Não sou engenheiro ambiental nem biólogo ou tampouco especialista em gestão de recursos sólidos. Sou, acima de tudo, um ser humano, em pleno exercício da cidadania, que preza o direito de viver, respeita a biodiversidade e tem a convicção de agir, com todas as forças, para evitar o extermínio da qualidade de vida do cotidiano das gerações futuras no planeta.
Como tal, me sinto no dever de rechaçar, veementemente, a ideia de implantação de um novo aterro sanitário. Seja em Mogi das Cruzes ou qualquer outra região. E tanto faz que seja um empreendimento da Queiroz Galvão, do Zé ou do Mané. O fato imutável é que enterrar lixo é um sistema arcaico, extremamente danoso ao meio ambiente e um inimigo voraz da qualidade de vida. Não adianta dizer que este ou aquele modelo de aterro é adequado, porque cumpre as normas de órgãos governamentais. Isto não existe.
Para se ter noção da herança maldita de um aterro, basta citar que, esgotada a vida útil do empreendimento, é necessário desenvolver um Plano de Recuperação Ambiental (PRAD) para a área, invariavelmente gigantesca. E pasmem: o local não pode ser aproveitado para absolutamente nada por 40 anos. É o sepultamento do que foi enterrado.
Falar em aterro sanitário moderno é o supra-sumo da contradição. É tão incoerente quanto mesquinho no mundo globalizado, onde a informação trafega sem fronteiras. Já se vão mais de três décadas que outros países utilizam alternativas ambientalmente adequadas e viáveis sob o aspecto econômico.
Das tecnologias empregadas, a mais comum é a incineração dos descartes que não podem ser reciclados. É uma etapa antecedida por coleta seletiva e triagem. Em países como o Brasil, onde há produção agrícola em larga escala, é possível aproveitar a riqueza do lixo e reduzir o volume de detritos a ser incinerado. Basta submeter os resíduos orgânicos à usina de compostagem, que gera corretivo de solo e adubo para as lavouras (veja detalhes na postagem “A gestão do lixo”, de 06/10/09).
A Região do Alto Tietê – que engloba dez municípios – vive uma situação crítica para destinação final do lixo. Dos aterros licenciados, um foi interditado e o outro terá sua capacidade esgotada em curto espaço de tempo. Em reunião para tratar do assunto, os prefeitos ouviram do secretário de Estado do Meio Ambiente, Xico Graziano, a abominável afirmação de que a melhor solução para o problema é a implantação de um aterro sanitário regional. E devolveu a batata quente aos governantes municipais, que saíram da Secretaria com a incumbência de estudar áreas para acomodar o malfadado empreendimento.
Ora, poupem-nos, todos, dos contornos surreais do caso. Não faz nem três anos que Mogi das Cruzes, a duras penas, derrotou o espectro de virar sede do aterro projetado pela Construtora Queiroz Galvão. A repulsiva ideia, então, arquivada corre o risco de retornar à pauta de análises dos órgãos ambientais. De carona no drama da destinação do lixo, a empresa já havia pedido a reabertura do processo de licenciamento. Agora, somou a seu favor a manifestação do secretário.
O escabroso plano da empresa é instalar um aterro no Distrito Industrial do Taboão, em Mogi – o maior e único espaço disponível na Região Metropolitana para expansão empresarial. São mais de 12 milhões de metros quadrados, o bastante para abrigar 80 empresas, empregar 45 mil pessoas e injetar nos cofres públicos cifra anual de R$ 40 milhões referentes a impostos. Autorizar a instalação de um aterro sanitário regional na área seria macular esse horizonte com uma cortina de repulsa a outros investimentos. E pior: mutilar a perspectiva de desenvolvimento da Cidade e de ascensão da qualidade de vida do povo mogiano.
A importância do Taboão no contexto sócio-econômico não se cinge ao território mogiano. É lá que também está a possibilidade de empregos e geração de renda para habitantes de cidades vizinhas, como Biritiba Mirim e Salesópolis, onde severas restrições ambientais impedem a instalação de empresas e o consequente aumento do nível de empregabilidade.
Por todos estes motivos, a sociedade não pode ficar silente nem passiva. O que está em jogo é a vida, projetada no ambiente que deixaremos para nossos filhos e netos. Em Mogi, já foi resgatado o Movimento “Aterro Não!”, do qual faço parte, com muito orgulho e uma determinação maior ainda: vamos provar às autoridades que existe solução viável para destinar os rejeitos domiciliares sem massacrar o meio ambiente. E exigir que a Cidade e a Região tenham a atenção de direito dos governos estadual e federal.
Os integrantes do Movimento trabalham intensamente para realizar o Fórum com o objetivo de apresentar sistemas alternativos para o tratamento de lixo, envolvendo toda a sociedade no debate. Embora muitos se espantem, a adequada destinação do lixo tem a mesma importância do recolhimento e tratamento dos esgotos domésticos. Em ambos os casos, os procedimentos corretos significam preservação ambiental e melhoria da saúde pública.
Também não há que se dizer que os custos inviabilizam sistemas alternativos aos aterros. Há empresas que se propõem a efetivar empreendimentos a custo zero para os cofres públicos. E mesmo que seja necessário bancar o investimento, os resultados são compensadores. Ou alguém acha que é caro demais garantir a qualidade de vida das gerações futuras?
Precisamos conhecer tecnologias apropriadas à gestão dos resíduos domiciliares, sob os aspectos de prudência ambiental, viabilidade econômica e ganho social, para selecionar o projeto que melhor atende às necessidades da região. A partir daí, lutar pela sua execução, convencendo as autoridades a responderem com eficiência e sensatez o justo clamor popular.
Portanto, faço um apelo a cada cidadão mogiano: venha participar do fórum, engrossar o coro do Movimento, levantar a voz contra o aterro e gritar pela adoção de um sistema adequado de destinação dos resíduos domiciliares. Estendo o pleito a todos os moradores do Alto Tietê porque está claro que a solução para o problema do lixo tem de ser regional. E, acima de tudo, coerente. Até porque a Região é pólo produtor de água para a Grande São Paulo e conserva significativas porções de Mata Atlântica.
Entendo que não basta livrar Mogi das Cruzes do aterro sanitário. É preciso extinguir a prática de enterrar os descartes domésticos, dando ao lixo os mecanismos da imprescindível transformação para assegurar o ciclo da vida. Já temos a certeza na mente e os pés no chão. Agora, precisamos nos manter unidos e fortes para fazer valer nossa vontade, resguardando nosso direito ao desenvolvimento sustentável, com qualidade de vida.
Como tal, me sinto no dever de rechaçar, veementemente, a ideia de implantação de um novo aterro sanitário. Seja em Mogi das Cruzes ou qualquer outra região. E tanto faz que seja um empreendimento da Queiroz Galvão, do Zé ou do Mané. O fato imutável é que enterrar lixo é um sistema arcaico, extremamente danoso ao meio ambiente e um inimigo voraz da qualidade de vida. Não adianta dizer que este ou aquele modelo de aterro é adequado, porque cumpre as normas de órgãos governamentais. Isto não existe.
Para se ter noção da herança maldita de um aterro, basta citar que, esgotada a vida útil do empreendimento, é necessário desenvolver um Plano de Recuperação Ambiental (PRAD) para a área, invariavelmente gigantesca. E pasmem: o local não pode ser aproveitado para absolutamente nada por 40 anos. É o sepultamento do que foi enterrado.
Falar em aterro sanitário moderno é o supra-sumo da contradição. É tão incoerente quanto mesquinho no mundo globalizado, onde a informação trafega sem fronteiras. Já se vão mais de três décadas que outros países utilizam alternativas ambientalmente adequadas e viáveis sob o aspecto econômico.
Das tecnologias empregadas, a mais comum é a incineração dos descartes que não podem ser reciclados. É uma etapa antecedida por coleta seletiva e triagem. Em países como o Brasil, onde há produção agrícola em larga escala, é possível aproveitar a riqueza do lixo e reduzir o volume de detritos a ser incinerado. Basta submeter os resíduos orgânicos à usina de compostagem, que gera corretivo de solo e adubo para as lavouras (veja detalhes na postagem “A gestão do lixo”, de 06/10/09).
A Região do Alto Tietê – que engloba dez municípios – vive uma situação crítica para destinação final do lixo. Dos aterros licenciados, um foi interditado e o outro terá sua capacidade esgotada em curto espaço de tempo. Em reunião para tratar do assunto, os prefeitos ouviram do secretário de Estado do Meio Ambiente, Xico Graziano, a abominável afirmação de que a melhor solução para o problema é a implantação de um aterro sanitário regional. E devolveu a batata quente aos governantes municipais, que saíram da Secretaria com a incumbência de estudar áreas para acomodar o malfadado empreendimento.
Ora, poupem-nos, todos, dos contornos surreais do caso. Não faz nem três anos que Mogi das Cruzes, a duras penas, derrotou o espectro de virar sede do aterro projetado pela Construtora Queiroz Galvão. A repulsiva ideia, então, arquivada corre o risco de retornar à pauta de análises dos órgãos ambientais. De carona no drama da destinação do lixo, a empresa já havia pedido a reabertura do processo de licenciamento. Agora, somou a seu favor a manifestação do secretário.
O escabroso plano da empresa é instalar um aterro no Distrito Industrial do Taboão, em Mogi – o maior e único espaço disponível na Região Metropolitana para expansão empresarial. São mais de 12 milhões de metros quadrados, o bastante para abrigar 80 empresas, empregar 45 mil pessoas e injetar nos cofres públicos cifra anual de R$ 40 milhões referentes a impostos. Autorizar a instalação de um aterro sanitário regional na área seria macular esse horizonte com uma cortina de repulsa a outros investimentos. E pior: mutilar a perspectiva de desenvolvimento da Cidade e de ascensão da qualidade de vida do povo mogiano.
A importância do Taboão no contexto sócio-econômico não se cinge ao território mogiano. É lá que também está a possibilidade de empregos e geração de renda para habitantes de cidades vizinhas, como Biritiba Mirim e Salesópolis, onde severas restrições ambientais impedem a instalação de empresas e o consequente aumento do nível de empregabilidade.
Por todos estes motivos, a sociedade não pode ficar silente nem passiva. O que está em jogo é a vida, projetada no ambiente que deixaremos para nossos filhos e netos. Em Mogi, já foi resgatado o Movimento “Aterro Não!”, do qual faço parte, com muito orgulho e uma determinação maior ainda: vamos provar às autoridades que existe solução viável para destinar os rejeitos domiciliares sem massacrar o meio ambiente. E exigir que a Cidade e a Região tenham a atenção de direito dos governos estadual e federal.
Os integrantes do Movimento trabalham intensamente para realizar o Fórum com o objetivo de apresentar sistemas alternativos para o tratamento de lixo, envolvendo toda a sociedade no debate. Embora muitos se espantem, a adequada destinação do lixo tem a mesma importância do recolhimento e tratamento dos esgotos domésticos. Em ambos os casos, os procedimentos corretos significam preservação ambiental e melhoria da saúde pública.
Também não há que se dizer que os custos inviabilizam sistemas alternativos aos aterros. Há empresas que se propõem a efetivar empreendimentos a custo zero para os cofres públicos. E mesmo que seja necessário bancar o investimento, os resultados são compensadores. Ou alguém acha que é caro demais garantir a qualidade de vida das gerações futuras?
Precisamos conhecer tecnologias apropriadas à gestão dos resíduos domiciliares, sob os aspectos de prudência ambiental, viabilidade econômica e ganho social, para selecionar o projeto que melhor atende às necessidades da região. A partir daí, lutar pela sua execução, convencendo as autoridades a responderem com eficiência e sensatez o justo clamor popular.
Portanto, faço um apelo a cada cidadão mogiano: venha participar do fórum, engrossar o coro do Movimento, levantar a voz contra o aterro e gritar pela adoção de um sistema adequado de destinação dos resíduos domiciliares. Estendo o pleito a todos os moradores do Alto Tietê porque está claro que a solução para o problema do lixo tem de ser regional. E, acima de tudo, coerente. Até porque a Região é pólo produtor de água para a Grande São Paulo e conserva significativas porções de Mata Atlântica.
Entendo que não basta livrar Mogi das Cruzes do aterro sanitário. É preciso extinguir a prática de enterrar os descartes domésticos, dando ao lixo os mecanismos da imprescindível transformação para assegurar o ciclo da vida. Já temos a certeza na mente e os pés no chão. Agora, precisamos nos manter unidos e fortes para fazer valer nossa vontade, resguardando nosso direito ao desenvolvimento sustentável, com qualidade de vida.
Junji Abe (DEM) é ex-prefeito municipal de Mogi das Cruzes
A luta é de todos que gostam e vivem em Mogi das Cruzes, ainda bem que temos políticos com a sua sensibilidade e força para podermos vencer estes obstáculos.
ResponderExcluirMuito bom esse artigo e concordo que devemos praticar a sustentabilidade.
ResponderExcluirPrefeito Junji,
ResponderExcluirAntes de tudo parabéns pelo blog. Tem ótima qualidade de texto e um visual clean e profissional.
Gostei bastante.
Sobre o aterro, me surpreende saber que as discussões voltam a considerar o distrito do Taboão como possibilidade... Além das causas bem citadas pelo senhor, existe a questão do solo que recebe uma das nossas principais atividades produtivas: o cultivo de frutas e de flores.
Por que será que antes de pensarmos em enterrar lixo, não trabalhamos questões como reuso de materiais descartados?!? Com a redução de resíduos, empresários conseguem ver retorno financeiro num curto espaço de tempo, eliminando ou minimizando os impactos e danos ambientais provocados pelas suas atividades produtivas.
O lixo doméstico?!? Cooperativas de reciclagem bem estruturadas podem também lucrar com ele.
Enfim, acredito que não podemos enxergar como "cavalos e seus tapa-olhos"... Existem alternativas que vão além do aterro.
Um abraço e sucesso com o blog.
Ana Maria
Parabéns pela iniciativa de colocar esse canal de comunicação... tenho o senhor como minha fonte de formação de opinião sobre as coisas da cidade que tanto amo. Um abraço e muito sucesso!
ResponderExcluir