sexta-feira, 25 de junho de 2010

Luta contra os vícios


Homem chega em casa bêbado, espanca a esposa e bate nos filhos. Motorista embriagado perde o controle do carro e atropela pedestres. Overdose de ecstasy mata jovem em festa rave. Criança morre em tiroteio entre polícia e traficantes. Viciado em crack, filho esfaqueia e assalta a própria mãe. Estas e outras tantas notícias ruins, muito ruins, fazem parte da rotina de quem vive em médios e grandes centros urbanos.

Tragédias do gênero têm em comum o mesmo indutor: as drogas. São elas que, depositadas no organismo humano, transformam gente em animal selvagem. Embotam o raciocínio, exterminam toda civilidade e sugam a alma humana, neutralizando qualquer resquício de compaixão, bondade e amor. Desaparecem os bons sentimentos. Em relação aos outros e a si próprio. Com saldo de estragos de maior ou menor proporção, dependendo do tipo e do nível de dependência, todas são prejudiciais à saúde física e mental, ao convívio familiar e ao bem-estar social.

Fique claro que as preocupações vão além dos entorpecentes. Falo do fumo e do abuso de outra droga lícita que facilita a dependência química e a delinqüência na idade adulta, como confirma estudo com 11 mil adolescentes, realizado na Inglaterra. Trata-se da bebida alcoólica. Os riscos aos nossos jovens não se limitam ao território das baladas e muito menos ao período de Carnaval. Estão em todo canto. Até em casa, considerando a influência exercida pelos pais sobre os filhos.


Não falo como moralista de gaveta e nem como alguém que nunca teve um vício sequer. Fui fumante décadas atrás. Eram dois maços por dia e, de tão viciado, não conseguia dormir sem um cigarro nos dedos. Cheguei até a queimar o colchão e, por pouco, isto não virou uma tragédia com incêndio de grandes proporções. Quanto ao álcool, não bebi e não bebo. Meu organismo rejeita qualquer bebida alcoólica, por menor que seja a dose. Aliás, sorte minha. Caso contrário, poderia ser um bebum.

Para quem acha inofensivo deixar o filho adolescente beber uma cervejinha, vale o alerta do Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas. Segundo o levantamento, 48,3% dos adolescentes do País, com idades entre 12 e 17 anos, já beberam alguma vez na vida. Destes, 14,8% bebem regularmente e 7 em cada 100 menores já são dependentes do álcool.

Em outra pesquisa, o fato apurado é ainda mais assombroso: jovens entre 14 e 17 anos são responsáveis por 6% de todo o consumo anual de álcool no País. Intitulado “Distribuição do consumo de álcool e problemas em subgrupos da população brasileira”, o estudo constatou ainda que jovens de 18 a 29 anos consomem 40% do total de bebedores e que os homens representam 78% dos consumidores de bebida alcoólica.

O consumo abusivo de álcool cresceu de 16,2% da população, em 2006, para 18,9%, em 2009. São dados do Ministério da Saúde que considera excessiva a ingestão de cinco ou mais doses de bebida alcoólica na mesma ocasião em um mês, no caso dos homens; ou quatro ou mais doses, no caso das mulheres.

Não por menos, a OMS – Organização Mundial de Saúde estima que, por ano, 2,5 milhões de pessoas morram no mundo por causa do abuso do álcool. No mínimo 320 mil destas vítimas são jovens de 15 a 29 anos.

As consequências funestas do consumo abusivo de bebidas alcoólicas são reconhecidas pelo governo federal que lançou campanha visando conter a ingestão excessiva do álcool para reduzir a violência. Explica-se: levantamento do Ministério da Saúde revelou que um em cada quatro homens abusa do álcool e uma em cada dez mulheres bebe demais. Neste caso, o foco são os adultos. Imagine quão danosos são os efeitos desse comportamento nos adolescentes.

Num lar de família desagregada, é muito maior a probabilidade de um adolescente cair no vício de cigarro e bebidas. Do abuso das drogas lícitas para a malfada estrada dos entorpecentes, basta um passo à frente. É rápido e, na maioria das vezes, sem volta. Daí, para a vida de crimes e de todo tipo de violência, é só uma questão de tempo. Pouquíssimo tempo.

A lei proíbe a venda de bebidas alcoólicas para menores. Na prática, não funciona. Primeiro, porque nem todo comerciante a obedece. Ao mesmo tempo, a fiscalização é falha. Não bastasse, o adolescente sempre tem um colega maior de idade para fazer a compra. De quebra, ainda existem as carteiras de identidade falsificadas. Portanto, a vigilância concreta cabe mesmo à família.

Claro, o Poder Público pode e deve agir para evitar que crianças e adolescentes virem presas fáceis das drogas. Um dos pontos cruciais no processo é implementação de políticas públicas para combater a ociosidade fora do período de aulas.

Ao longo de duas gestões na Prefeitura Mogi das Cruzes, desenvolvemos exitosos programas para proporcionar ocupação saudável aos menores. Entre os projetos de maior expressão em diversas áreas, destacam-se o “Coral Canarinhos do Itapety”, a “Orquestra Sinfônica Jovem Minha Terra Mogi” e a Banda Boigy, envolvendo centenas de crianças que, por meio da música, criaram a perspectiva de um futuro melhor, longe da violência e da criminalidade.

No campo dos esportes e recreação, vale citar A Rua Feliz – um parque de diversões itinerante que levava aos bairros dezenas de brinquedos e atrações culturais –, o Esporte Mogi, desenvolvido em parceria com a iniciativa privada, para levar atividades esportivas, noções de ética e promoção da cidadania às crianças de regiões carentes da cidade e o programa “Sanção Premial”, que garantia isenção do IPTU para clubes que oferecessem atividades esportivas e recreativas gratuitas a alunos das escolas municipais, além das aulas de esportes – de iniciação à formação de atletas – ministradas nos centros esportivos, em clubes privados e escolas, em dezenas de modalidades.

Ainda dentro do conceito de proporcionar ocupação saudável às crianças e adolescentes e de promover o convívio familiar, lançamos as bibliotecas comunitárias e abrimos as escolas nos finais de semana para uso dos moradores. Todas, dotadas de laboratório de informática e bibliotecas multimídia.

Com um amplo trabalho de profissionalização das entidades comunitárias, viabilizamos parcerias com a sociedade civil organizada, multiplicando os polos de diferentes projetos. Inclusive, o gerenciamento de creches. A valorização do ser humano, sua integração à sociedade e o exercício da cidadania deram a tônica das ações desenvolvidas para promover a inclusão social das famílias carentes e atuar efetivamente na prevenção da violência, afastando os menores do caminho das drogas.

São apenas alguns exemplos de como o Poder Público pode colaborar no combate ao uso de drogas – incluindo fumo e bebidas. Não basta controlar propaganda. É preciso oferecer opções atraentes às crianças e adolescentes para que, bem orientadas e envolvidas com atividades multiculturais e esportivas, escolham dizer não aos vícios.

É uma missão hercúlea. Se cumprida, traz benefícios que extrapolam a qualidade de vida individual e a boa convivência familiar. Significa contribuição direta para o bem-estar social, haja vista que a violência tem relação umbilical com as drogas. Nada está perdido. Depende do nosso esforço garantir um futuro melhor aos nossos filhos e netos.
Junji Abe (DEM), ex-prefeito municipal de Mogi das Cruzes

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Como fugir das tentações do consumo

Não é de hoje que se fala que ir ao shopping é uma distração. Na verdade, transformou-se em opção de lazer para muitas famílias que, sem outras alternativas, vê no centro de consumo o destino certeiro para o tempo livre. O problema é que este entretenimento nem sempre é saudável para o orçamento familiar. Diante da sedução dos produtos expostos nas vitrines, não raro, o visitante extrapola o limite de apreciar e sucumbe à tentação de comprar. Mesmo sem dinheiro no bolso. Afinal, existe a moeda de plástico, maravilha da vida moderna – que vira pesadelo quando chega a fatura do mês. Aí, o tal cartão de crédito exibe suas garras.

Engana-se quem acha que o impulso de consumir acomete só as mulheres. Já vi muitos homens endividados por conta de compras repentinas de itens desnecessários. Sim, comprar sem pensar traz o inconveniente extra de adquirir produtos absolutamente dispensáveis.

Aliás, o conselho número um dos especialistas em finanças ao consumidor é perguntar a si mesmo, antes de comprar: “Será que eu preciso mesmo disso?” Uma colega de trabalho costuma dizer que, quando sente aquele irresistível desejo de fazer compras, tranca-se no quarto e espera a vontade passar. Bom, nem é preciso ser tão radical, mas um pouco de cuidado com o bolso não faz mal a ninguém.

Falo isto porque vejo gente que conheço fazendo coisas absurdas. Está no vermelho, usando limite do cheque especial, com contas em atraso e continua comprando no cartão de crédito. Mais: com as facilidades da internet, nem precisa sair de casa. Basta acessar a rede e pronto. Está feita a aquisição. É a falta de autocontrole.

Há ainda os casos de quem busca nas idas ao shopping para gastos de toda ordem o alívio do estresse. Utiliza as compras como meio de compensar o desgaste cotidiano. Uns comem um montão de chocolate; outros compram. Nem um, nem outro faz bom negócio. Ambos têm satisfação temporária. Mais tarde, no entanto, vem a insatisfação gigantesca. O primeiro passa a brigar com a balança. Já o segundo entra em pane com a fatura do cartão de crédito.

Quando está sob forte tensão emocional e resolve comprar para espantar a depressão, a primeira coisa que vem à mente da pessoa é a velha frase: “Eu mereço”. Seja uma bolsa, um calçado, um celular, tudo em nome de um suposto mérito por suportar tanto desgaste. O fato é que esta frase pode ser a grande inimiga mais tarde. Se a pessoa quer relaxar depois de um dia tumultuado, o melhor a fazer é não ir ao shopping. Afinal, quem garante que o autocontrole estará presente para frear o impulso de gastar mais e mais? É bem mais seguro optar por uma caminhada ao ar livre, longe das vitrines.

Outro conselho dos especialistas aos consumidores mais impulsivos: só comprar quando se tem dinheiro no bolso para pagar à vista. A maioria das pessoas usa o cartão de crédito de forma errônea. Eles alertam que o cartão é um instrumento para facilitar as compras e conseguir vantagens em bônus com as operadoras; não para financiar as aquisições.

Voltando ao passeio ao shopping em família, o alerta deve ser redobrado. Em especial porque a associação entre crianças e centros de consumo não faz bem ao bolso dos pais. Acho que todos já viram cenas de crianças, aos berros, esperneando para fazer os pais comprarem algo que elas desejam.

Para evitar esses episódios, a orientação é conversar antes com os pequenos sobre a importância dos gastos, as necessidades e utilidades dos produtos e até estabelecer limite do valor que será gasto no passeio. Atitudes assim também tornam o lazer menos pesado para o orçamento doméstico e ajudam a formar consumidores mais conscientes.

Evidente que o exemplo deve partir dos pais. Não adiantam longos discursos às crianças se, na primeira loja, o pai compra mais um relógio para a coleção de outros encostados e a mãe leva outro sapato para ficar no armário. Eis porque nossa responsabilidade é grande. Não basta apenas o autocontrole para cuidar das finanças de casa. É preciso educar os filhos para o consumo consciente.

Por fim, mais uma dica. Sei que funciona. Nunca vá fazer compras de supermercado com fome. Escolha o horário logo após o almoço ou o jantar. Motivo: estar faminto faz a gente comprar mais alimentos – de todo tipo. Quando se está saciado, é mais fácil seguir a lista e comprar só o necessário. Experimente e boas compras!
Junji Abe (DEM), ex-prefeito municipal de Mogi das Cruzes

sexta-feira, 4 de junho de 2010

Crescimento sem fronteiras

A elevação da qualidade de vida exige, cada vez mais, a implementação de políticas públicas de caráter regional. A cultura histórica do bairrismo, por si só, vai dando lugar às novas e céleres transformações que a humanidade vem sofrendo.

Com a era da informatização, marcada pelo fabuloso crescimento da internet e de suas redes sociais, entrou em cena a sociedade da informação, que consolida a irreversível realidade do mundo globalizado. Tornou-se premissa para sobrevivência o conceito de “pensar globalmente para agir localmente”.

Na verdade, estamos muito atrasados nesse aspecto. Em que pesem as razões do momento, foi uma pena o saudoso governador Mário Covas ter extinto, em 1995, a Secretaria de Estado de Assuntos Metropolitanos para transformá-la em Secretaria de Estado dos Transportes Metropolitanos.

Recentemente, fui convidado para proferir uma palestra sobre o projeto, de autoria do ex-governador José Serra, que prevê a criação da Região Metropolitana do Vale do Paraíba. Vejo como fundamental a aprovação da proposta pela Assembléia Legislativa de São Paulo.

Aliás, sei bem o quanto o trâmite de projetos dessa natureza pode ser demorado. Daí, a importância de esforços conjuntos para destravar o andamento dos trabalhos. Enquanto deputado estadual, participei ativamente das ações em prol da criação da Região Metropolitana da Baixada Santista, também proposta pelo governo do Estado.


Qual o conceito da Região Metropolitana? É bastante amplo. Citarei os principais aspectos. Veja o tamanho das desigualdades entre localidades vizinhas. Ao redor de grandes municípios, existem médios e pequenos, com limites geográficos apenas teóricos. De fato, formam uma única gigantesca cidade. Porém, com diferenças gritantes, notadamente no que diz respeito ao Orçamento. Como exemplos, estão Barueri em relação à Carapicuíba, São Caetano comparativamente a Rio Grande da Serra, Mogi das Cruzes ante Biritiba Mirim, Taubaté a Tremembé e assim por diante.

Por conta dessa disparidade de Orçamento entre municípios colados uns aos outros, as diferenças são tão calamitosas. De uma cidade para outra, as condições de água, esgoto, saúde, educação, transportes, habitação, segurança, asfalto, empregabilidade e outros itens vitais à população mudam como da água para o vinho. É como se os povos dessas localidades vizinhas não fossem habitantes do mesmo Estado, do mesmo País. Tudo ocorre de forma incorreta e revoltante. São distorções do processo político-administrativo no Brasil, que passa alheio aos problemas das regiões metropolitanas.

Não existe rio que nasça e acabe num mesmo município. Afinal, num País continental como no nosso, os rios são intermunicipais, interestaduais e até internacionais, como o Tiête e o Amazonas. E aí, como fica? Salesópolis trata 100% dos esgotos gerados, Mogi cuida de 40% e Guarulhos despeja nos cursos d’água 98% dos esgotos coletados sem tratamento. São cidades vizinhas.

Outro exemplo: Barueri tem as melhores escolas municipais e sistema de saúde muito bom; porém, a vizinha Carapicuíba oferece má qualidade de educação e péssimos serviços em saúde. Ocorre que tanto os moradores de uma cidade quanto os da outra são paulistas e brasileiros.

O setor de transportes é mais um alvo do emaranhado de distorções no desenvolvimento de localidades vizinhas. No passado, era muito pior, mas ainda hoje persiste o problema das tarifas diferentes cobradas em cidades pegadas uma à outra. Aliás, a Secretaria de Estado dos Transportes Metropolitanos foi criada com a principal missão de, gradativamente, integrar as linhas de ônibus intermunicipais e, depois, estender o processo aos trens.

Muitos perguntarão: “Mas só isso? Os municípios da Região Metropolitana não terão orçamentos acrescidos? Citar as diferenças, tudo bem, mas, e daí?” Evidente que serão necessários investimentos pesados para reduzir as desigualdades sócio-econômicas entre as cidades, bem como recursos financeiros vultosos para obras e implantação de infraestrutura para atender necessidades comuns da região.

E, de onde sairão esses recursos? De Fundos que, a médio e longo prazos, terão condições de contribuir para os objetivos aqui apregoados. Aliás, a Lei Estadual que constituiu a Região Metropolitana de São Paulo previu a criação do Fumefi – Fundo Metropolitano de Financiamento e Investimento, que visa direcionar financiamentos e investimentos a municípios considerados “pobres”, ou seja, sem potenciais orçamentários para fazer frente às diversas demandas sociais. Como poucos ouviram falar em Fumefi, para um entendimento amplo sobre como tratar os desiguais, cito aqui o instrumento que a União há anos implementa na área educacional. Trata-se do antigo Fundef – Fundo Nacional de Desenvolvimento de Educação Fundamental, transformado no atual Fundeb – Fundo Nacional de Desenvolvimento de Educação Básica.

Muitos políticos brasileiros só criam despesas de custeio. Para ilustrar, conto o que aconteceu no meu primeiro mandato de deputado. Foi aprovado na Alesp um projeto de Lei que flexibilizou e facilitou muito a emancipação de Bairros e Distritos para se tornarem novos municípios. Guatapará é um exemplo – emancipou-se da cidade de Ribeirão Preto.

A justificativa para essas emancipações era a de que a transformação em município elevaria a qualidade de vida dos moradores. Ledo engano. Salvo raríssimas exceções, o festival de localidades emancipadas visava tão somente satisfazer o ego de políticos que, como líderes locais ou vereadores, queriam ter o cargo de vice ou de prefeito da recém-criada cidade. Haja dinheiro para bancar tudo isso. A constituição de representantes dos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, assim como de unidades de órgãos públicos, exige recursos financeiros astronômicos.

No Japão, ao contrário, nos últimos 10 anos, pequenos municípios foram incorporados ou agregados aos maiores. É o caso de 11 municípios localizados ao redor da cidade de Seki, que se transformaram em distritos de Seki. Ao todo, naquele país, houve a diminuição de aproximadamente 120 municípios. E com esta medida uma fantástica redução de despesas político-administrativas.

A maciça concentração humana vem aliada ao fato de que a maioria das demandas sociais não tem fronteiras. Saúde, educação, segurança, habitação, saneamento, meio ambiente, entre outras áreas, exigem plano estratégico de intervenções, com dimensão regional.

A criação de Regiões Metropolitanas tem como meta integrar as ações público-administrativas para aumentar a eficiência e reduzir o déficit público decorrente de custeios desnecessários, diminuindo as diferenças prejudiciais entre os municípios. Tudo para proporcionar uma qualidade de vida melhor à população. É a lógica tão cristalina, sintetizada na célebre frase de Rui Barbosa, mas não exercitada: “tratar os desiguais com desigualdade”.

Junji Abe é ex-prefeito de Mogi das Cruzes