro de Porteira Preta, e o Festival Agrícola – Furusato Matsuri, no Cocuera. Em Arujá, os floricultores mogianos do Itapeti garantem o sucesso da ExpoAflord, promovida pela Associação dos Floricultores da Região da Dutra. 

Por maior que seja a dedicação dos diretores de um Sindicato Rural atuante, que fez história e continua na vanguarda dos avanços registrados na representação da classe rural, mais do que nunca, o grande trabalho da entidade é conscientizar os produtores para rechaçarem sentimentos individualistas e se unirem sob o guarda-chuva desta entidade contra as tempestades e tormentos. O segredo ainda é a participação. Diga-se, participação consciente e antenada com a força do sistema sindical. 

Junji Abe, deputado federal pelo PSD-SP, presidiu o Sindicato Rural de Mogi das Cruzes de 1980 a 2000.

Leia mais sobre o tema em “Memórias de um líder rural”

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Memórias de um líder rural

Junji: presidente do Sindicato Rural de 1980 a 2000

Beneficiadas pelas condições climáticas que caracterizam o microclima, Mogi das Cruzes e demais cidades da Região do Alto Tietê foram palco do cultivo de verduras, legumes, tubérculos e bulbos, desde o século 19. Imigrantes italianos e espanhóis comandavam as plantações que tinham a batata inglesa como carro-chefe. Era chamada de batatinha. A popularidade do cultivar moldou a expressão “batateiro”, no lugar de bataticultor, para designar o produtor deste item. Também ganhava atenção a batata doce. No segmento de hortaliças, predominava o repolho. 

Era uma época em que o preparo do solo se dava com arados e grades de tração animal (burros e bois) para gerar os cultivos considerados extensivos, de grandes dimensões. Até então, não se podia imaginar pulverizações ou irrigações para o manejo das culturas. 

Os imigrantes japoneses que chegaram ao Brasil a partir de 1908 foram praticamente todos deslocados para o Interior paulista, na condição de colonos, à disposição de grandes fazendas de café e, posteriormente, de algodão. De 1920 para cá, começaram a seguir o exemplo de italianos e espanhóis na seara das hortaliças. Da mesma forma, utilizavam o processo rudimentar de tração animal e capinação manual, com enxadões e enxadas. 

Entretanto, diferentemente das imigrações europeias, os imigrantes japoneses iniciaram uma agricultura baseada em seu país de origem, com glebas pequenas, ao contrário das usuais culturas extensivas. Ficaram famosas práticas como o “arranca-toco” para desbravar terras na região da Mata Atlântica. Mesmo sem energia elétrica e, muitas vezes, sem estradas de acesso, eles enfrentaram com bravura o desafio de modelar a Região do Alto Tietê, de forma pioneira, como minifúndios altamente produtivos. 

Mais que isso. O modelo nipônico multifacetou as lavouras, que deixou de ter poucas culturas anuais. Os imigrantes introduziram uma série de diferentes verduras, legumes e bulbos. Era a estratégia para que tivessem renda, senão o ano inteiro, pelo menos, maior que uma ou duas safras anuais. Com dedicação extraordinária e reduzidos apoios dos órgãos governamentais, evoluíram. 

Já naquela época, o Estado de São Paulo se destacava dos demais, porque o governo tinha a famosa estrutura de apoio e assistência técnica aos produtores que, diga-se, uma maioria de pequenos, por meio das Casas da Lavoura. Estas unidades agrupavam engenheiros agrônomos profundamente integrados aos pequenos lavradores. 

A estreita relação entre produtores e técnicos de assistência técnica e extensão rural impulsionou a constituição de associações capazes de representar a laboriosa classe produtora de alimentos. Não tardou para que surgisse a Associação Rural de Mogi das Cruzes, fundada em 14 de maio de 1950. O primeiro presidente foi Arnaldo Andreucci, sucedido por Kotaro Watanabe em 31 de janeiro de 1954. Na sequência, até 31 de dezembro de 1957, o comando da entidade ficou sob a responsabilidade do engenheiro agrônomo Edison Consolmagno. O ex-prefeito Rodolpho Jungers ocupou o cargo até 31 de dezembro de 1962 e teve como sucessor Kenji Neguishi. De 1º de janeiro de 1965 a 12 de junho de 1980, Minor Harada esteve à frente da instituição. 

Cada um deles desempenhou de forma magnânima suas funções, ao lado de agricultores eleitos como membros da diretoria, para garantir união na conquista dos direitos da classe junto ao governo e à sociedade, principalmente no que tange ao respeito e reconhecimento pela produção de alimentos. 

A famosa Associação Rural de Mogi das Cruzes sofreu uma transformação em função da Revolução de 1964. Foi quando o governo militar converteu as associações classistas de atividades econômicas no Brasil em sindicatos, patronais ou de trabalhadores. Assim, teve início uma nova fase da representação dos produtores rurais por meio do Sindicato Rural de Mogi das Cruzes. 

Lutas memoráveis e de grande demonstração de unidade fazem parte do histórico do Sindicato Rural de Mogi das Cruzes. Dentre algumas façanhas, vale citar a mobilização para combater os efeitos catastróficos da transformação do IVC – Imposto sobre Vendas e Consignações em ICM – Imposto sobre Circulação de Mercadorias. O novo tributo colocava em cheque a continuidade das atividades agrícolas e a sobrevivência dos produtores que se dedicavam a culturas perecíveis e sazonais. Enquanto os agricultores eram praticamente isentos do IVC, passaram a ter de recolher 28% do valor da venda bruta como ICM. 

Para protestar contra a medida fulminante, em meados da década de 60, o então presidente do Sindicato Rural, jovem líder rural Minor Harada, convocou a manifestação. Os produtores saíram às ruas com tratores da época para uma concentração na antiga Cooperativa Agrícola Mista de Mogi das Cruzes, localizada na Rua Dr. Deodato Wertheimer, esquina com a Avenida Francisco Rodrigues Filho. Naquela ocasião, a mobilização reuniu aproximadamente 10 mil pessoas e 300 tratores de 25 bairros e distritos rurais da Cidade. 

O megaprotesto teve uma repercussão tão forte que fez o governo voltar atrás. Graças ao Sindicato Rural de Mogi das Cruzes, todos os demais municípios paulistas com economia agrícola ficaram livres do impostaço. A isenção permanece até hoje, apesar de o ICM ter agregado os Serviços passando a ser chamado de ICMS. 

É uma pequena amostra das dezenas de feitos empreendidos pelo Sindicato Rural de Mogi das Cruzes. O Município se destacava como o maior polo produtivo de olerícolas – verduras, legumes, bulbos e tubérculos –, avicultura e fruticultura. O cenário inspirou o saudoso e extraordinário engenheiro agrônomo Edison Consolmagno a criar a expressão hortigranjeiros. Mais tarde, com a expansão do setor e a introdução de novos e fortes itens no processo produtivo, o termo agregou as frutas, tornando-se hortifrutigranjeiros. Já era a nossa gestão à frente do Sindicato Rural de Mogi das Cruzes, na década de 80. 

A história do Sindicato Rural é tão fecunda que o espaço fica pequeno para tantas conquistas em prol da categoria. Sob os incentivos da entidade, vieram os avanços no processo produtivo. Saíram de cena os animais para tração e as ferramentas manuais. Sempre na vanguarda da olericultura, pioneiramente, Mogi das Cruzes estreou na irrigação. Da mesma forma, a pulverização deixou as costas dos trabalhadores para com o auxílio de implementos apropriados, puxados por tratores. 

Parece um videotape, mas todas as dificuldades que os produtores enfrentam nos dias atuais são reprises de tantas crises já vividas. Se hoje existe a incerteza dos prejuízos que advirão do novo Código Florestal, comparável ao ICM já relatado, não se pode esquecer do longo período inflacionário iniciado em 1978. A sequência de governos irresponsáveis destruiu uma das maiores riquezas da área produtiva rural, marcada pela continuidade de geração após geração no campo, com a sucessiva transferência de conhecimentos e experiência aos sucessores. 

Na esteira da espiral inflacionária que sacrificou a sociedade brasileira ao longo de mais de 16 anos, os produtores acabaram mutilados em sua atividade. Tiveram penhorados seus bens e sepultadas suas chances de permanecer na produção, em função de financiamentos impagáveis. Paralelamente, foi a mesma tragédia que liquidou as cooperativas agrícolas. 

O governo militar, iniciado em 1964, motivou e moldou os agricultores a utilizarem os financiamentos rurais, acenando com subsídios imensos. Como exemplo, destacam-se os fertilizantes subsidiados. Quem financiava a compra, era beneficiado com descontos que permitiam ao devedor devolver ao banco apenas 60% do valor contratado para adquirir o insumo. Tanto para custeio como para investimento, os produtores ficaram viciados no crédito rural. 

Com a inflação chegando a patamares da ordem de 100% ao mês, os financiamentos tiveram correção monetária na amortização, tornando-se impagáveis. A maioria dos imigrantes e seus descendentes foram praticamente dizimados. Daí, em 1988, após o naufrágio do Plano Cruzado, veio o fenômeno dekassegui que levou milhares de descendentes de japoneses a fazer o caminho inverso de seus ancestrais, em busca de sobrevivência no Japão. Foi um período de triste memória.

Junji Abe, deputado federal - PSD-SP