sexta-feira, 30 de abril de 2010

Desconhecido valor das Cidades-Irmãs


Desde criança, sem a exata consciência, mas, imperceptivelmente, por necessidade ou vocação, venho desenvolvendo, acumulando, fortalecendo e, por isso, consolidando a convicção de que o bom relacionamento é fundamental ao ser humano. Esteja ele onde estiver no Planeta. Infelizmente, nem sempre isto ocorre. Seria ótimo se a perfeita sinergia fosse permanente dentro de casa, entre os vizinhos, nos bairros, cidades e assim, sucessivamente, até entre povos de nações diferentes.

Não se trata de retórica nem de insistir no óbvio, mas de uma simples reflexão. No cotidiano, ao nosso redor, constatamos como nos sentimos melhor quando, com elegância e simpatia, pedimos ou apresentamos algo. As portas se abrem e, mesmo que os objetivos não se concretizem, fica um saldo positivo inimaginável para todas as partes.

Aliás, vale observar que o bebê, instintivamente, chora para ser atendido. Quando querem algo, muitas crianças pedem tão amorosamente que não há coração que resista. As mulheres, sim, as nossas mulheres, são especialistas na arte de pedir, serem atendidas e ainda conseguirem ouvir de nós, os maridos, “muito obrigado!”

O espaço é pequeno e não comporta infindáveis exemplos e fatos propositivos, advindos de bons relacionamentos. Porém, minha intenção é a reafirmação contínua de que a prática das boas relações é uma poderosíssima ferramenta em benefício do desenvolvimento sustentado, da qualidade de vida, da paz entre os seres humanos e nações, enfim, da almejada felicidade.

Alicerçado nessas considerações e com conhecimento de causa, afirmo o quanto é importante o “Convênio Cidades-Irmãs” entre Mogi das Cruzes e os municípios japoneses de Seki e Toyama, oficializados nos anos de 1969 e 1979. O processo foi iniciado pelo falecido imigrante Adachi (da Cerâmica Adachi, no Bairro de Porteira Preta), nascido em Seki e prosseguiu por meio de famílias vindas de Toyama.


Nos primórdios, o embasamento desses acordos era, quase exclusivamente, o sentimento de amizade e, dela esposada, comitivas das duas cidades visitavam os mogianos, pelo menos, a cada quatro anos; as autoridades locais retribuíam as visitas.

O intercâmbio concentrava-se nos setores cultural, educacional, esportivo e social. Ao longo de décadas, Mogi sempre recebeu muito mais do que ofereceu, por conta da desproporcionalidade em termos de grandeza econômico-financeira entre as duas Nações.

Para se ter ideia das contribuições recebidas das irmãs nipônicas, vale comentar que, na década de 80, a renda obtida com a venda de toneladas de roupas, praticamente novas, doadas por Toyama garantiu a instalação de gabinete odontológico na Apae (Associação dos Pais e Amigos dos Excepcionais) e a construção de duas creches. Com as doações de Seki, mais uma unidade foi erguida e outra ampliada. A Cidade também ganhou três ambulâncias e equipamentos esportivos para beisebol, entre outros.

A cooperação incluiu a implantação de fonte luminosa no pátio da Prefeitura, construção de salas de aula e a permanência de professores do Japão para aprimorar o ensino da língua japonesa. E isto foi só o começo.

Muitas outras contribuições viriam ao longo dos oito anos em que estive à frente da Prefeitura de Mogi. Coincidindo com o início da gestão, em 2001, e já com o mundo globalizado, a parceria ganhou dimensões bem maiores. Passou a agasalhar também interesses bilaterais nos campos econômico, empresarial, tecnológico e ambiental.


Ainda naquele ano, lideramos uma comitiva oficial ao Japão. A bagagem voltou lotada de resultados positivos. Com recursos do governo japonês, implantamos o primeiro Laboratório Municipal de Análises Clínicas e a cozinha comunitária na Casa da Criança Cristo Redentor, administrada por Padre Atílio. A Cidade também ganhou uma Cooperativa de Flores no Bairro do Taboão, integralmente custeada pelo País do Sol Nascente. Vale citar ainda a vinda de cerca de 10 técnicos japoneses que ficaram cinco anos no Bairro do Itapeti para ajudar no aperfeiçoamento da produção de flores e orquídeas

Confirmando a magnitude do intercâmbio, a Cidade foi escolhida para sediar empreendimentos do Japão e multinacionais japonesas com unidades em Mogi atenderam nossos pedidos. A Rinnai Corporation ampliou em mais de cinco vezes a fabricação de aquecedores de água a gás. No ano anterior, portanto, em 2000, o Brasil havia sofrido o primeiro grande Apagão de energia elétrica. A Nachi-Fujkoshi Corporation transformou a fábrica mogiana em ponto estratégico para modernização e crescimento do grupo, especialmente nos negócios com países do Mercosul. Já a NGK investiu na modernização do sistema produtivo, ampliou a linha de produtos e aumentou significativamente a produção de velas de ignição e cerâmica, além de doar à Prefeitura as instalações de sua antiga fábrica, na área central da Cidade.

Na esfera dos avanços tecnológicos propiciados pelos convênios, destaca-se o trabalho das multinacionais japonesas na reformulação do conceito administrativo, absorvido por nossas empresas, que passou a ser pautado na redução de custos com melhor qualidade dos produtos em benefício do consumidor. Outras contribuições importantes destinaram-se ao meio ambiente. Em especial, para solucionar os problemas causados pela gestão inadequada dos resíduos sólidos domiciliares, industriais e hospitalares – área em que o Brasil está atrasadíssimo.


O Centenário da Imigração Japonesa no Brasil, em 2008, coincidiu com o último ano do nosso governo. Entre 2007 e 2008, Mogi recebeu visitantes ilustres, como prefeitos de Seki, Toyama e Hamamatsu e o governador Katsusada Hirose, da Província de Oita – berço dos meus ancestrais – além de presidentes de Assembleias Legislativas e Câmaras Municipais, deputados estaduais e federais, vereadores e lideranças da sociedade civil. Eles trouxeram valiosas peças históricas de suas terras de origem, que compõem os acervos do Museu da Imigração e do Memorial das Cidades-Irmãs, ambos no Parque Centenário.

Tentei dimensionar a importância do bom relacionamento humano e mostrar que contém princípios aplicáveis em nível ilimitado. Não há fronteiras para a convivência harmoniosa. Prova disso são convênios simples, como o das “Cidades-Irmãs”, exercitados quando há vontade política.

Em Mogi das Cruzes, a prole da família mundial está prestes a crescer, com a adesão do município de Hamamatsu. As tratativas para o acordo começaram em 2006, junto ao presidente da Associação Brasileira de Hamamatsu (Abrah), Etsuo Ishikawa. Embora pouco conhecido, este tipo de intercâmbio gera bons resultados em qualquer lugar do Brasil. E não tem de ficar restrito ao Japão. Pode perfeitamente ser firmado com cidades dos mais diferentes países, como Portugal, Itália, Espanha, Alemanha, China, Coréia e outros de onde vieram imigrantes que muito fizeram e continuam fazendo pelo desenvolvimento da Nação brasileira.
Junji Abe (DEM) é ex-prefeito de Mogi das Cruzes

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Cuidar do corpo é cuidar da alma

Destaque no cenário esportivo? Até outubro de 2006, parecia um sonho distante para Felipe, portador de paralisia cerebral. Realidade: aos 12 anos de idade, ele subiu duas vezes ao pódio e descortinou um futuro promissor na natação. Treinando no Clube Náutico Mogiano, ganhou duas medalhas, ouro e prata, no 1º Campeonato Paraolímpico Escolar para Portadores de Necessidades Especiais.

Jovens como Felipe são de famílias humildes que não teriam como custear o treinamento esportivo. Nasceram com talento. Faltava-lhes apenas oportunidade. Como outros, já descobertos e a serem identificados, eles afloraram no garimpo de um projeto social da Prefeitura de Mogi das Cruzes que, modéstia à parte, poderia servir de modelo a outros municípios. Proporcionando cerca de 3,5 mil atendimentos por ano, o “Sanção Premial” garante isenção do IPTU para clubes que oferecem atividades esportivas e recreativas gratuitas a alunos das escolas municipais.

No campo do desenvolvimento humano e social, o esporte se apresenta como ferramenta indispensável à promoção da cidadania. É ainda uma poderosa vacina contra os males da ociosidade que favorecem a escalada da violência. Não falo só do esporte competitivo. Mas sim, do esporte associado ao lazer, de modo abrangente e acessível. Por décadas a fio, a maioria dos municípios deu pouca importância a essas atividades. Inclusive Mogi das Cruzes que, até o ano 2000, envolvia menos de 10 mil mogianos num único projeto municipal da área.


Com o propósito de reverter esse quadro, assumimos a Prefeitura em 2001, lançando os primeiros programas da série para estimular práticas desportivas e proporcionar lazer. Em 2008, quando deixamos o cargo, os dez principais projetos esportivos – sem incluir os de recreação – registravam média anual superior a 130 mil atendimentos. Foram moldados para beneficiar pessoas de todas as idades.


É o caso do Esporte Mogi, desenvolvido em parceria com a iniciativa privada, para levar atividades esportivas, noções de ética e promoção da cidadania às crianças de bairros carentes da cidade. Com total receptividade popular, o projeto realizava nada menos que 5,5 mil atendimentos por ano.

As revelações do esporte mogiano personificam a evolução do processo que regeu a política municipal adotada para o setor. Todas as ações foram focadas no social. Ou seja, associar prática de esportes e lazer para proporcionar ocupação saudável à população, com prioridade para crianças e adolescentes carentes – combatendo a ociosidade que facilita a rota da violência e das drogas – e para Terceira Idade. Sintetiza a filosofia definida junto com o povo, no PGP – Plano de Governo Participativo.

Mantidas pelo meu sucessor, o prefeito Marco Bertaiolli (DEM), as aulas de esportes – de iniciação à formação de atletas – são ministradas nos centros esportivos, em clubes privados e escolas municipais. Há dezenas de modalidades – de futebol a peteca, passando por xadrez, judô para deficientes visuais e ginástica para Terceira Idade. Sem contar a recreação. Muita recreação.


O lazer é a mola mestra de um dos mais bem-sucedidos projetos de todos os tempos. “A Rua Feliz” está prestes a completar 7 anos de existência – 5,5 anos deles em nossas duas gestões como prefeito, agregando mais de 400 mil atendimentos. Percorre a cidade nos finais de semana, levando brinquedos, atrações musicais e atividades esportivas.

Abrimos o caminho para os esportes e ampliamos as opções de lazer, atendendo as demandas que a população registrou no PGP. O povo conhece bem o poder dessas ferramentas. Guardadas as proporções, são o condão para orquestrar magia semelhante à dos tempos de Copa do Mundo, que veste os corações brasileiros de verde e amarelo e cria uma linguagem única, capaz de nivelar desigualdades em nome da vitória.

Envolvida com esportes e lazer, a comunidade exercita a cidadania e cultiva a integração social. Corpo em dia e mente sã em nome de bens maiores, como mais qualidade de vida e menos violência. Nesse campeonato, se joga todo dia. Os craques são os participantes dos projetos. Nada de mitos. Há gente comum cumprindo seu papel. E isso faz toda a diferença na estrada onde a única derrota é a desistência.
Junji Abe (DEM) é ex-prefeito de Mogi das Cruzes

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Atenção à Terceira Idade



Ao destacar o amor pela mãe – de 92 anos, saudável, que vive sozinha – , uma senhora da platéia perguntou se deveria levá-la para morar com ela. “Absolutamente não”, respondeu, enfático, o palestrante. Ele explicou que amar não significa tolher o idoso de sua individualidade e autonomia nem fazê-lo crer que deixou de ser útil, porque isto seria ferir de morte sua auto-estima. Exceto em função de problemas de saúde, não há motivo para tornar o idoso dependente de alguém. As orientações são do renomado médico Içami Tiba, que contou o caso durante uma palestra a que assisti.

Recordei-me do fato para abordar um assunto de extrema relevância: o despreparo do Brasil em relação à Terceira Idade. Tanto na oferta de serviços públicos quanto no aspecto cultural – especialmente, a maneira como a sociedade trata o idoso.

Fato é que nosso País está envelhecendo. De 1980 para cá, a taxa de envelhecimento saltou dos 19% para os 40%. Em outras palavras, os jovens têm menos filhos e os idosos vivem mais. Ocorre que muito pouco se tem feito para lidar com esta realidade e menos ainda para enfrentar o cenário que ela projeta para um futuro próximo.

Até a década de 70, era escasso o nível geral de conhecimento sobre os cuidados a serem dispensados à população de idade mais avançada. Políticas públicas dirigidas à Terceira Idade só faziam parte do vocabulário de nações desenvolvidas e estáveis. De 70 a 90, as autoridades começaram a legislar e aprovar projetos relacionados à proteção do idoso. Contudo, somente a partir dos anos 90, a promulgação de leis ganhou maior agilidade.

Foi assim que o Brasil passou a proporcionar à Terceira Idade concessões como transporte gratuito, prioridade em atendimentos públicos, voto e declaração de Imposto de Renda facultativos, EJA - Educação de Jovens e Adultos, estacionamento demarcado em vias e estabelecimentos privados (shopping centers, super e hiper mercados), créditos consignados e descontos na compra de determinados itens, entre outras. Também foi um avanço a criação dos Conselhos do Idoso, nos níveis nacional, estadual e municipal, que são fundamentais para pressionar as autoridades a atuarem na justa e legítima implantação de novos benefícios.

A missão de viabilizar políticas públicas adequadas à população da Terceira Idade não é exclusiva do governo federal. É preciso haver empenho do Executivo nas três esferas e a participação da sociedade.

Em Mogi das Cruzes, a partir da nossa primeira gestão à frente da Prefeitura, em 2001, implantamos programas para elevar a qualidade de vida da Terceira Idade. No campo fiscal, garantimos isenção de IPTU para idosos e aposentados de baixa renda. Visando facilitar e melhorar a locomoção, criamos o Cartão Conforto para permitir ao idoso usar o mesmo acesso que os outros passageiros e sentar-se em qualquer lugar do ônibus, em vez de ser obrigado a usar a porta dianteira, ficar confinado e em pé no pequeno espaço próximo ao condutor.

Nas áreas assistencial e de promoção da cidadania, implantamos o Conselho Municipal do Idoso, Centros de Referência para assistência dirigida e unidades do Posto de Atendimento ao Cidadão (PAC) no piso térreo, além de ampliarmos o repasse de verbas municipais a instituições que prestam atendimento à Terceira Idade, como Pró+Vida, Renascer e Sociedade São Vicente de Paula.

Já no setor de saúde, abrimos um leque de benefícios. Desde programas de Medicina Preventiva para orientar hipertensos, diabéticos e portadores de outras enfermidades até o Promeg – Programa de Medicamento Gratuito (veja http://junjiabe.blogspot.com/2009/11/e-preciso-remediar-de-graca.html), passando por consultas médicas domiciliares. Nas áreas sócio-educativa, cultural e esportiva, proporcionamos cursos e oficinas nos bairros, bailes carnavalescos, núcleos de ginástica especializada em centros esportivos e maior participação nos Jogos Regionais do Idoso (JORI).

Para concentrar os principais serviços públicos aos idosos num só endereço, implantamos o inédito Pró-Hiper, focado em cuidar da saúde física e mental de quem tem mais de 60 anos de idade. Com capacidade para atender até 1,5 mil pessoas por dia, o complexo abriga sala de ginástica com dois ambientes e modernos equipamentos de musculação, parque aquático com piscinas aquecidas, saunas e vestiário, área verde com quiosques e laboratório de informática. Reúne atividades de recreação – incluindo dança e karaokê, condicionamento físico e hidroterapia, além de serviços especializados, como a Delegacia do Idoso, instalada em parceria com o Estado.


A ideia de manter no Pro-Hiper uma sala de informática, dotada de dezenas de computadores com acesso à internet, visa garantir ao idoso a oportunidade de interagir com novas ferramentas do mundo moderno, estar apto a acompanhar a evolução e não acabar marginalizado, até pelos netos, por estar alheio à tecnologia. Tudo isto faz bem à mente e, consequentemente, melhora a saúde dos nossos veteranos.

Sei perfeitamente as transformações que a idade imputa. Sinto-as na pele. Mas, aceito-as naturalmente. Aprendi com a vida que temos de cuidar do corpo com pleno rigor e todo carinho. Podem me chamar de vaidoso, porque sou mesmo. Entendo que o corpo é dádiva divina onde Deus colocou minha vida, mente e alma. Em retribuição, tenho o dever de proteger meu templo pessoal e zelar por ele.

Aliás, modéstia à parte, apesar dos meus 69 anos, algumas vezes, guardas de shopping me proíbem de ocupar vagas de estacionamento reservadas aos idosos. Já tive até de mostrar a carteira de identidade – no fundo, fico contente. Fatos assim reafirmam que o corpo é o espelho da alma. Ou seja, mente equilibrada e espírito em paz.

Antes tarde do que nunca, o comportamento medieval em relação aos veteranos começou a sucumbir diante do envelhecimento da população brasileira, confirmado pelos indicadores demográficos. Hoje, Poder Público e sociedade enfrentam o desafio de lidar com as justas demandas da nossa Terceira Idade.

Um ponto-chave no processo é a péssima remuneração dos aposentados. 70% deles ganha apenas 1 salário mínimo (R$ 510,00, em valor atual). Quem recebe mais, tem reajustes inferiores aos daqueles que estão na ativa. Como a longevidade avança, a Previdência Social precisa de recursos cada vez maiores. Paradoxalmente, como a taxa de natalidade vem caindo, será menor a população economicamente ativa que contribui com o fundo previdenciário. Resultado: cresce a desproporção entre o que é arrecadado e o total de proventos a pagar, tornando mais distante ainda o sonho de uma aposentadoria digna.

A situação é ainda mais grave em tempos de crise econômica e desemprego em alta. O que se observa são avós, que vivem da parca aposentadoria, agasalhando filhos e netos desempregados. Não bastasse, será necessário ampliar a oferta de vagas em asilos públicos ou subvencionados para acolher idosos que dependem de assistência integral e cujos parentes trabalham fora o dia todo.

Como se vê, os desafios são gigantescos. Em que pesem todas as nuas e cruas dificuldades enfrentadas pelos idosos neste País emergente, tenho determinação e sou intransigente no zelo aos princípios de jamais abrir mão do dever de conceder à Terceira Idade o que ela merece: respeito, reconhecimento, gratidão, solidariedade, amizade, diálogo, carinho, atenção e amor, muito amor.
Junji Abe (DEM) é ex-prefeito de Mogi das Cruzes

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Imprensa amordaçada, fim da democracia

Nada pode ser generalizado. Tanto para o bem quanto o mal. Por mais que ainda haja falhas, tendências (explícitas ou não) e jogos de interesses, ninguém pode negar a importância da Imprensa na sociedade. É uma das dádivas da liberdade de expressão que permite à mídia esmiuçar fatos, investigar atos e colocar, às claras, muitas das práticas ilícitas, atos de corrupção e indecências que permaneceriam ocultas em mentes desprovidas de consciência.

Entendo que a Imprensa tem contribuído de modo grandioso para a moralização de condutas em diferentes campos de atividades, notadamente, na política. Ao criticar atitudes, força a execução de medidas corretivas. Ao denunciar ilegalidades, consegue estancar – ainda que temporariamente – a teia de negociatas podres e acelerar ações para combater a impunidade. Ao democratizar a informação, estimula o senso-crítico da população (mesmo que em processo gradativo) e impulsiona a evolução social.

Ao mesmo tempo em que erros grotescos levaram inocentes ao sofrimento da condenação prévia pela opinião pública, as denúncias da Imprensa bloquearam a célere expansão de uma prole de esquemas de corrupção – muitos, inimagináveis por gente de bem.

Longe de mim colocar a Imprensa acima do bem e do mal. Afinal, ela é feita por pessoas. Aos que padecem de alergia crônica a jornalistas e fogem deles como o diabo da cruz, devo lembrar que, até prova em contrário, eles são gente. Portanto, sujeitos a errar como qualquer ser humano. Por este mesmo motivo, são responsáveis por aquilo que produzem e, como tal, têm de arcar com as consequências de eventuais deslizes.

Outra coisa: governante que não suporta críticas da Imprensa precisa achar outra ocupação na vida. Via de regra, a mídia expõe opiniões e necessidades da população. Ser sensível às demandas e cobranças, sem encará-las como implicância pessoal, é atributo indispensável ao gestor público.

Por experiência própria como prefeito, digo que se aprende muito com as críticas da Imprensa. Algumas são até injustas, mas cabe ao alvo das reclamações corrigir equívocos. Quanto maior a transparência de um governo, menor é o desgaste causado por contestações. É preciso usar com sabedoria e bom senso o instrumento da comunicação, inerente ao ser humano.

Feliz o povo brasileiro que conquistou seu direito à liberdade de expressão. Não por menos, precisamos extirpar ocorrências deploráveis como a censura judicial imposta ao Estadão por causa das reportagens que colocavam a família Sarney em maus lençóis.

Repito: em que pese o fato de a Imprensa não ser infalível, temos de evitar, com todas as forças, que seja amordaçada. A Imprensa livre é um ícone da democracia. Se cerceada, não tardará para que venham outros tipos de censura até o ápice de um regime absolutista.

Não faz nem um mês que o governo federal tentou enfiar goela abaixo da Nação o Programa Nacional-Socialista dos Direitos Humanos, que embutia absurdas restrições da liberdade, típicas de um regime comuno-fascista. Basta citar a referência ao “controle dos meios de comunicação” e o artigo que previa a “transformação de invasor de propriedade privada em parte da comissão de negociação nos casos de reintegração de posse”. Graças aos acirrados protestos de jornalistas e de outros cidadãos de bem, a investida terrorista contra a liberdade não se concretizou.

No que se refere a Lula, repriso a frase de um editorial do Estadão: “... nunca antes neste País, em regime democrático, um presidente havia manifestado tanto ódio pela imprensa livre.”

Quem viveu os anos sombrios da ditadura brasileira tem gravado na alma o significado de privação da liberdade. Não há paisagens paradisíacas nem propaganda para turista que mudem o cotidiano de dor e revolta dos povos de países governados por tiranos. É assim em Cuba, na Venezuela, na China... Tamanha é a opressão que o populismo já não impede mais a insurreição de pessoas paupérrimas. O estimulado conflito de classes sociais não supera o ódio ao caudilhismo.

As prisões de Cuba estão abarrotadas de gente cujo único crime foi o de se opor à ditadura dos irmãos Fidel e Raúl Castro. São prisioneiros políticos como Orlando Zapata, pedreiro negro de 43 anos, que morreu em 23 de fevereiro último devido a uma greve de fome.

Igualmente monstruoso foi ver o presidente do Brasil – lá em Cuba, ao lado dos ditadores – condenar pessoas em desespero que, como Zapata, recorrem à greve de fome. Também não posso concordar com o senhor presidente que comparou presos políticos cubanos aos bandidos recolhidos no sistema carcerário paulista. Não tem cabimento nivelar gente que luta pela liberdade e pela democracia com assassinos, estupradores, sequestradores, criminosos comuns.


Alheio aos flagelos do caudilhismo na ilha de Fidel, nosso presidente tentou justificar-se alegando a necessidade de não interferir com as questões de Cuba para que ninguém queira se meter nos assuntos do Brasil. Ora, mas não houve enorme interferência brasileira em Honduras, onde nossa embaixada serviu de quartel para o ex-presidente Manuel Zelaya, que queria se perpetuar no poder contrariando a legislação hondurenha? O mais espantoso é que o próprio Lula foi vítima do regime de exceção.

Por tudo isto, ninguém deve se esquecer do passado de ditadura que imperou no Brasil. Preservar a democracia, ter uma Imprensa livre e a garantia da liberdade conquistada neste País ao preço de muitas vidas ceifadas é dever de todo cidadão.
Junji Abe (DEM) é ex-prefeito de Mogi das Cruzes

quinta-feira, 1 de abril de 2010

O vampiro MST: crime anunciado

A exemplo de tantos cidadãos de bem, condeno toda e qualquer forma de violência, sou defensor dos movimentos sociais legítimos, solidário com gente trabalhadora que sofre com o desemprego, combatente da desigual distribuição de renda e partidário incondicional do desenvolvimento com justiça social e prudência ambiental. Como a maioria dos mortais, entendo que nada justifica ações criminosas.

Baseado nesses princípios, não posso admitir, calado, as ocorrências que prometem povoar este mês com flagrantes violações dos direitos do cidadão comum, amparadas no universo de ilusões criadas para o povo miserável, desinformado e faminto. De um lado, a conduta do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), que alardeia a realização de mais uma série de invasões de propriedades com apelo de marketing intitulado “abril vermelho”. De outro, a estarrecedora omissão das autoridades para o fato que, na minha humilde interpretação, é um crime anunciado.

O que seria do mundo se todos os carentes fossem praticar crimes para satisfazer suas necessidades? Seria uma bandalheira generalizada. Nem é preciso ir tão longe. Um pai de família desempregado que anunciasse o furto de leite para matar a fome dos filhos teria das autoridades a mesma condescendência dada ao MST? Óbvio que não. Estaria no xilindró antes de pensar em sair de casa. Invadir propriedade alheia é apropriar-se do patrimônio de outro. Logo, é tão criminoso quanto furtar.


A pergunta que se faz às autoridades é por quê o MST pode cometer crimes anunciados e sair impune?


O discurso de que se trata de um movimento social dos oprimidos contra os ricos fazendeiros improdutivos já ficou oco há tempos. Até porque, não justifica a maciça destruição de plantações, máquinas e outros bens das terras invadidas. E, claro, se fossem improdutivas, não teriam áreas plantadas. Mais que isso: mesmo que estivessem nuas, conforme a Constituição, ninguém teria o direito de invadi-las.


Há quem pergunte: e os fracos e oprimidos? Sim, pobre daqueles que se fiaram em ilusões vendidas pelo MST. A causa dos sem-terra pouco importa às lideranças da entidade e de suas coligadas que mamam fartamente em tetas públicas, nutrem múltiplos interesses próprios e nenhum objetivo social. São vampiros que sugam a fé de gente pobre e verbas do Poder Público.


A farsa do MST sobrevive com a exploração de famílias pobres, que são transformadas em massa de manobra em prol de negociações obtusas, e bem privadas, junto ao governo federal. Felizmente, a letargia que consome as autoridades ante às práticas criminosas do MST não contaminou a Imprensa. A Revista Veja escancarou os espúrios canais de abastecimento dos cofres da organização: http://veja.abril.com.br/020909/por-dentro-cofre-mst-p-64.shtml


Há de se dizer ainda do vácuo no conteúdo da reforma agrária que o suposto Movimento defende. Não existe adubo milagroso que produza lavoura rentável a partir da junção de um pedaço de terra com uma família de boa vontade. Sem vocação agrícola, conhecimento, assistência técnica e nem recursos para insumos e meios de comercialização, os resultados do plantio sequer garantem o sustento dessa gente. Principalmente, num mercado cada vez mais competitivo como o agronegócio. Numa comparação grosseira, seria como mandar um operário negociar ações na bolsa de valores.


Portanto, entregar um naco de terra a cada família pobre não será a solução para a miséria. Sem um conjunto de medidas que incluam adequado apoio aos futuros produtores, a simples distribuição de áreas é inócua. Tão estúpida quanto destruir árvores frutíferas, que levaram anos para alcançar o ápice de produção, para plantar meia dúzia de mudas de feijão.
Isto não é reforma agrária. É bandalheira institucional.


Com essa cegueira crônica, a liderança do MST fala de reforma agrária. Entende tanto de agricultura que deve pensar que alface dá em árvore. Conheço bem os pseudo-defensores dos sem-terra. Ao longo de dez anos de atuação como deputado estadual, presidi a Comissão de Agricultura e Pecuária da Assembléia Legislativa de São Paulo. Já naquela época os argumentos eram pífios, em contraste com o volume de invasões – em número e nível de violência. A diferença é que os agressores eram menos endinheirados.


Lembro-me, como se fosse hoje, das propriedades invadidas que visitei em regiões como a do Pontal do Paranapanema. Uma delas, de médio porte, a ação do MST transformara em cenário de guerra. Os invasores mataram o gado, queimaram celeiros e pastos, destruíram plantações de milho e fulminaram matrizes reprodutoras para melhoramento genético da pecuária de leite. Em poucas horas, dizimaram o trabalho de três gerações da família proprietária. Junto com ele, devastaram o sustento da família, o ganho-pão de dezenas de trabalhadores rurais e o futuro de uma propriedade, até então, extremamente produtiva. Restou ao proprietário pagar caro a advogados para mover uma ação de reintegração de posse e, por fim, abandonar o campo. O mérito do MST foi o de gerar mais sem-terra.


Atualmente, o MST está com os cofres cheios para multiplicar estragos no Brasil inteiro. Além de anunciar invasões, apresenta plano de metas: superar os números da jornada de 2009, quando comandou 29 invasões de terra. E avisa que, apesar de 2010 ser ano eleitoral, não haverá trégua em razão do descontentamento com a instalação da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do MST no Congresso; as denúncias do Tribunal de Contas União (TCU) sobre irregularidades no repasse de verbas públicas para organizações ligadas aos sem-terra; os pronunciamentos do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Gilmar Mendes, criticando as invasões; a ação das Polícias Militares nos Estados; e até com a mídia.


Pior é saber que as ações criminosas são patrocinadas pelo governo federal. Em outras palavras, o nosso dinheiro é usado para bancar a desumana fábrica de ilusões mantida pela organização, produzir invasores profissionais e engordar as contas bancárias de líderes pulhas. Até quando?

Junji Abe (DEM) é ex-prefeito de Mogi das Cruzes