quinta-feira, 11 de março de 2010

O perigo das grandes fusões e incorporações

Além das lições absorvidas nos bancos escolares, onde era notória a preocupação de formar futuros cidadãos – havia Educação Moral e Cívica entre as disciplinas –, a cada dia, me convenço de que sou um cidadão brasileiro privilegiado, em virtude da rígida educação que recebi dos meus pais e avós, imigrantes japoneses. Meus ancestrais cá vieram, no início do século passado, porque o Japão, empobrecido e atrasado, não lhes dava perspectiva melhor de vida e, principalmente, de constituir uma boa e sólida estrutura familiar.

Por outro lado, tinham nas raízes a filosofia budista, que prega a independência e auto-suficiência econômico-financeira, sem nunca resvalar para o individualismo e o egoísmo. Tudo, com plenas solidariedade e gratidão. O budismo ensina a não ser dependente nem incomodar os outros, já que é contra o paternalismo e assistencialismo. Aí estão os alicerces da minha formação, sintetizados nesta lição: “Amar este País, de todo coração, ajudar o povo em tudo que for possível e fazer mais pelo Brasil que os próprios brasileiros”.

Mais do que palavras na mente da criança que fui, são princípios gravados na alma do homem que sou. Isto me faz adepto da livre e sadia concorrência entre as pessoas e também no mercado – induzido, disciplinado, organizado e fiscalizado pelo Poder Público por meio de leis, normas e regulamentos. Porém, sem interferir ou operar as atividades. Entendo que cabe ao Estado, no máximo, gerir áreas prioritárias e essenciais, como educação, saúde, segurança, infraestrutura e habitação.

Ora, quando o Estado não exerce a fiscalização e o mercado, praticando o liberalismo e achando que, com a globalização, o “céu é o limite”, ocorre a escandalosa implosão em série de várias cadeias de atividades econômicas. Normalmente, deflagrada pelo setor financeiro, sob as rédeas de vorazes abusos, prejudica de forma grave e dramática os mais fracos e humildes, além de impor aos países sedes dessas instituições desequilíbrios de toda ordem. Em especial, maciço desemprego e quebradeira generalizada. Basta citar as crises: americana de 1929 e 2008; a japonesa de 1880, 1945 e 2008; e a brasileira de 1988 a 1.994 – período de inflação tresloucada.

O poder das instituições financeiras é tão forte e indutor que impulsiona não só fusões e incorporações entre si, mas também iguais transações em outros setores empresariais. Resultado: emergem os gigantes, sem concorrentes, que mandam e desmandam no mercado estabelecendo verdadeiro monopólio e prejudicando, comprovadamente, a população.


Vamos aos exemplos: Grupo Santander que incorpora o Banco Real, América do Sul, Banespa e outros; Grupo Itaú que adquire o Unibanco; Grupo Bradesco que fica com o Sudameris e BCN, entre outros; Banco do Brasil que abocanha a Nossa Caixa (do Estado de São Paulo); Grupo Pão de Açucar que se funde com Casas Bahia; Grupo Agco (americano) que agrega a Massey Ferguson e, agora, a Valtra. No campo das telecomunicações, a Telefonica espanhola quase assumiu o monopólio no Brasil, com as sucessivas aquisições de empresas nacionais e estrangeiras.

Os argumentos e justificativas são sempre iguais – reduzir custos, melhorar a qualidade de gestão e de produtos e preço mais acessível à população. Porém, a realidade é que as concordatas e falências estão na ordem do dia, os preços ao consumidor não baixam e pior, os governos têm socorrido essa organizações com verbas públicas. Portanto, com o dinheiro suado do trabalho de cada um de nós, que pagamos impostos.

No Brasil, o Cade – Conselho Administrativo de Defesa Econômica tem a responsabilidade de analisar, à luz da Constituição Federal, todos os prós e contras dos pedidos de fusões e incorporações de grupos empresariais. É fundamental salientar que a Carta Magna Brasileira alicerça-se na “Livre Concorrência”, “Proíbe o Monopólio”, “Proíbe o Monopólio Natural” (mercados de bens exclusivos com pouca ou nenhuma rivalidade e, em geral, regulamentados pelos governos) e “Proíbe o Monopsônio” (competição imperfeita com apenas um comprador e numerosos vendedores).

Vejo com muita apreensão as gigantescas fusões e incorporações irrompendo com celeridade cada vez maior neste mundo global. E, forçosamente, repetindo-se neste País. Não posso concordar com isto. Minha repulsa vem de berço e da vida, que me ensinaram o valor das pequenas e médias unidades produtivas, muito mais humanas, eficientes e que proporcionam tratamento personalizado aos consumidores. São elas, vale destacar, que respondem pelo maior percentual na geração de empregos.

Registro também a importância do associativismo e do cooperativismo, que são a união dos pequenos e médios na luta pela conquista de interesses comuns, sem perder a individualidade. Ademais, Deus, em Sua infinita sabedoria, fez as pessoas diferentes. É a diferença que nos permite a livre concorrência, a autoestima, a liberdade e a democracia. A sociedade é feita de empregados, profissionais autônomos e empresários.

Uma sociedade justa, fraterna e solidária é aquela que oferece oportunidades a todos, sem que a maioria – de pequeno e médio portes – seja obrigada a existir sob o jugo de gigantescas corporações, privada da capacidade individual e despojada do livre arbítrio que o Criador lhe concedeu.
Junji Abe (DEM) é ex-prefeito de Mogi das Cruzes

4 comentários:

  1. Esclarecimento da AGCO
    Caro Junji Abe:
    A AGCO esclarece que, diferente do que foi publicado pelo blog, no dia 11 de março, a AGCO é uma empresa de máquinas e implementos agrícolas, com sede nos EUA, que detém as marcas de tratores e colheitadeiras Massey Ferguson e Valtra, entre outras.
    A AGCO não possui “Tratores John Deere”, como o blog informou.
    John Deere é uma outra empresa do mesmo segmento.
    A AGCO solicita e agradece a correção da informação.
    Solicito seu e-mail para enviar mais informações.

    José Walter de Castro Alves, assessor de imprensa da AGCO.
    zewalter@pautaassessoria.com.br

    ResponderExcluir
  2. Prezado José Walter:

    Em primeiro lugar agradeço a visita. Peço-lhes desculpas pelo equívoco, explicando que, por falha técnica, um rascunho foi publicado no lugar do texto final.

    Esclareço que o artigo correto já substituiu o texto com a informação equivocada.

    Muito obrigado e um forte abraço,

    Junji Abe
    contato@junjiabe.com

    ResponderExcluir
  3. sou morador de itaquaquecetuba e adimirador de junji abe aqui em itaqua falta um politico como junji um homem de visao futuristica e arrojado votarei em voce junji ari ruiz

    ResponderExcluir
  4. Caro Ari Ruiz:
    Fico feliz pelas suas considerações sobre os conceitos, posturas e princípios que norteiam nossa responsabilidade de homem público. Tenha você a certeza de que a maior, urgente e fundamental transformação de que o Estado Brasileiro precisa é a reforma de ordem política.
    Um forte abraço pra você!

    ResponderExcluir