sexta-feira, 16 de abril de 2010

Atenção à Terceira Idade



Ao destacar o amor pela mãe – de 92 anos, saudável, que vive sozinha – , uma senhora da platéia perguntou se deveria levá-la para morar com ela. “Absolutamente não”, respondeu, enfático, o palestrante. Ele explicou que amar não significa tolher o idoso de sua individualidade e autonomia nem fazê-lo crer que deixou de ser útil, porque isto seria ferir de morte sua auto-estima. Exceto em função de problemas de saúde, não há motivo para tornar o idoso dependente de alguém. As orientações são do renomado médico Içami Tiba, que contou o caso durante uma palestra a que assisti.

Recordei-me do fato para abordar um assunto de extrema relevância: o despreparo do Brasil em relação à Terceira Idade. Tanto na oferta de serviços públicos quanto no aspecto cultural – especialmente, a maneira como a sociedade trata o idoso.

Fato é que nosso País está envelhecendo. De 1980 para cá, a taxa de envelhecimento saltou dos 19% para os 40%. Em outras palavras, os jovens têm menos filhos e os idosos vivem mais. Ocorre que muito pouco se tem feito para lidar com esta realidade e menos ainda para enfrentar o cenário que ela projeta para um futuro próximo.

Até a década de 70, era escasso o nível geral de conhecimento sobre os cuidados a serem dispensados à população de idade mais avançada. Políticas públicas dirigidas à Terceira Idade só faziam parte do vocabulário de nações desenvolvidas e estáveis. De 70 a 90, as autoridades começaram a legislar e aprovar projetos relacionados à proteção do idoso. Contudo, somente a partir dos anos 90, a promulgação de leis ganhou maior agilidade.

Foi assim que o Brasil passou a proporcionar à Terceira Idade concessões como transporte gratuito, prioridade em atendimentos públicos, voto e declaração de Imposto de Renda facultativos, EJA - Educação de Jovens e Adultos, estacionamento demarcado em vias e estabelecimentos privados (shopping centers, super e hiper mercados), créditos consignados e descontos na compra de determinados itens, entre outras. Também foi um avanço a criação dos Conselhos do Idoso, nos níveis nacional, estadual e municipal, que são fundamentais para pressionar as autoridades a atuarem na justa e legítima implantação de novos benefícios.

A missão de viabilizar políticas públicas adequadas à população da Terceira Idade não é exclusiva do governo federal. É preciso haver empenho do Executivo nas três esferas e a participação da sociedade.

Em Mogi das Cruzes, a partir da nossa primeira gestão à frente da Prefeitura, em 2001, implantamos programas para elevar a qualidade de vida da Terceira Idade. No campo fiscal, garantimos isenção de IPTU para idosos e aposentados de baixa renda. Visando facilitar e melhorar a locomoção, criamos o Cartão Conforto para permitir ao idoso usar o mesmo acesso que os outros passageiros e sentar-se em qualquer lugar do ônibus, em vez de ser obrigado a usar a porta dianteira, ficar confinado e em pé no pequeno espaço próximo ao condutor.

Nas áreas assistencial e de promoção da cidadania, implantamos o Conselho Municipal do Idoso, Centros de Referência para assistência dirigida e unidades do Posto de Atendimento ao Cidadão (PAC) no piso térreo, além de ampliarmos o repasse de verbas municipais a instituições que prestam atendimento à Terceira Idade, como Pró+Vida, Renascer e Sociedade São Vicente de Paula.

Já no setor de saúde, abrimos um leque de benefícios. Desde programas de Medicina Preventiva para orientar hipertensos, diabéticos e portadores de outras enfermidades até o Promeg – Programa de Medicamento Gratuito (veja http://junjiabe.blogspot.com/2009/11/e-preciso-remediar-de-graca.html), passando por consultas médicas domiciliares. Nas áreas sócio-educativa, cultural e esportiva, proporcionamos cursos e oficinas nos bairros, bailes carnavalescos, núcleos de ginástica especializada em centros esportivos e maior participação nos Jogos Regionais do Idoso (JORI).

Para concentrar os principais serviços públicos aos idosos num só endereço, implantamos o inédito Pró-Hiper, focado em cuidar da saúde física e mental de quem tem mais de 60 anos de idade. Com capacidade para atender até 1,5 mil pessoas por dia, o complexo abriga sala de ginástica com dois ambientes e modernos equipamentos de musculação, parque aquático com piscinas aquecidas, saunas e vestiário, área verde com quiosques e laboratório de informática. Reúne atividades de recreação – incluindo dança e karaokê, condicionamento físico e hidroterapia, além de serviços especializados, como a Delegacia do Idoso, instalada em parceria com o Estado.


A ideia de manter no Pro-Hiper uma sala de informática, dotada de dezenas de computadores com acesso à internet, visa garantir ao idoso a oportunidade de interagir com novas ferramentas do mundo moderno, estar apto a acompanhar a evolução e não acabar marginalizado, até pelos netos, por estar alheio à tecnologia. Tudo isto faz bem à mente e, consequentemente, melhora a saúde dos nossos veteranos.

Sei perfeitamente as transformações que a idade imputa. Sinto-as na pele. Mas, aceito-as naturalmente. Aprendi com a vida que temos de cuidar do corpo com pleno rigor e todo carinho. Podem me chamar de vaidoso, porque sou mesmo. Entendo que o corpo é dádiva divina onde Deus colocou minha vida, mente e alma. Em retribuição, tenho o dever de proteger meu templo pessoal e zelar por ele.

Aliás, modéstia à parte, apesar dos meus 69 anos, algumas vezes, guardas de shopping me proíbem de ocupar vagas de estacionamento reservadas aos idosos. Já tive até de mostrar a carteira de identidade – no fundo, fico contente. Fatos assim reafirmam que o corpo é o espelho da alma. Ou seja, mente equilibrada e espírito em paz.

Antes tarde do que nunca, o comportamento medieval em relação aos veteranos começou a sucumbir diante do envelhecimento da população brasileira, confirmado pelos indicadores demográficos. Hoje, Poder Público e sociedade enfrentam o desafio de lidar com as justas demandas da nossa Terceira Idade.

Um ponto-chave no processo é a péssima remuneração dos aposentados. 70% deles ganha apenas 1 salário mínimo (R$ 510,00, em valor atual). Quem recebe mais, tem reajustes inferiores aos daqueles que estão na ativa. Como a longevidade avança, a Previdência Social precisa de recursos cada vez maiores. Paradoxalmente, como a taxa de natalidade vem caindo, será menor a população economicamente ativa que contribui com o fundo previdenciário. Resultado: cresce a desproporção entre o que é arrecadado e o total de proventos a pagar, tornando mais distante ainda o sonho de uma aposentadoria digna.

A situação é ainda mais grave em tempos de crise econômica e desemprego em alta. O que se observa são avós, que vivem da parca aposentadoria, agasalhando filhos e netos desempregados. Não bastasse, será necessário ampliar a oferta de vagas em asilos públicos ou subvencionados para acolher idosos que dependem de assistência integral e cujos parentes trabalham fora o dia todo.

Como se vê, os desafios são gigantescos. Em que pesem todas as nuas e cruas dificuldades enfrentadas pelos idosos neste País emergente, tenho determinação e sou intransigente no zelo aos princípios de jamais abrir mão do dever de conceder à Terceira Idade o que ela merece: respeito, reconhecimento, gratidão, solidariedade, amizade, diálogo, carinho, atenção e amor, muito amor.
Junji Abe (DEM) é ex-prefeito de Mogi das Cruzes

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